quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A Tudo Tenho


Onde o ter? Nunca terei!
Se não posso e em meu assomo
Não querer ter, quererei!
Querei ter? Onde o ter? Como?

Entre arranha-céus e escombros;
Ou a escuridão, cegueta,
e à luz, de mil cometas
P’ra que ter? Dou de-me ombros!

Querei nada! A tudo tenho!
Vedes florestas – arbustos?
Vejo mãe-verde e seus bustos
nus e a mim, menos ferrenhos!

Tudo tenho! Não sabeis?
Rosas em campos no céu
Prosas com belas ao léu
no firmamento: olhos-reis!

Venham, venham os trovões!
Pondo suas tubas em punho
Algazar mil caramunhos
que não ouvem suas canções!

Os passarinhos cantantes
Que no cerne, inda que mudos
são de tudo: tartamudos,
pagodeiros; consonantes!

E o Pardal, tão belo deus!
Tão agreste e tão de casa
tão de todos, mas tão meu!
Tão mais meu que os tenho as asas!

Tudo tenho! Meus ouvidos
São trementes alaúdes
retornando em amiúde
iracundos carcomidos!

Eu não desejo o amor!
Nem ser tão bem venturoso
Nem ser vão – vil! – desditoso.
Vede só! Onde há tal dor!?

E bem inda que pudesse
Ainda desejaria
Todo estio das poesias
que do quente-azul proviesse

Como flores em acenos
pululando em mi’a verve.
Tudo tenho! E tudo serve
tudo é tanto mais ou menos...

Que em companhia aos meus rastros
de estardes, sem céu, na Terra
possais acabar com a guerra
de me invejardes nos Astros!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Estar Fora de Mim


Estar fora de mim, e ainda estar
por dentro, corroído e desalmado
ainda é estar por fora anuviado
e dentro certo que há o que se amar...

Estar fora de mim! Ah! Até voltar
e reparar os cacos já quebrados
dum espírito, mil vezes colado
é o caminho que eu nunca quis chegar!....

Estar fora de mim é tão melhor
mas há que se passar, pois o pior
à espreita sorve d’olhos mi’a candura...

Estar fora de mim como andarilho
não dá, se o coração não tem mais brilho
e dentro clama, cego, desventuras!

domingo, 20 de dezembro de 2009

À Musa de Ouro


Tive na vida inteira, a dois, remorsos:
Sonhos de céu, quebrando-se três vezes
em espaços vazios, descorteses
que se foram p’ro vácuo, sem ser Nosso...

Tive, pois, não mais tenho esta descalma!
Pois fizeste de um Nosso, ser um Quero
Tendo-me assim, em ações que enumero
nos dedos infinitos de minh’alma!...

Contigo, a vida é tão aurifulgente!
Como são teus cabelos, quando os vejo
esvoaçando sonhos benfazejos
que borbulham anímicos e crentes!

Sinto que a ti minh’alma se transmigra
e faz do teus sorrisos, domicílio,
e de tu’alma, o mais honroso exílio,
como em pátria dum Sonho que remigra!

E vou mostrar-te, em coração poeta
a lídima beleza deste mundo
e todo o amor, que de mim, oriundo
faz n’alma engendrar quimeras completas!

E vou mostrar-te, a ti, do que és feita!
No espelho dos meus versos, quando leres:
Do reflexo, o mais divino entre os seres,
qual prece que Deus concebeu, perfeita!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Trovões Internos


Lá fora ouço trovões mal-humorados
trazendo o tormento p'ra dentro à porta
desta alma viva que se sente morta
num limbo de porvir desesperado...

Lá fora, ouço também, vociferado
Um céu de nuvens gris zanzando tortas!
Que chorando torrencialmente aporta
na realdade de um devir quebrado!

Cá dentro o céu se doa para o inferno
a fim de lhe inundar de poesia;
bruxuleando, em dueto, fogaréus!

