segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Eu Quero



Eu quero tua vontade; a mais escandalosa.
No teu sorriso, o infinito
mais vasto e bonito:
um lago donde não haja margens.
Quero gargalhada polvorosa!
Degustar todas tuas imagens!

Eu quero tua careta mais estranha.
Aquarelada de sulcos de manha!
Por toda lindíssima manhã!
Quero a loucura em teu elã!

Quero, e quero muitíssimo,
de um orvalho mais lídimo,
a tua boca, mais molhada;
mais tremente de luxúria;
mais falante de saudade!
Quero dela o beijo em fúria!
Quero beijar-te em eternidade!...

Eu quero o teu coração
descontrolado em demasia!
Quero teu arfar
mais infinitamente perdido,
de alegria!
Quero pulsá-lo poesia!
Quero cantado, ouvido
ressoado em melodia!

Quero andar junto ao teu andar..
e não tropeçar pela nossa diferença.
Quero amoldar
numa sinfonia, os passos;
da nossa presença!
Quero, dos teus pés, um largo abraço.
Quero-te até na infinda ausência!...
No caminho mais lasso!
Quero calos de benquerença!

Quero estar sob o polvilhar brilhante
de quando vir mexerem teus ombros.
Quero estar ali, dentre os escombros
de meu Abrigo-Luz, de minha Fortaleza!
Quero ser livre pra te morar!
Sem ter, nem mesmo, certeza!

Quero poder entrar, sem sermões
insolitamente, aos teus olhos
Ser, por eles, sugado
e nunca mais poder sair!
Quero pintá-los constelações!
Quero, amada, te sentir
em minhas lágrimas como etéreos clarões!

Quero-me toda alma te impelir!
Quero teu corpo; meu calabouço.
Ser detido, cativo, aprisionado...
Quero-me em ti,
completamente impregnado!

Quero, em tua alma, meu Sonho de Paraíso;
meu eu mais liberto, mais genuíno, mais liso!
Quero me ver quando te chamo!
Quero toda impressão
que nem como poeta teria.
Quero comichar teu coração!
Quero dizer o quanto te amo
e o tanto que amaria!
Quero gritar que tu existes!
Quero chorar porque tu insistes
infiltrar-se em mim.

Quero, sem estacar de querer!
Quero da fruta mais doce; a inveja azeda!
Amagurada! Treda
pela tua existência!...
Pelo teu sabor!
Quero-te tanto, Prima-Flor!
Quero saber-te, em fereza,
teu inestimável olor
o mais perfumado da Natureza!

Quero estar menos ontem,
muito hoje e mais amanhã;
Quero todo o atemporal de meu afã!

E que o mundo inexista
com toda complicação contida nele
quando em contigo!
Que não haja mais luz!
E que em toda imensidão escura
eu possa ver o pleno amar
a brilhar, sereno
nas constelações do teu olhar...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Ciclo


Assim eu quero o último suspiro:
Soprar fúria; raiva de amor tremente
Como quem solta ao ar, e apanha ausente
De escuridão, a luz que lhe confiro...

Assim quero explodir tudo que inspiro:
Forçar-me a boca morta e ineloquente
Tossir de paixão louca e efervescente
Ouvir o amor no som que vier dos cílios

Piscar, quando os abrir na sua frente
E assim lhe eternizar; fotografia!...
Prendê-la à mente num último flash

E quando vir o meu cílio palente
Saber que lhe fui, d’olhos, poesia
Que no meu ciclo a amei... e agora o fecho...

Pular


Pular! Pular incrivelmente alto!
Cair no asfalto, então, ser aplaudido
Produzir sismo, ou simples alarido
Tivera amor?
- Amar sem dar um salto?

Cair sem pretender nenhum ressalto.
Avante, sem sentir ter-se caído
Cair, sem nem mesmo ter-se instruído
E quando em dor?
- Ser-me dor a ser falto...

Pular, saltar, direto para a vida
se ter enternecido na ribalta
Por que rapaz!?
- É o amor de mim, peralta...

E mesmo se cair, em meio ao povo
Morrer de rir, então saltar de novo
Por que se faz?
- Pular é divertido!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ir


Ir para se onde for, sem mesmo olhar
e quando olhar, saber por que está indo
sorrindo, sem nem mesmo se lembrar
andando, até sangrar, se haver sumindo...

Ir, e singrar sangrando sal ao mar
e ver todo seu sangue se extinguindo
espargindo nas Ondas do Amar
e se expiar da vida em se esvaindo...

Ir, e se aproveitar toda paisagem
se então lembrar-se da ausência de cor:
aquarelar avante a sua viagem...

S’inda vier à mente toda dor
sentir a vida branda agir na aragem
e ter-se ido, enfim, de encontro ao amor!...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Reunidos e eqüidistantes


É na lua
que sinto o toque
da tua existência.

Reflete-me a concomitância.
E por que não, tua essência?

