E lá se vai bailando pelo ar
com seu vestido prateado, a moça
do morro, da cidade, da favela,
bailando, cintilante, lá vai ela,
avista um morenão alto, simpático,
de cabeça lhe alveja o coração,
perfura-lhe o amor, queima, mutila
e pousa, úmida e rubra, pelo chão...
"Quando nasce o amor, em si,
renasce, pois, nas coisas
e as cores são cirandas..."
Osvaldo Fernandes
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Mãos
Quando o teu corpo
eu encontrar, tateá-lo-ei
com as línguas das minhas mãos.
Com elas contarei
todos os meus sonhos!
Explanarei, suavemente,
sobre o meu amor por ti.
E quando, de mim, tudo
tiveres sabido
deixarei que as tuas
sejam meu ouvido
a desbravar teus segredos...
eu encontrar, tateá-lo-ei
com as línguas das minhas mãos.
Com elas contarei
todos os meus sonhos!
Explanarei, suavemente,
sobre o meu amor por ti.
E quando, de mim, tudo
tiveres sabido
deixarei que as tuas
sejam meu ouvido
a desbravar teus segredos...
Papel em Branco
Em um papel também renasce a vida.
Saem sons que de sonâncias evoluem
mediante emoções que afora fluem
ora no branco e ora cintilando...
A natureza é um poço de mudança.
Ora está noite, ora está luzida.
Assim que sou, enquanto estou versando.
Em branco só o que fica é a esperança
de mostrar emoção, fazê-los tê-la,
pois que em mim passa o dia, e tudo fora
também passa emoção, sentir, beleza:
tudo onde é branco nasce uma mensagem
como nascesse em nós, mil paisagens
como não vendo eu pudesse revê-la,
e se pintasse em nós, a Natureza!
Disso só soube ao espiar o céu:
A noite escreve imagens nas estrelas
enquanto escrevo letras no papel...
Saem sons que de sonâncias evoluem
mediante emoções que afora fluem
ora no branco e ora cintilando...
A natureza é um poço de mudança.
Ora está noite, ora está luzida.
Assim que sou, enquanto estou versando.
Em branco só o que fica é a esperança
de mostrar emoção, fazê-los tê-la,
pois que em mim passa o dia, e tudo fora
também passa emoção, sentir, beleza:
tudo onde é branco nasce uma mensagem
como nascesse em nós, mil paisagens
como não vendo eu pudesse revê-la,
e se pintasse em nós, a Natureza!
Disso só soube ao espiar o céu:
A noite escreve imagens nas estrelas
enquanto escrevo letras no papel...
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Angústia
Uma ânsia, um enjôo, falta de ar!
Vejo a Terra diagonando em novo grau
Deglutindo a festa ao lado, lhe empoando,
e emanando um pútrido instante mortal!
Eu acordo: “- Ufa! Graças! Pesadelo!”
Não me agüento: chego às claras da janela
E tremendo inda lhe dou uma olhadela,
Há falanges e uma mão, ensangüentadas(!),
da vizinha! Morreu, ei-la esquartejada...
Um enjôo, um desmaio e estou no chão.
Todo horror que se me envolve, não quis tê-lo;
todo pesadelo é sério, e sonho, vão...
Vejo a Terra diagonando em novo grau
Deglutindo a festa ao lado, lhe empoando,
e emanando um pútrido instante mortal!
Eu acordo: “- Ufa! Graças! Pesadelo!”
Não me agüento: chego às claras da janela
E tremendo inda lhe dou uma olhadela,
Há falanges e uma mão, ensangüentadas(!),
da vizinha! Morreu, ei-la esquartejada...
Um enjôo, um desmaio e estou no chão.
Todo horror que se me envolve, não quis tê-lo;
todo pesadelo é sério, e sonho, vão...
terça-feira, 9 de novembro de 2010
O Outro
Se minh'alma em meu espírito transfundo;
no profundo faz nascer um novo eu,
quem sou eu se dois em um vivo no mundo
oriundo junto a outro que nasceu?
Um é muito! Dois é quando me confundo
E se não difundo o meu de todo o seu
Sei que se desvaneceu por um segundo
pra fecundo lhe saber – me aconteceu!
Ponho em frente sempre quando me aparece
o meu ser único, de instintos chacais,
que no entanto é racional, vívido e douto.
Desfraldar-lhe tento, enfim, faço até prece!
Pois melhor sempre quis ser, que este ser, mas
como posso ser mais eu se sou o outro?
no profundo faz nascer um novo eu,
quem sou eu se dois em um vivo no mundo
oriundo junto a outro que nasceu?
Um é muito! Dois é quando me confundo
E se não difundo o meu de todo o seu
Sei que se desvaneceu por um segundo
pra fecundo lhe saber – me aconteceu!
Ponho em frente sempre quando me aparece
o meu ser único, de instintos chacais,
que no entanto é racional, vívido e douto.
Desfraldar-lhe tento, enfim, faço até prece!
Pois melhor sempre quis ser, que este ser, mas
como posso ser mais eu se sou o outro?
domingo, 7 de novembro de 2010
Solitário Negro
À noite, quando todos adormecem
e hei ínfimo e único em mim mesmo,
um astro como trespassasse a esmo
num eterno vazio, me estremece.
A Morte se me punge o pensamento
– o mesmo, no silêncio das respostas,
lhe tem como afeição – e é pressuposta
a cessação dos meus questionamentos.
Alvejo os céus, enquanto inerte às mãos
um revólver, o ardil, se refestela
dum solitário negro que me irrompe...
À cabeça o dirijo – à escuridão! –
no céu, brilha um cometa e me congela;
um telefone toca e me interrompe...
e hei ínfimo e único em mim mesmo,
um astro como trespassasse a esmo
num eterno vazio, me estremece.
A Morte se me punge o pensamento
– o mesmo, no silêncio das respostas,
lhe tem como afeição – e é pressuposta
a cessação dos meus questionamentos.
Alvejo os céus, enquanto inerte às mãos
um revólver, o ardil, se refestela
dum solitário negro que me irrompe...
À cabeça o dirijo – à escuridão! –
no céu, brilha um cometa e me congela;
um telefone toca e me interrompe...
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Se Te Espantas
Se algo te espanta na mudez
que resolvi por ter, num ponto
em que d’amor fui o mais tonto,
perdoa minha insensatez...
Se algo te espanta nesta ausência
afora a carne, ausência viva;
torna a saudade em ti, ativa,
conserva viva minha presença.
Que nem percebo; houvera em mim!
Moço da inércia, antes tão leino;
Castelo ocluso, de onde o reino
em trono amor, senta-se o fim.
Se algo te move e se agiganta
em devir triste, em desventuras,
revive e lembra da ternura
presente enfim, se algo te espanta...
que resolvi por ter, num ponto
em que d’amor fui o mais tonto,
perdoa minha insensatez...
Se algo te espanta nesta ausência
afora a carne, ausência viva;
torna a saudade em ti, ativa,
conserva viva minha presença.
Que nem percebo; houvera em mim!
Moço da inércia, antes tão leino;
Castelo ocluso, de onde o reino
em trono amor, senta-se o fim.
Se algo te move e se agiganta
em devir triste, em desventuras,
revive e lembra da ternura
presente enfim, se algo te espanta...
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