Cá dentro, é pacatez, dilúvio terno;
Trovões suaves cantam cotovias
E torvelins de sonhos fazem céu!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ultimogênito


Finda-se aqui o sentimento tristonho
De um sonhador, que já morto de fome
fez da esperança seu único nome
por achar comestível qualquer sonho!

Finda-se, pois, aqui, defronte a morte
Aquilo qual achava, em si, seu sismo;
E engrenagem da vida - seu lirismo:
tremor que deitaria contrafortes!

Findam-se aqui - em versos - os meus versos
E findam-se felizes, ternamente
Porque, de sonhos cheios, toda mente
Carece sintonia do Universo!

Finda-se aqui, meu poeta - o eu-lírico!
Com a lança duma falta de ensejo
fincada no arcabouço do desejo
fingido, inverossímil, tolo e empírico!...

Morro-me à poesia, nasço homem
e deixo o último verso pra saudade;
minh’alma voga inteira na vontade
de não ter mais quimeras que me domem!

Morro pra tudo! E renasço ordinário
Divorciado do lirismo culto.
Da realdade - a me tornar avulto -
versejo à boca, e não dum dicionário!...

Morro! Meu sentir não se desespera
Pois sei, não serve ao mundo em que eu existo
e sei saber, por isso é que desisto
e abraço forte a vida que me espera!...

Morri! Nem sinto-lhe a falta, poeta
pois caminhei de encontro ao que queria
deixei meu sonho, à folha, em revelia;
e minh’alma, de vãs quimeras, quieta!

Poeta! Pegue o poema, autografe-o
postumamente! E solte-se de mim!
Que o ultimogênito poema, enfim
findou, publicado em seu epitáfio!...

Morto, Poeta, eu sei já o que fazer
- não mais em versos, ou sonhos d’outrora -
Vou conjugar os verbos cá de fora
sendo o sujeito que não pude ser!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Verbalizando a Vida


Cada um de nós,
leva o sol nos pés.
Aos siderais,
extraordinários,
de andejo:
calquem ao chão seus verbos;
tornem pandos seus quadrados!

Há muito espaço na Terra!
Há muita guerra,
e sarjetas frias!

Infinito é o espaço!
Infinita é sua ação!
Infinitos são!
[passos...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Revelação


Ah! Como amar a poesia, o carme
que não sou eu! Que não aceito a dor
de versos maculados dum pavor?
Como, de fato, posso revelar-me
poeta, de lirismo ocre, amador?

E como amar os versos que eu não fiz?
Ou se fiz, não se parecem meu verso?
Como, dentro de um espírito disperso
e imerso na poesia que eu não quis,
poder fazer-me parte do Universo?

Serei somente mais um ser que, em parte
Sente e escreve, reprime e cria... NADA?
Ou tudo que se cria é uma nonada
que se engendra do vazio da arte
e se desfaz, na folha, estatelada?

O que eu quero mesmo é coisa nenhuma!
Ser-me flocos fátuos, brilhando todo!...
com sentimento, diluído em lodo,
cativo a cavalgar por entre as brumas;
câncer oculto, tufo em linfonodos!...

Quem sabe um andarilho da poesia,
daqueles que com uma vil caneta,
aperta a tinta, faz chover cometas
no céu vil, tumular do dia-a-dia
fazendo a alma queimar todo planeta!...

Quem sabe, um nada bem cheio de tudo!
Um doudo, amalucado, o desvario!
Que cinge em verso quente e verso frio;
Que na ponta do lápis, assim, mudo,
muda o nada pro tudo, do vazio!

Quem sabe, seja só linha fadada,
A percorrer os olhos dos leitores,
E rutilar imagens d’alma, amores,
Pintadas no papel, bruxuleadas
em versos que aparentam-se indolores!?

Quem sabe? Eu não sei! Só quero estar,
nas mensagens que fiz, de modo errado,
vislumbrando um poeta mal formado
que não existe em mim, mas que se há
no carme, em versos, todo entrelinhado!

