"Quando nasce o amor, em si,
renasce, pois, nas coisas
e as cores são cirandas..."
Osvaldo Fernandes
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Quando o Amor Fala
Eu perturbei: "- Fala-me o que é bonito?"
E ela respondeu, cauta: "- Não sei!"
E seu talvez ma fizera infinito
por toda dubiedade que incitei...
Eu me indaguei: "O que posso, o que sei
sobre o que é bonito?" E se bendito
fosse o Não Sei, também seria lei
Como são leis os, sim e não, finitos?
"- Não sei!" - Ela falou, e eu, parado
achei que suas palavras eram loucas
Mas vi que o que era belo que era errado!
Mas hoje o que sei, é o que não sabem
que quaisquer frases ditas da sua boca
são tão belas que à beleza não cabem!...
Suicídio Lírico
Basta! Eu prefiro, rápida, mi’a Morte
Mas não porque a vida, em si, não valha
Enquanto, lentamente, ao corpo talha
pode ser, comandá-la, a única sorte...
E por sorte, não precisa ser forte,
nem lenta minha morte. E a mortalha
n’olhos dos Sangues meus, os estraçalha
ver timbrada ao Além;... meu passaporte...
Que venha logo todo este negrume!
Vejo-me caminhar afora ao lume
retirando meu sopro do Universo...
Que venha! Venha em morte ou venha em verso!
E faça do suicídio meu acesso
a entrada para o literato Nume!
Choro de Libertação
I
Chore! Deixe que toda su’alma role
pelos pântanos de um semblante fel
e ver-se-á arqueada sobre o cole
refletindo cor neste negral léu
como reflete o arco-íris no céu.
Deixe que su’alma umidifique, molhe
e empoce de esperança. Deixe! Chore!
Transforme a lama em Ilha de Bornéu!
Que sei, desejará singrá-la toda
como quem navega à felicidade
ainda que, lá atrás, sua mocidade
desejasse vogar por toda boda
de papel, de diamante ou de platina.
Chore! Faça o teu mar livre! Menina!
II
Sente, o vento aliseu, na singradura?
Bem saiba, mi’a menina, é a esperança
é toda liberdade da bonança
que vicejou em sua semeadura.
Sente, nas ondas, sua vida pura
manumissão e toda aventurança?
É o balançar de quando era criança
e amava, sem perturbar-se em clausura.
Agora, a navegar, no próprio choro
d’alma; não aceitará um desaforo!
Desbravará o mundo que não viu...
Navegue o choro da libertação
e deixe para trás, toda ilusão
Levantando sua vela ao esposo vil!
Chore! Deixe que toda su’alma role
pelos pântanos de um semblante fel
e ver-se-á arqueada sobre o cole
refletindo cor neste negral léu
como reflete o arco-íris no céu.
Deixe que su’alma umidifique, molhe
e empoce de esperança. Deixe! Chore!
Transforme a lama em Ilha de Bornéu!
Que sei, desejará singrá-la toda
como quem navega à felicidade
ainda que, lá atrás, sua mocidade
desejasse vogar por toda boda
de papel, de diamante ou de platina.
Chore! Faça o teu mar livre! Menina!
II
Sente, o vento aliseu, na singradura?
Bem saiba, mi’a menina, é a esperança
é toda liberdade da bonança
que vicejou em sua semeadura.
Sente, nas ondas, sua vida pura
manumissão e toda aventurança?
É o balançar de quando era criança
e amava, sem perturbar-se em clausura.
Agora, a navegar, no próprio choro
d’alma; não aceitará um desaforo!
Desbravará o mundo que não viu...
Navegue o choro da libertação
e deixe para trás, toda ilusão
Levantando sua vela ao esposo vil!
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Casquejando a Alma
Amo-te: - A minha chaga se revulsa
por cada toque favo da tua boca!
- E quanto mais babujas-me tu expulsas
d’alma a cesura de pústulas ocas...
Em todo nosso amor, a alma propulsa
e a insalubridade se faz louca
no coração sadio, que ora pulsa
embevece minh’alma n’ora outra...
Sinto-ma inspirar um fausto carme
um misto de minh’alma, e de desejo
Desmedido por teu jeito; teu charme...
Casquejo o imo, e as mãos em sacolejo
escrevem-te do amor de impulsonar-me
e salutar-me a vida com teus beijos!...
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Ao Coração de Euterpe
Vis Poesias, ao seio de Euterpe
A folha embaraçai: frade impressões!
Não mais ouvireis vossos corações
pulsados dum lirismo torpe, serpe!...
Vis Poesias, liras de ilusões
externai-vos dos seios - inda inertes -
esboços de creions não tão solertes
que finarão, sem comiserações!
Poeta, o Rubro-Oco, traze na frente!...
A pulsação dum canto divergente;
bem tenta neste músculo flautar!
E traze atadas, tuas poesias!
E toca Euterpe em tua anagogia
no angelical solfejo de criar...
domingo, 18 de outubro de 2009
Olhares
Olhares que se encontram; duas fagulhas
Eu encantado... Ela sentada... e queimam
Sensações pela espinha; e se borbulha
desejo; o caldeirão das guloseimas...
