quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Corpo Lançado

E lá se vai bailando pelo ar
com seu vestido prateado, a moça
do morro, da cidade, da favela,
bailando, cintilante, lá vai ela,
avista um morenão alto, simpático,
de cabeça lhe alveja o coração,
perfura-lhe o amor, queima, mutila
e pousa, úmida e rubra, pelo chão...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mãos

Quando o teu corpo
eu encontrar, tateá-lo-ei
com as línguas das minhas mãos.

Com elas contarei
todos os meus sonhos!
Explanarei, suavemente,
sobre o meu amor por ti.

E quando, de mim, tudo
tiveres sabido
deixarei que as tuas
sejam meu ouvido
a desbravar teus segredos...

Papel em Branco

Em um papel também renasce a vida.
Saem sons que de sonâncias evoluem
mediante emoções que afora fluem
ora no branco e ora cintilando...

A natureza é um poço de mudança.
Ora está noite, ora está luzida.
Assim que sou, enquanto estou versando.

Em branco só o que fica é a esperança
de mostrar emoção, fazê-los tê-la,
pois que em mim passa o dia, e tudo fora
também passa emoção, sentir, beleza:

tudo onde é branco nasce uma mensagem
como nascesse em nós, mil paisagens
como não vendo eu pudesse revê-la,
e se pintasse em nós, a Natureza!

Disso só soube ao espiar o céu:
A noite escreve imagens nas estrelas
enquanto escrevo letras no papel...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Angústia

Uma ânsia, um enjôo, falta de ar!
Vejo a Terra diagonando em novo grau
Deglutindo a festa ao lado, lhe empoando,
e emanando um pútrido instante mortal!

Eu acordo: “- Ufa! Graças! Pesadelo!”
Não me agüento: chego às claras da janela
E tremendo inda lhe dou uma olhadela,
Há falanges e uma mão, ensangüentadas(!),

da vizinha! Morreu, ei-la esquartejada...
Um enjôo, um desmaio e estou no chão.
Todo horror que se me envolve, não quis tê-lo;
todo pesadelo é sério, e sonho, vão...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Outro

Se minh'alma em meu espírito transfundo;
no profundo faz nascer um novo eu,
quem sou eu se dois em um vivo no mundo
oriundo junto a outro que nasceu?

Um é muito! Dois é quando me confundo
E se não difundo o meu de todo o seu
Sei que se desvaneceu por um segundo
pra fecundo lhe saber – me aconteceu!

Ponho em frente sempre quando me aparece
o meu ser único, de instintos chacais,
que no entanto é racional, vívido e douto.

Desfraldar-lhe tento, enfim, faço até prece!
Pois melhor sempre quis ser, que este ser, mas
como posso ser mais eu se sou o outro?

domingo, 7 de novembro de 2010

Solitário Negro

À noite, quando todos adormecem
e hei ínfimo e único em mim mesmo,
um astro como trespassasse a esmo
num eterno vazio, me estremece.

A Morte se me punge o pensamento
– o mesmo, no silêncio das respostas,
lhe tem como afeição – e é pressuposta
a cessação dos meus questionamentos.

Alvejo os céus, enquanto inerte às mãos
um revólver, o ardil, se refestela
dum solitário negro que me irrompe...

À cabeça o dirijo – à escuridão! –
no céu, brilha um cometa e me congela;
um telefone toca e me interrompe...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Alvorada

Enquanto adormeço
em negrura e silêncio
uma menina pinta
ao som da passarada
mil cores em meu corpo...

Se Te Espantas

Se algo te espanta na mudez
que resolvi por ter, num ponto
em que d’amor fui o mais tonto,
perdoa minha insensatez...

Se algo te espanta nesta ausência
afora a carne, ausência viva;
torna a saudade em ti, ativa,
conserva viva minha presença.

Que nem percebo; houvera em mim!
Moço da inércia, antes tão leino;
Castelo ocluso, de onde o reino
em trono amor, senta-se o fim.

Se algo te move e se agiganta
em devir triste, em desventuras,
revive e lembra da ternura
presente enfim, se algo te espanta...