Ah! No dia que amar poesia,
o carme me dirá do que não li!
Assim como os pedaços que verti
na folha, esquartejados, saberiam:
no ponto final só eu quem morri!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O Vôo Infindo da Borboleta


Ah! Borboletinha!
Que te estás à toa?
Solta-te, revoa!
Rufla tuas asinhas!
Canta-nos! Reboa!

Paira ao fementido
te eleva ao mentido!
Faze o mundo cheio
de teu colorido -
luz de veraneio!...

Colorir, vem... ousa!
Pousa o céu na vida
nas nuvens, repousa!
Solta arremetida
sorrisos à chousa!

Voa até o inferno!
Faze dele nada
Torna-o livre, terno
solta avermelhada
cores d’alma alada
no adejar superno!

Voa até o céu!
E lhe espalha o rosa!
Choverá o laurel
da alvorada prosa
na noite revel
brilhando formosa!

Ah! Mi’a borboleta!
Veja! Quão cansaço!
Pousa-te em meu braço
Toca a cançoneta
Voa em pirueta!
E estremece o espaço!

Esquece quem tinhas!
Voa! Sem final!
Rufla tuas asinhas!
Ah! Borboletinha!
Vem para o Pardal!

A Busca Infinda do Pardal


Apruma as asas e voa!
Voa alto! Há no alvo!
Solta o bando dos papalvos!
Qu’isto torna pando. Ecoa,
Lá do céu, - canta e revoa! -
Faze-o, de vis cores, calvo!

Toma o cinza! Toca a bruma!
Voa avante; te plumeja!
Não te esquece! Voa e alveja
Toma todas e nenhuma
Luz azul à tua pluma!

Libra além do altimurado!
Traze o infindo às tuas 'bicas'!
Quebra o sol: o sorve; o pica!
Qu’este torna bem curvado,
Aos teus voos; paparica!

Ó Pardal que esvoeja:
Traze o céu e volve o lume!
Voa aquém de qual negrume!
Canta acima, purpureja,
Tua alma, vai-te... almeja,
Libertado ao teu tapume!

Risca o céu o triste; calibre!
Colore toda descalma
E vem cá ousar-te a alma:
Em fazer qu'amor se libre;
Em pousar-te à vida a calma;
Ó Pardal, vai! Voa livre!...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Relógio

Desenho: Osvaldo F.

Quero caminhar avante.
Detonar a inércia!
Acreditar no certo que se imagina.
Ter a certeza
que o não que me abomina
não faz do certo
menos imaginário.

Abominar é parar.
Acreditar é andar.
No fim, os fins se danam!
E o meio que vale!...
Que faz tudo... real!

Não me deixarei
ser relógio
hermeticamente rotundo
e fechado.
Num tic-tac
que tem sempre o mesmo som!

Que o ponteiro volte ao lugar de início.
Não quero minha vida relógio.
Não quero só tic-tac.
Eu tenho todas as onomatopéias do mundo!

Não quero, pois, este inferno:
A repetição
repetitiva
de tudo que se repete
repetidamente
como um tiquetaquear na parede!

A minha vida, até se pode relógio
mas de números infinitos
Como meus dias:
Com o mesmo céu.
A mesma natureza.
Posto que
em cada dia
um mundo novo
e infinito!

Eu quero o 25.
O 35.
O 1.006.
Eu quero os enes.
Os zilhões.

Cada dia algo novo.
Cada hora algo diferente.
Cada segundo... algo.
De verdade!

Quero a criação!
E não a repetição;
transformação.

Quero o toc-toc
de pés oníricos
a caminhar no chão do acaso.
Quero o descaso
de estar, diferentemente, errado!

Quero a novidade de tudo!
Dormir sem horas e acordar sem tempo!
Dormir cem horas
e ainda acordar no tempo!
Sonhar.. cem horas!
Mil! Milhões
na realidade do novo!

