quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Do Compromisso

Compromisso em minha vida é anacrônico.
Planejado numa agenda desfolhada:
Não tem data, nem destino ou dia certo.
A segunda pode ser domingo ou sexta.
Pode estar fazendo frio absoluto
No solstício de verão.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Casa Mal Assombrada

Por entre as entranhas
da Casa Assombrada
vivia, calada
minh’alma tacanha...

Na pele – a fachada
em que rugas pendem
no disforme alpendre –
ela está trancada...

O corpo a rejeita
(qual casa que expulsa
tristezas, repulsas
dum'alma imperfeita...)

Mas inda se habita
na casa – o meu corpo.
Um abalo torto
Treme-lhe e palpita.

Minh’alma se esconde.
Meu corpo estremece.
Nem a melhor prece
que há, me responde

Do escuro que dura,
do alarde indevoto!
Mais um terremoto!
A alma se fratura.

Em cacos e exangue
Roga por viver.
Serpeia sem ver.
Levanta-se: há sangue.

Enquanto adoece
E um choro lhe aperta
No sal se liberta!
Da casa esvanece...

No corpo – que é a mesma
tal “Casa Assombrada” –
não vive mais nada,
só resta avantesmas...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Das Dores Que Bailam

Uma mulata! É como adentro sinto:
as dores vão sambando pelo corpo
e quando param de dançar pressinto
que no próximo mês estarei morto...

O samba vai tocando e então absorto
esqueço até da dor, (será que minto?)
Mas volta a ressoar um bumbo torto
que já volta a apagar com vinho tinto!

O álcool no salão embaça a dama
e as dores somem, mas acabo imundo,
Embriagado e sujo em minha cama...

— Quem tanta dor aguenta? Como pode?
Nem isto importa quando ouço lá fundo
setenta mil bandinhas de pagode...