terça-feira, 30 de junho de 2009

Bailar-te-me



Danço-te: - Os pés cambaleantes:
seu trejeito é prazer da memória;
passo a passo, meu sorrir d'outrora;
na canção que se toca constante...

E me toca, de fato, oscilante
tal acorde que adentro me chora
e me verte em coréia, embora
perdido é teu passo marcante

E nostálgico, como na infância
onde bailei sereno e amigo
o velado amor que se fez dança!

Qual agora sei-te-me no abrigo
a meu lado, te mento em pujança,
a dançar esta dança comigo...


segunda-feira, 29 de junho de 2009

Do amor que se passou



Pois quando me chamou pra ser amigo
deixei que enfim pudesse me explicar,
há muito se olvidou, pois já não ligo
percebe esta clareza em meu versar?

Se não, peço desculpa a ti por ora
Saiba, que até mesm'ante a explicação
como talvez pulsasse em mim, outrora
não pulsa mais por ti, meu coração

Então procure abrigo em outro ser
Tenha-me como amigo meramente
Espere outro rapaz lhe apetecer

Pois se já não me esquece facilmente
Saiba: é tudo graças a você
que fez-me eterno em ti, completamente.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Paráfrase em Pessoa


Quis dizer num saino verso
todos os meus ais
eis que não me fui capaz
de, como tal, lê-lo...

E o inverso
foi sentido;
não o escrito com zelo
da razão!
Mas um novo
qual não se pode tangê-lo,
senão com o coração...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Voo espalhado



Doravante!
Adejo-me ao paraíso anil
Espalho meu voo
por sob o sentido da vida!

Um pardal me acompanha e, presente, ri.
Vejo-me implume
e percebo-me haver!

É quando o astro-rei,
de forma vil,
liquefaz a realidade
com seus chifres queimosos!

Despenco,
tornado às minhas quimeras.
Nelas, me cubro de anil
e sou paraíso.

(Imagem de Bianca Muzillo)

sábado, 13 de junho de 2009

Embora de mim...


Se porventura quiser ir agora
deixe à memória, imagens de candura
viagens de brandura qu’em outrora
fazia a aurora incender minha cura
em suas juras de amor que desarvora
e chora, por não ter sido mais pura
e ri de minh’amargura que aflora
por ora, enquanto prendo-me em agrura
que dura tanto!.. Um pranto que deplora...

E decora-me a face com brochura
e fura cada linha dela, embora
o que apavora é uma imagem dura
que apura minha ferida e colabora
a entrar outra senhora - que me acura -
qual minha augura almeja e comemora
e quebranta pra fora da cesura
a armadura que dentro você mora

A tora sem seiva da nora impura
da mãe-cultura que me imbui e colora
de linda vida que agora é alvura
que lhe censura em mim; desincorpora
e então cá fora, traz minha brandura
que a essa altura, lhe esquece por ora
e adora tê-la longe e lhe conjura:
À aviltada clausura;
à seiva que dessora;
a minha andadura
que me faz ir embora
tal qual a desventura
que me impeliu outrora!...

domingo, 7 de junho de 2009

Naufrágio



Ah! Tanto que lubrifiquei minh’alma
Velejei na palma a vida andarilha
Que perdid’em amor, cedeu sua quilha
Descontrolada ao passo que o terror
Que roga, impele, afoga, e tira a calma
Desalma o amor e me naufraga em dor

Ah! Tanta dor que ao futuro me tolhe
Pois inda me desejo o amor que acolhe
Dum rés passado vil, de temporais
que num pingo colheu todos meus ais,
e n’outro me escondeu no meu convés
confesso, é este por ora meu revés

E o barco da vida prossegue mal
De fato, sem amor, porém com paz
Que faz, duma tormenta, evadir ágil
Trincado, pois, audaz, segue-me a Nau
Que tão irreal, se reputa incapaz
De vir à superfície pós naufrágio...
Pois acha-se Nau frágil e se endura
E abissal lembra: é ao-mar que traz a cura!...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Meu Eu Pardal


Deixo-te acompanhares
qual revoada que me apanhares
voando, à Pasárgada nossa
para que voar, também possas

Deixo-te minha vivacidade
qual espalha o sentimento
por sobre esta distante cidade
que se estreita, ao sentir-te num adejar ao vento..

Dou-te o alento
que necessitas
debruo-te, e palpitas
no meu batimento...

Dou-te-me todo
e todo meu engodo;
meu chilro elegante!!
Dou-me, a ti, ao vento
num céu
doravante...

Dou teu sonho de céu
deserdado de tormento...

Simples assim


Assim
em meus lábios
macia, cheirosa e gustada

Assim
em meu nariz
molhada, quente e passada

É ela:
vontade desvairada.

Tarde demais


Quando a manhã grita
em resposta ao espreguiçar,
os olhos fortuitos que a fita
também fita o desejar

O sonho se prolonga
em salpicos de euforia
e sem mais delonga
cobre a alma,
com o véu da alforria.

Em si, toda essência arde.
Num fritar de paz
e de luz, põe-se à tarde...
Tarde demais!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Guerra; Paz

 
A guerra do meu ser então poeta
é ter a paz, senão obra completa
mesmo com verso vil que foi vertido
nos sons rasos do obus então subido
que ao cair na folha explode a verve
e toma o anonimato que não serve
àquela guerra que me foi imbuída
ao ter-me sabido só, um cavaleiro...

Primeiro e bem ferido, pois, melhor
que o vilão que verseja o lisonjeiro
sempre me procurado em toda vida
e ao guerrear por minha paz já tida
bolino a guerra que se faz pior...

E a inspiração se posta por algures
quando em frente à guerra posta o vilão
na estrofe garrida sob abajures
que brilham um emanar; decepção...

É quando o cavaleiro melancólico
bruxuleia incessante sua lira
não há, pois, anonimato que o fira
quando os seus versos saem diabólicos

N'outrem su'obra punge mais e mais
é quando a guerra acaba, e temos paz.