E realizar-me todas as horas
infindavelmente
como fosse um sonho!


domingo, 29 de novembro de 2009

Batida


Mais cartas, não desejo, em meu baralho
As três já formam fácil minha trinca
Que no meu coração se sabe e brinca...
O Ás, a Dama, e o Valete criançalho...

Mais cartas, não as quero, sou grisalho!
Como nuvem que pelo céu se vinca
E que formado o trunfo, não me finca
Pois desenredo, solto-me; tresmalho!

O Ás é a máxima da vida inteira:
É geratriz! Poesia, cancioneira,
De toda minha vida, é o meu chão!

A Dama é o caminho que agora sigo;
O Valete é o meu melhor amigo:
Perfeitas batidas do coração!

sábado, 28 de novembro de 2009

Deixando


Assim eu vi, deixando-o só.
Quem diabos deixaria?
Talvez ele próprio
no ópio entorpecente
e estacante?

Pudesse então que femençasse
aquele insight inexistente!
Pudesse enfim, que o inebriante
inundasse-o, n’osmoses!

De onde viria a apoteose
– esfuziante –
senão do fóssil que se esfaz
pela ventania dum tempo mais-que-perfeito?

O tempo – o tempo –
volve-lhe cãs
em vivacidade. Apenas se,
nas manhãs
souber-se-lhe
volvido.

E assim eu o vi
deixando o só;
deixando-o pedra
nos caminhos
sem vento.

Esfarelado, plana
- já consigo -
sobre as rochas frias
e inertes
de si próprio...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Cancioneiro


Ah! Cantar a rente querela
- este cancioneiro perene! -
num violão fosco!
Soltar, às cordas, o sol desafinado e solene;
e deixá-lo vogar além das janelas;
como se murmurasse Villalobos!

Completar as frestas
com cântico natural
do lânguido eucalipto das florestas
que de encantos, há-se olvido!
Deixar-se-lhe ser, sentir-se-lhe ouvido,
assim que incutido, pelo sopro celestial!

E cantar! Cantar na linha
a tortuosidade divinal;
sentir que a mão caminha,
quebrando penedos;
em caminhos tredos;
em canto sonial!

E quando no hexacorde
um solfejo emanar, ultimogênito:
Ver a querela rente
débil, tornada frêmito
pelo superno acorde
deveras plangente...

Verso A Olho Vestido


Cego,
tentei escrever o Mais
do que as rosas
podem colorir...

Escrevi versos
que se fizeram espuma!
Continuei escrevendo
- esfregando as flores -
até que os calos
lavassem cores...

Sei não se versos...
ou brumas;
não consegui distinguir.
Nem mesmo o rubro orvalho
deitando-se à rosa
na prosa dum verso
a se extinguir...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Eu Quero III


Eu quero a gargalhada polvorosa!
Este alarido, ao silêncio, investindo.
Quero su’alma toda em mim sorrindo
E o prazer lhe aportando em cores rosa!...

Eu quero, entre dois corpos, nossa prosa,
que fala de se ter em sonho infindo
O coração, por ti, já sucumbindo
à sensação mais forte e poderosa!

Não muito for, eu quero se, poesia
for desvelada: redigida - e louca!
Com os mesmos traços pulcros da sua boca...

Arremessar-me a lira em sintonia
Com seu rosto, já rosa de prazer:
Versar sob o nariz, desfalecer...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Dessujeito


Quero o Amor, da garganta, destravado:
Em livre exploração pelo meu leito!
E ao tombar-se, suave, no meu peito
Saber-mo vivo, farto e revelado!

O sopro proferido; dessujeito.
Junto dos céus - no ar denso e ficado!
Não quero o amor em mim asfixiado,
nem baldo, como fosse rarefeito!...

Quero a garganta enérgica, angustiante,
De altissonoro estrondo, palpitando!...
A pronunciar o amor como uma fera!

