"Quando nasce o amor, em si,
renasce, pois, nas coisas
e as cores são cirandas..."
Osvaldo Fernandes
sábado, 21 de março de 2009
Heroína ausente
Enquanto presença não havia
ainda assim, a ausência esvaía
Seria um magnetismo?
Que por vezes,
espertar-me-ia
saudosismo?
Vezes mais
esmorecer-me-ia
com minhas lembranças?
Ahh! Minh'alma, d'antes vazia
- sem saída -
Que sentia a falta que a falta fazia
e hoje, não faz,
pois na presença
de ti, ou da poesia,
é minha ilíada
É minha paz.
És minha ilíada.
És minha inteira e terna paz.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Faixa de pedestre
Desatenção!
Faixa de pedestre
Andar arcaico e silvestre.
O mundo não girou.
Nem o próprio pedestre.
À leste da faixa, que já não há!
Pôde compreender o apagão.
Decepção.
Entardeceu.
Mas não anoiteceu.
Só pra quem esperou.
E a sarjeta enfaixada.
Perdeu sua função.
Imaginação
Estrutura.
Que não se vê.
Não se sente.
Bela arquitetura.
Tudo que nos mente.
Holograma real.
Está e não está; é.
Não deixa de estar sendo.
Luz e sombra estrutural.
Tão arquitetônico
a produzir na penumbra
brilho débil, mas cômico
ao ver e não enxergar
quando deslumbra;
ainda que sentir
quando deveras vislumbra.
terça-feira, 17 de março de 2009
Pés atados
Os sabiás voam.
A meia esfrega os pêlos
O anil cai sobre a vida.
Entoa.
Sem garrida.
Um tosco ruído.
A comparar o tiquetaquear.
O pé e a meia marcham.
Pra todo lugar e lugar algum.
- "Pra lá. - Pé direito.
- "Pra cá." - Sinistro.
Cotidiano.
Caminho nenhum.
Apenas um.
Rumar o rumo.
Lentamente. Com o relógio.
- Toc, toc..tic...tac.
Sempre descompassado.
Ah! Boa aventurança!
E a meia.
Há anos no pé:
Esperança.
segunda-feira, 16 de março de 2009
Teu corpo
Ah! O teu corpo!
Fogo deleitante.
Teu corpo, espuma delirante.
Teu corpo é a volúpia incrementada.
É vontade desvairada.
Teu corpo é imaginação.
Caleidoscópio de cheiros; sensação.
Sugo-lhe com beijos, tatos e mãos.
Sorvo-lhe em carinhos; tensão.
Teu corpo é rock pauleira!
Teu corpo é new wave.
Sempre me teve,
Grácil como a leve aterrissagem
Dos beija-flores nas amoreiras.
Teu corpo é tudo que desejo.
Um enlaço insano que almejo.
Que alvejo.
Toda noite nos lençóis.
Que me prendem.
Lambem-me.
Teu corpo, suculento e algoz.
Teu corpo é-me devaneio.
Quando o tenho em mim, assim
Sinto-me dormente.
Tesão sem fim!
Pede para que relaxe e por ti goze -
Enfim -
Teu corpo tornas o meu
Apoteose.
Rabiscos no coração
Desenhei meu coração
com a tinta de minh'alma
ao terminar: calo na mão;
Na tela pronta: uma vivalma!
Não entendi muito bem
Por que esta pintura?
Meu coração pulsara esta figura?
Daonde saíste, meu bem?
As linhas perfeitamente traçadas
A boca, tão etérea e suculenta
No semblante, a risada
Tão serena! Calorenta!
Logo entendi
O que pintei ali!
Não era meu coração
era apenas a ternura
da princesa
que com candura
tivera minh'alma à mão.
Alma do ser não rebelde
Esta praga revel radioativa
Ferem a todos os seres probantes
Perecem tão mortas as almas vivas
E os nimbíferos pássaros cantantes
Imbui toda raiva preocupante
O ser que d'antes sorria contente
Ao liberar desconforto irritante
Transforma-se em pedância imponente
Su'alma lhe corta abruptamente
Os venenos vorazes que lhe empurram
Ao vazio deste ódio fervente
Dos mouros mentecaptos que esmurram
O espírito se solta e se alegra
Quando a alma, triunfante, o reintegra
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