"Quando nasce o amor, em si,
renasce, pois, nas coisas
e as cores são cirandas..."
Osvaldo Fernandes
domingo, 29 de novembro de 2009
Batida
Mais cartas, não desejo, em meu baralho
As três já formam fácil minha trinca
Que no meu coração se sabe e brinca...
O Ás, a Dama, e o Valete criançalho...
Mais cartas, não as quero, sou grisalho!
Como nuvem que pelo céu se vinca
E que formado o trunfo, não me finca
Pois desenredo, solto-me; tresmalho!
O Ás é a máxima da vida inteira:
É geratriz! Poesia, cancioneira,
De toda minha vida, é o meu chão!
A Dama é o caminho que agora sigo;
O Valete é o meu melhor amigo:
Perfeitas batidas do coração!
sábado, 28 de novembro de 2009
Deixando
Assim eu vi, deixando-o só.
Quem diabos deixaria?
Talvez ele próprio
no ópio entorpecente
e estacante?
Pudesse então que femençasse
aquele insight inexistente!
Pudesse enfim, que o inebriante
inundasse-o, n’osmoses!
De onde viria a apoteose
– esfuziante –
senão do fóssil que se esfaz
pela ventania dum tempo mais-que-perfeito?
O tempo – o tempo –
volve-lhe cãs
em vivacidade. Apenas se,
nas manhãs
souber-se-lhe
volvido.
E assim eu o vi
deixando o só;
deixando-o pedra
nos caminhos
sem vento.
Esfarelado, plana
- já consigo -
sobre as rochas frias
e inertes
de si próprio...
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Cancioneiro
Ah! Cantar a rente querela
- este cancioneiro perene! -
num violão fosco!
Soltar, às cordas, o sol desafinado e solene;
e deixá-lo vogar além das janelas;
como se murmurasse Villalobos!
Completar as frestas
com cântico natural
do lânguido eucalipto das florestas
que de encantos, há-se olvido!
Deixar-se-lhe ser, sentir-se-lhe ouvido,
assim que incutido, pelo sopro celestial!
E cantar! Cantar na linha
a tortuosidade divinal;
sentir que a mão caminha,
quebrando penedos;
em caminhos tredos;
em canto sonial!
E quando no hexacorde
um solfejo emanar, ultimogênito:
Ver a querela rente
débil, tornada frêmito
pelo superno acorde
deveras plangente...
Verso A Olho Vestido
Cego,
tentei escrever o Mais
do que as rosas
podem colorir...
Escrevi versos
que se fizeram espuma!
Continuei escrevendo
- esfregando as flores -
até que os calos
lavassem cores...
Sei não se versos...
ou brumas;
não consegui distinguir.
Nem mesmo o rubro orvalho
deitando-se à rosa
na prosa dum verso
a se extinguir...
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Eu Quero III
Eu quero a gargalhada polvorosa!
Este alarido, ao silêncio, investindo.
Quero su’alma toda em mim sorrindo
E o prazer lhe aportando em cores rosa!...
Eu quero, entre dois corpos, nossa prosa,
que fala de se ter em sonho infindo
O coração, por ti, já sucumbindo
à sensação mais forte e poderosa!
Não muito for, eu quero se, poesia
for desvelada: redigida - e louca!
Com os mesmos traços pulcros da sua boca...
Arremessar-me a lira em sintonia
Com seu rosto, já rosa de prazer:
Versar sob o nariz, desfalecer...
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Dessujeito
Quero o Amor, da garganta, destravado:
Em livre exploração pelo meu leito!
E ao tombar-se, suave, no meu peito
Saber-mo vivo, farto e revelado!
O sopro proferido; dessujeito.
Junto dos céus - no ar denso e ficado!
Não quero o amor em mim asfixiado,
nem baldo, como fosse rarefeito!...
Quero a garganta enérgica, angustiante,
De altissonoro estrondo, palpitando!...
A pronunciar o amor como uma fera!
E quando ela explodir agonizante
Toda certeza de se estar amando,
Desentranhar por toda atmosfera!
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Eu Quero II
Eu quero. E quero muito este acalanto:
Sonhar que poderei ter finalmente
- e me acordar apaixonadamente -
O amor que se prendia ao campo-santo....
Eu quero! Ah, quero! E quero tanto!
Externar para ti, veementemente
Que, de fato, tu és-me assim pungente
por existir, e me existir-te encanto...
Quero! E não deixarei mais enterrado
O amor, que em mim vivia como morte
Por ser velado por ser-me tão forte!
E quero mais: que seja fenestrado
Pra que possa voar! Partir, amém,
à tu’alma; gerar meu Big Bang!...
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
O Amor
O fôlego da vida! Encantamento!
Nasceu no beijo, e beija-me ainda
se infiltra nos meus lábios; nunca finda.
Quisera tê-lo em todos os momentos!
Encanto que apinha todos os ventos
Que num rodamoinho, sua entrevinda
Nos faz voar, e a vida tão mais linda,
é azul, como num céu de sentimento!...
O fôlego qu’inda nos faz arfar!
E torna pando o vento doravante
a estimular a vida - dá-la um escopo...
Ó grande amor! Corrente azul de ar!
Faça pungir na pele, arrepiante,
a intensidade dum último sopro!...
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