Quando o mundo retroceder de vez,
os mais fracos que estão,
os errantes, os sujos, reféns de monturo,
de vozes franzinas,
que ecoam no escuro,
voltarão à vida!
Trarão nos silêncios
a nova mensagem,
do amor e da paz, esquecida!
E a foice da morte, ainda a garimpo,
ainda atuante,
sibilará
nos becos, seus segredos;
plantará nos pseudolimpos,
a ferida, o medo,
a sânie constante...
Até quando o primeiro sol azul
se aquecer no horizonte!
E assim, os covardes ver-se-ão valentes
terão vozes, sem línguas nem dentes,
e sem pernas, pro coração andarão;
ribombarão
de seus pulsos plantados de tempo,
velhas canções, novíssimos ventos!
Ventos que lhes ressurjam, no entanto,
novos pulsos, batimentos!...
e em tempo, mil purezas adamitas!
E nova tarde, cairá,
em fervorosos ventos tantos
que de canções, palpitam...
E tudo será novo
bem trabalhado, nos ouvidos,
os destroços secarão – tudo esquecido!,
e a árvore nascerá pura de males!
Seus frutos, por todos comidos,
frescos e cheios de sementes de razões,
apagarão os gemidos
dos sobreviventes caules!
Cantarão em uníssono, portanto,
as emoções,
os frutos novos,
os novos povos,
e nos faremos voz!...
...que aqui, então e ainda morta e mansa
sob à escuridão da noite aflita,
perene e atroz, à folha se lança,
cantando pra esta Terra parasita...
"Quando nasce o amor, em si,
renasce, pois, nas coisas
e as cores são cirandas..."
Osvaldo Fernandes
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Se Me Basto
Prometo pela inércia do meu corpo
e por toda inquietude de minh’alma,
que pra extorquir, da paz, rubis de calma
farei da Solitude um raro escopo!
Prometo e, num protesto, a ardor, contrário
a voz da Solitude me desdenha.
Diz da preciosa paz: – Pra que a obtenha
não bastará polí-la solitário...
– Eu só quero viver! Passar! Morrer!
E, só, ó paz! amá-la inteiramente!
– brados d’alma plangente de viver...
No seio, pois, se voz outra afastasse
a ideia de eremita e amar somente
a mim, talvez, só a mim não me bastasse!
e por toda inquietude de minh’alma,
que pra extorquir, da paz, rubis de calma
farei da Solitude um raro escopo!
Prometo e, num protesto, a ardor, contrário
a voz da Solitude me desdenha.
Diz da preciosa paz: – Pra que a obtenha
não bastará polí-la solitário...
– Eu só quero viver! Passar! Morrer!
E, só, ó paz! amá-la inteiramente!
– brados d’alma plangente de viver...
No seio, pois, se voz outra afastasse
a ideia de eremita e amar somente
a mim, talvez, só a mim não me bastasse!
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Ponho-me a Chorar
Ponho-me a chorar!
E estas gotas doces
verteriam rios
que se de amor fossem,
minha correnteza
a frio e certeza
encheria o globo
que seco e salobro,
se faria mar!
E inerte nas docas
como alma a afogar
então lembraria:
“Do amor fui-me um dia,
também, pororoca;
correntes de amar!"
(E se hoje sufoca
me ponho a chorar!)
E estas gotas doces
verteriam rios
que se de amor fossem,
minha correnteza
a frio e certeza
encheria o globo
que seco e salobro,
se faria mar!
E inerte nas docas
como alma a afogar
então lembraria:
“Do amor fui-me um dia,
também, pororoca;
correntes de amar!"
(E se hoje sufoca
me ponho a chorar!)
Tergiversante
Se entre a audácia e a timidez
estou sentado:
pro lado eu sorrio, cortês;
e corro de vez pr'outro lado..
estou sentado:
pro lado eu sorrio, cortês;
e corro de vez pr'outro lado..
No Tempo, No Vento
O alento que monta esta chuva.
A chuva montada no vento:
um cheiro de dor faz a curva;
um som virginal traz alento.
Um cheiro, um chio, um esgar:
a chuva no vento a montar,
molhando e levando o cinzento
início de dia: um momento
que nasce do vento, primeiro
e invade, e fareja, e certeiro
do peito se faz inspirar...
A chuva montada no vento:
um cheiro de dor faz a curva;
um som virginal traz alento.
Um cheiro, um chio, um esgar:
a chuva no vento a montar,
molhando e levando o cinzento
início de dia: um momento
que nasce do vento, primeiro
e invade, e fareja, e certeiro
do peito se faz inspirar...
A Passagem
A luz da Lua açoita, chicoteia
Meu torso com inacabáveis gumes
Sorvendo-me da carne todo o lume
que o espírito tremeluz,
bruxuleia...