Alumio-me dum sonho, contigo!
Faço-o engrenagem do porvir.
Tão tátil como o toque airoso
do seu ser em meu espírito.

Faço da alma uma pelugem de luz
que se emaranha por entre a tua.
Os céus inflamam de inveja desta criação:
haver-se-á luz!...
Como jamais houve!

Faço ter-me amoriscado
sem ter mesmo enamorado!
E indo, vou--
“- Vou ter contigo!”
Diz-me a lua.
Codificando sua rutilante presença
em amor lídimo.

Volto a fitar a lua,
sobre a pedra que sustenta meu corpo.
Volto a finar à lua,
o insólito voo de minh’alma.
E cá, presciente e sentado,
inda reflito nua
tu’alma
[nossa alma...
A reluzir, tautócrona.

sábado, 15 de agosto de 2009

Meu Sonho Perfeito


Sonhar! Sonhar muitíssimo perfeito!
E debruçar por sobre as suas pintas,
Meu Sonho... pintado co’a melhor tinta!
Sonhar com suas luzes no meu peito!

Sonhar e atar, apaixonadamente,
nos ombros apolínicos, que dentre
as perfeições das linhas do seu ventre
macio, repouso perdidamente...

Sonhar!... e como nunca sonhei antes!
Fazer do sonho de pureza infante
maduro e resistente como aço!

Ah! Sonhar! ...e acordar sem acordar!
E quando o mundo em volta nos chamar,
sonhar de novo em tê-la nos meus braços!...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sinfonia


Arpejam-se.
As notas luziluzem no interior das caixas.
Num instante; um silêncio puro.

O ouvir é tanso;
o sentir é tenso;
a arte é mansa,
como são mansas as notas
que se compõem na aragem:

O dó, é tão diminuto como a coragem;
o ré, avança esganiçado
esperando o sol fazer-se acorde;
e, aos ouvidos, o acordo canta,
os lábios mordem-se;
como se mordem os elogios que se encantam.

As sobejas notas outras
se guardam em segredo
como se lhes guardam as bocas.

E, quando libertas, se anseiam
e se contemplam numa plena melodia:
Nossa conversa; o bem-sonante
e mavioso acorde – concomitante –
duma bela sinfonia.

Preenchendo-me


E o vazio me impregnava
no transpirar
de cada eco
de minha escada...

E se bramava
pé ante pé;
a Solidão...

E como nos sonhos
cada passo
era desandar
à Besta, o abraço;

Correr, a acelerava.
E se parasse
ser-me-ia engolida...

É então que me acordo e percebo:

Nasce de mim
como se nascem anjos,
o alvedrio de tornar dum pesadelo
mais um ser
a preencher;
todo meu Sonho!...

Como meu dia-a-dia,
meu hoje, minha vida:
Ver na poesia
meu poeta;
minha própria companhia...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Aljôfar


Visto-te! Ó Musa!
Bordo meu fraque de versos
no melhor sonho; (tecido...)

E o paletó
é o sol maior
que plana do soneto
e se embruma em pequenos lumens..

Ó! Musa!
Desvisto-te-me à lira!
Que infindo deslumbre!

Tento encontrar
teu aljôfar
num Oceano...

Seria como achar
na imensidade de tu’alma,
um mim, timbrado...

É quando em arroubos,
meus olhos poéticos marejam.
Despeço-me do melhor floco de orvalho
que goteja no Oceano...

E no meio do imane salobro
sinto o átimo doce
a molhar toda minha roupa...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Agradecimento


Ao que parece, venho sido benquisto pelo bel mundo literário. Fito leitores de todo canto entranhando-se às poesias aqui postadas. Decerto que titubeiam nalguns versos, quando estão a bailá-los com olhos céleres, porém com uma dose de vigor e profundidade, não hesitarão terem-se tateado cada verso aqui composto.

Há algum tempo, escrevi "É Quando Fecho Os Olhos", uma prosa poética que aclararia a sensação que me faz escrever. Verazmente.
Esta sensação - um ouvir incessante - não tem forma, nem cor, nem sabor, odor ou som. Não está a capricho de quaisquer sensações cônscias que me pode ser descrita; e ainda está! Entretanto, é insciente, como um fremir informe que retumba até que eu estaque a descrever. Não a ponho em negação e, talvez, não a represente perfeitamente.

A propósito, como se consegue ouvir e descrever um silêncio folgaz? Ou um não-manifesto insípido, ainda que tão apetitoso?
Tenta-se, e tenta-se. É a arte do hiato interior que se representa! E é o que apetece!

Portanto, peço desculpas pela infixidez dos versos compostos e, enternecido, venho agradecer a todos os leitores que por aqui passam e femençam 2 minutos de seu encarecido tempo para sentir quaisquer poemas aqui postados.

E que fique na mensagem supracitada, ao menos, o singelo sinal do meu prazente carinho por todos os leitores. Afinal, o que seria do vazio, não fosse sua busca pela completude!?
Assim, lido, me completo.
Obrigado.