O Doce pronto, é o fitar que marulha
o mar de amor fervente. E ela requeima
Co’olhos já interessados se debulha
nos meus, e nada sou mais que guleima...
Olhares que se encontram num momento
E apetecem os sonhos absortos
Se tornam comestíveis sentimentos...
Se num olhar, nós dois, temos conforto
unido à fagulha do afeiçoamento;
já sinto vivo, o amor que estava morto...
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Às Almas Presas Nas Cascas
Fomos, eu e o escritor, passar a limpo
uma alma rabiscada, um parvo esboço.
Fiquei, das qualidades, no garimpo,
da crítica, o escritor foi-lhe um acosso!
Acossamento pobre, um tanto ímpio
lascando a casca d’alma, até o caroço.
Eu redigindo o belo, a pego e chimpo
nesta alma, então transfaço-a ao meu remoço...
Tal alma rufla livre, liberal!
Bem emplumada como a de um pardal
co’a casca aveludada dum arminho!
Dantes presa ao escritor: seu vil gaiolo
Refiz-lhe arte final, dum esboço tolo
E desta casca... voou um Passarinho!
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Aquele Olhar Pausado
Ah! Aquele olhar pausado, cruciante
como espada troiana, excelso e rico
invade e prende, como paro e fico
esperando que rasgue, lacerante...
Todo arcabouço d’alma, em béis salpicos!
Soltam-se, qual cavalaria errante
e vão, teimosos, vão! Não obstante
se estacam nas ramas dos namoricos...
Horto, donde se pastam; piqueniques,
donde se bebem sangue borrifado
do cerne de minh’alma, a ti, fitado...
Ah! Aquele olhar pausado e de chilique:
Histérico é o prazer de entrá-lo, sê-lo!
E nunca mais sair, cego por tê-lo!
Nas Asas da Saudade
Setembro voou
levando nas asas da saudade,
o amor...
Outubro, ainda permanece
num pouso nostálgico
à lembrança do amor
n’emplumado Setembro...
E Novembro, já caloroso
gorjeia aos céus - tal como a cotovia -
a canção de juntá-los
em qualquer de seus dias...
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Desbravador
O poeta é desbravador
percorre veemente
o ândito das dores
e dos amores silentes
nas estradas calmas;
É quando se torna
vária lira desenhada
de quase todas as almas...
Desmemória
Narrei custoso em verso os meus anais
Quando a dificuldade? E a nitidez?
Só fiz, pois, em palavras cambiais
não as quais encaixotam duma vez...
Os meus anais se foram, e os meus ais
são-me as memórias em embriaguez
Um mar se volve por dentre os meus cais
Onde esqueci, poeta, o que me fez?
Palavra voga ao mar de esquecimento
Ondas tépidas vêm-me em desalento
E o eu poeta baldo implora à Lua:
Que venha! Venha logo, maré cheia!
Ó Lua! Energiza e titubeia
O mar do esquecimento que me amua!
O Som Que Tu Não Falas
Que venha a mim o som que tu não falas
como catarse imane, ferozmente...
Que me venhas! E o coração tremente
falar-te-á na boca o que me calas...
Que me venhas, e venhas sem remorso
pulsar-te-me, num candente semblante
bailar-te a alma nos lábios, balbuciantes!
Traze na voz o som do sonho nosso!
Que me venha, per ti, versos jucundos
E se calares como d’outra vez
abrasarás nos pampas de tua tez
o falatório de teu eu profundo...
Que berra imaculado do teu leito
e tu, que o ignoras, se atraiçoas
mas nos suspiros dados, se reboa
o amor por mim, ferino no teu peito!
Canta-me! Quero tanto a melodia
pra despejar a poesia tua
e descrever, na face alva da lua
toda impressão da tua gritaria
no ínfimo dos olhos, a te ouvir!
E ouvindo versarei, iluminado
sentado à lua, qual fosse ao teu lado
vendo-te muda, o Amor me proferir...
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
O Impulso Perene
Amar: desejo que não se desfaz
Em toda vida, é o impulso perene
O viso de energias fulgurais
que brilha, ri: de escuridão não teme...
Amar: um prato de emoções plurais
que se degustam os d’alma solene
e levam às estradas guturais
o coração, em pulsação infrene...
Amar: é o que tentei, mas já não ouso
amar pouquíssimo. Lauto amaria
deveras, sinto, enlouqueceria...
Por viciar no alimento que pouso
o paladar: pois que sabor superno!
Amar: a prova que me torno eterno...
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Arquitetando
Nas sombras das manhãs
me pus a arquitetar
a imperfeita aresta...
A lembrança é um corcel
que galopa agarrado à sombra
de um frescor passado...
Um mar bravio
alomba
sobre seus passos:
Os passos passados
esfumeiam.
Esquadrinhando
sua própria sombra,
ia-se o cavalo da floresta
perdido na areia...
Assinar:
Postagens (Atom)