Sua gravidade é vil, traciona forte
E saudosista arranca-me do chão
os pés da essência, à consecução
de luz clamando célere
mi’a morte!
Várias estrelas sentem e me rogam
— parecem tão vazias e franzinas —
ao espírito, longínquo,
vão e absorto.
Querem-me a luz! Encimadas se jogam:
— como pueris ribaltas tão meninas! —
mil purpurinas no ar;
e eu no chão... morto...
Meu torso com inacabáveis gumes
Sorvendo-me da carne todo o lume
que o espírito tremeluz,
bruxuleia...
Sua gravidade é vil, traciona forte
E saudosista arranca-me do chão
os pés da essência, à consecução
de luz clamando célere
mi’a morte!
Várias estrelas sentem e me rogam
— parecem tão vazias e franzinas —
ao espírito, longínquo,
vão e absorto.
Querem-me a luz! Encimadas se jogam:
— como pueris ribaltas tão meninas! —
mil purpurinas no ar;
e eu no chão... morto...
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Castiçais (Ao Meu Velório)
Do mais cálido ser, queimei de frio
como queimou minh'alma em toda lida
por todas estações, até o estio,
não triunfou d'invernos em minha vida...
Um vento frio é nada mais que vento
que o mais cálido ser soprou pra mim
para que então gelificado e enfim,
não fosse eu, pelo menos, num momento.
O talante inexiste neste corpo
como inexiste e é tão peremptório
o motivo no qual, ao meu velório,
lembrar-me-ão tão vivo (entanto morto)...
Confesso: tão mais vivos que inorgânicos
a animação, o desejo, e as vontades
inexistiram em mim, se babilônico,
e existiram sim! Se só em saudades...
Não sei por quê! Defesa, sim, talvez!
De não alquimiar dentro da pele
o que de amor produz só cardiocele,
o que achamos sentir com lucidez(!):
Os fogos corpulentos do desejo
só há nestas pessoas indefesas(!...),
pois quando enxergam fogaréus, eu vejo
apenas castiçais por sobre a mesa...
como queimou minh'alma em toda lida
por todas estações, até o estio,
não triunfou d'invernos em minha vida...
Um vento frio é nada mais que vento
que o mais cálido ser soprou pra mim
para que então gelificado e enfim,
não fosse eu, pelo menos, num momento.
O talante inexiste neste corpo
como inexiste e é tão peremptório
o motivo no qual, ao meu velório,
lembrar-me-ão tão vivo (entanto morto)...
Confesso: tão mais vivos que inorgânicos
a animação, o desejo, e as vontades
inexistiram em mim, se babilônico,
e existiram sim! Se só em saudades...
Não sei por quê! Defesa, sim, talvez!
De não alquimiar dentro da pele
o que de amor produz só cardiocele,
o que achamos sentir com lucidez(!):
Os fogos corpulentos do desejo
só há nestas pessoas indefesas(!...),
pois quando enxergam fogaréus, eu vejo
apenas castiçais por sobre a mesa...
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Poema Espelhado
Poema, feio és tu
possui sequer mensagem
fonema fraco qual és bem cru
apenas espelhado
flui, porém sem forma sua...
desconexo, é o poema, todavia
reflexo-poesia...
possui sequer mensagem
fonema fraco qual és bem cru
apenas espelhado
flui, porém sem forma sua...
desconexo, é o poema, todavia
reflexo-poesia...
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Há Sempre o Gosto
Um pouco de ti
eu era doce,
Um muito, salgado.
Um nada de ti
insípido. No tudo:
sabores
dum trago de amores!...
Minha língua
a mais agridoce que já tive,
ainda te lambisca,
ainda te escreve,
e teu gosto sempre ocorre:
da boca corre;
na mão escorre,
e pra folha vive...
eu era doce,
Um muito, salgado.
Um nada de ti
insípido. No tudo:
sabores
dum trago de amores!...
Minha língua
a mais agridoce que já tive,
ainda te lambisca,
ainda te escreve,
e teu gosto sempre ocorre:
da boca corre;
na mão escorre,
e pra folha vive...
Na Madrugada das Almas
Na madrugada das almas
não há sereno.
Senhoras, senhores
e baús acorrentados:
na madrugada de poeta,
sereno não há, tão frio.
Um timbre inaudível
não canta ou encanta.
Planta-se! E espantos
incrivelmente desfraldam...
Já me aceitei poeta
quando todos recolheram
dos olhos, suas almas...
não há sereno.
Senhoras, senhores
e baús acorrentados:
na madrugada de poeta,
sereno não há, tão frio.
Um timbre inaudível
não canta ou encanta.
Planta-se! E espantos
incrivelmente desfraldam...
Já me aceitei poeta
quando todos recolheram
dos olhos, suas almas...
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