Osvaldo Fernandes

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A Cimitarra



Suplicando ser investida:
avançar, pura e cortante
e talhar, insanamente
a linha berrante
duma carne incandescente,
de, metal, desprotegida;

Ceifar-lhe em densos sulcos
e se lhe haver embebida
do sepulcro;
Regozijar o exangue ardente...
e espraiar das vísceras pampas,
o sangue, per se tanto encovar...

E na cor que se renovar;
brilhar a champa,
em carmins raios de sol!
Farfalhar, tornando escol
quem em anos tantos, lhe empunha
e com esmero lhe acabrunha...

Duelar com a fronte,
doutra luzida em guarda-mão;
ser brilhosa, soltar-se em clarão
quando aos trapes e fagulhas!
Despontada ao horizonte,
refletir-se no pombo, que fita e arrulha
um purpúreo pranto de revolta;

Se embotar, posta de volta
relembrar, já embainhada
que investida puramente,
perfurando, faiscando n’outra espada;
viu-se em carne desalmada,
viu-se brilho de rubim!...
encovilando e, foscamente,
maculando seu talim!...

domingo, 9 de agosto de 2009

À poetisa dos olhos verdes


Ó! Poetisa, amante da poesia!...
a nós, esplende os olhos e recamas
este sarau, assim como qual amas;
inspira, em versejar; belezaria...

Não há poeta que, sequer, não faça:
deixar-se inspirar pela tua presença,
deixar-se-lhe imbuir todo em querença;
não dedicar um verso à tua Graça!

Como se estrelas fossem esmeraldas
são teus olhos, assim, tão verdejantes
que Deus, p'ra todo Universo, agrinalda...

Medito aos céus; enlevado ao Universo!
Um cometa irrompe a verde calda;
é a tua beleza que me balda em versos...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ser Poeta


Ser poeta é descrever
o indescritível
é saber sem mesmo
saber!
É dedilhar o esmo!

Ser poeta, é sentir;
despir-se dos sonhos
deixando nua a alma...

Ser poeta é engrinaldar a calma!

E de todo sabor desconhecido
que se não mostra nem salgado,
azedo ou amargo;
saborear...

Como algodões-doces
que gusta à língua
dos olhos!...

Como atufar íngua
que entorpece
e explode à folha
que, com tinta, tolho,
toda alma...

Ah! Se poeta não fosse!
Sobrar-me-ia à míngua...

Vida: O salto pra morte



Invisto à gravidade, pelo prédio
e a cada andar que vejo, me é tão rápido
não dá tempo pra que algo seja sápido
e isto me seca à boca um voraz tédio...

Tombo em profundidade para a morte
Se ao me empoar no chão, terei pensado
se os braços, adejei, determinado?
Ou desejei que voar fosse sorte?

Mas quem, de fato, consegue voar?
Implume? Como não poder cair?
Se à vida não conseguimos fugir;
se o tombo, independente, haver-se-á?

E a vida arquitetada no edifício
o qual me salto, com asas de chumbo
na certeza total que, ao ar, sucumbo
mas não mi’a energia para o ofício...

que é viver para a morte, assim, saltante
sentindo o vento forte como aragem
admirando todas paisagens
e assim fazer meu fim, bem mais distante

Por se saber mais sápida mi’a vida!
E por tocar, o vento, no meu peito
esta energia, eu sinto, porque aceito
a morte, a me esperar; não mais temida...

E o tempo já não passa como outrora!
É tudo tão mais belo e colorido
em cada andar que fito, enternecido
reflete o etéreo lume de mi’a aurora...

Que dura o tempo que eu chegar ao chão
e enquanto não chegar, vou poetando
cada segundo, até que, em me empoando;
morrer não afetará meu coração...

sábado, 1 de agosto de 2009

Solidão


Como filhote de olhos rutilantes
que afago com amor e lhes desejo
o lume que me alumbra (de sobejo)
é a solitude que se faz atuante

Viceja em minhas eras, sem limites
meu vácuo quebrantado em amiúde
transforma parco, sem mais atitude
meu ser, que em solitude, se admite

Filhote meu que ladra ineloquente
e se és tão racional quanto as carícias
- desvelo... mais parece excrementícia! -
que comporias o ânimo abducente?

Que me gatunarias meu furor
deixando-me impotente em todas eras?
A sarna do amor, também alteras
em vil vazio, a coçar cabal dor?

Mil vazios de completa pelagem
é assim que a solitude se alumia
e faz varrer, de mim, como um cão guia
meu eu, em me tirando a alunissagem...

E não mais brilho em mim; nem como lua!
Nem como estrelas... me torno penumbra
não mais viajo e toda vida é úmbria
debruada em minha solidão crua...

E ao me iludir e se ter afagada
mi'alma se fez canil, assim tão só
e até meu fim... até que eu vire pó
levar-te-ei, de mim, minha cachorrada...