segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Velório de Estrela


Exalando um clarão, dos olhos se emancipa
mais uma estrela velha avistada no mundo.
Vai-se, naturalmente, em fração de segundos,
sua história, sua luz; pras últimas dissipa...

Parece tudo em luto: o dia se antecipa
trazendo-nos, sem brilho, um horizonte ao fundo
triste e choroso ao tom dum cinza vagabundo.
(um velório no céu, que tudo participa)...

Como em caixão de morto espalham-se almofadas
aglomeram-se as nuvens: painas que se montam.
— Seria mais um gesto à estrela que se vela?

Um lampejo. Um trovão. Mil nuvens carregadas.
Presto atenção no céu — à chuva que se apronta:
— É, tudo em volta chora e ensaia uma querela...


domingo, 11 de dezembro de 2011

O Natal

Ah! O Natal.
Não o Natal dos jingles;
dos judeus, dos muçulmanos...
Não o Natal do nascimento de Jesus, de Javé,
João, Josias, Josué, Juca;
dos esfomeados, dos fartos, dos fatos,
dos amedrontados perus.

Aliás, sempre odiei peru.

O meu Natal!...
Onde as meias são rogos e qualquer barulho é de intruso...
— única época em que intrusos são bem-vindos.
Onde carrinhos vermelhos viraram sinônimos de azar.
Onde as mentiras fazem realmente bem.

(Ou não:
"— Papai Noel tá pobre este ano, meu filho..."
"— Mas ele nem joga no bicho como você, papai.")


Teve esta vez, nesta rua outrora repleta de crianças, onde um cometa passou em pleno Natal.
Rodopiava pelo céu o júbilo maior daqueles que creem:
o barbudo vermelho, autenticado aos nossos olhos.
Meu irmão, eterno esmagador de sonhos, dissera: “— É só um cometa.”
Mas inda assim, ignorando-o como se ignora um presságio de traição, continuei a viajar junto a outras crianças. Diziam: “é ele!” e tão logo estávamos especulando sobre sonho e realidade; trenós brilhantes e renas...
Uns mostrando o quão sensacionais eram seus brinquedos,
outros invejando os presentes alheios.

Ah! Meu Natal!
Pisca-pisca das lembranças do irreal.
Tem um cheiro de rabanada (e de avó);
um gosto adocicado de infância,
e esta pitada salgada de desilusão:

Ah, meu irmão... se cometas existem
é por este Natal que tudo se revela:
pode ser que não...


Osvaldo Fernandes

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Um Único Abraço


Viu-se abraçar o mundo, as nuvens parcas,
o céu e o caminho que seguiste:
viu-se deixar no metro o estado triste,
e seguir doravante — além-comarcas!

E dos caminhos tredos que saíste
dois, que sentes no cerne inda te encharcas:
O amor caçula que deixaste marcas
e o desamor que, após, te bipartiste:

— Ficar ou ir? Não sei! Que mais funciona?
Calmo ou feroz, sentado se questiona
como se questionasse o irrelevante...

— Não sabes?! Abre os braços! Sente o mundo;
e como o amor, conserva-te um segundo;
e como o desamor segue adiante...