E quando ela explodir agonizante
Toda certeza de se estar amando,
Desentranhar por toda atmosfera!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Eu Quero II


Eu quero. E quero muito este acalanto:
Sonhar que poderei ter finalmente
- e me acordar apaixonadamente -
O amor que se prendia ao campo-santo....

Eu quero! Ah, quero! E quero tanto!
Externar para ti, veementemente
Que, de fato, tu és-me assim pungente
por existir, e me existir-te encanto...

Quero! E não deixarei mais enterrado
O amor, que em mim vivia como morte
Por ser velado por ser-me tão forte!

E quero mais: que seja fenestrado
Pra que possa voar! Partir, amém,
à tu’alma; gerar meu Big Bang!...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Amor


O fôlego da vida! Encantamento!
Nasceu no beijo, e beija-me ainda
se infiltra nos meus lábios; nunca finda.
Quisera tê-lo em todos os momentos!

Encanto que apinha todos os ventos
Que num rodamoinho, sua entrevinda
Nos faz voar, e a vida tão mais linda,
é azul, como num céu de sentimento!...

O fôlego qu’inda nos faz arfar!
E torna pando o vento doravante
a estimular a vida - dá-la um escopo...

Ó grande amor! Corrente azul de ar!
Faça pungir na pele, arrepiante,
a intensidade dum último sopro!...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quando o Amor Fala


Eu perturbei: "- Fala-me o que é bonito?"
E ela respondeu, cauta: "- Não sei!"
E seu talvez ma fizera infinito
por toda dubiedade que incitei...

Eu me indaguei: "O que posso, o que sei
sobre o que é bonito?" E se bendito
fosse o Não Sei, também seria lei
Como são leis os, sim e não, finitos?

"- Não sei!" - Ela falou, e eu, parado
achei que suas palavras eram loucas
Mas vi que o que era belo que era errado!

Mas hoje o que sei, é o que não sabem
que quaisquer frases ditas da sua boca
são tão belas que à beleza não cabem!...

Suicídio Lírico


Basta! Eu prefiro, rápida, mi’a Morte
Mas não porque a vida, em si, não valha
Enquanto, lentamente, ao corpo talha
pode ser, comandá-la, a única sorte...

E por sorte, não precisa ser forte,
nem lenta minha morte. E a mortalha
n’olhos dos Sangues meus, os estraçalha
ver timbrada ao Além;... meu passaporte...

Que venha logo todo este negrume!
Vejo-me caminhar afora ao lume
retirando meu sopro do Universo...

Que venha! Venha em morte ou venha em verso!
E faça do suicídio meu acesso
a entrada para o literato Nume!

Choro de Libertação

I

Chore! Deixe que toda su’alma role
pelos pântanos de um semblante fel
e ver-se-á arqueada sobre o cole
refletindo cor neste negral léu

como reflete o arco-íris no céu.
Deixe que su’alma umidifique, molhe
e empoce de esperança. Deixe! Chore!
Transforme a lama em Ilha de Bornéu!

Que sei, desejará singrá-la toda
como quem navega à felicidade
ainda que, lá atrás, sua mocidade

desejasse vogar por toda boda
de papel, de diamante ou de platina.
Chore! Faça o teu mar livre! Menina!

II

Sente, o vento aliseu, na singradura?
Bem saiba, mi’a menina, é a esperança
é toda liberdade da bonança
que vicejou em sua semeadura.

Sente, nas ondas, sua vida pura
manumissão e toda aventurança?
É o balançar de quando era criança
e amava, sem perturbar-se em clausura.

Agora, a navegar, no próprio choro
d’alma; não aceitará um desaforo!
Desbravará o mundo que não viu...

Navegue o choro da libertação
e deixe para trás, toda ilusão
Levantando sua vela ao esposo vil!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Casquejando a Alma


Amo-te: - A minha chaga se revulsa
por cada toque favo da tua boca!
- E quanto mais babujas-me tu expulsas
d’alma a cesura de pústulas ocas...

Em todo nosso amor, a alma propulsa
e a insalubridade se faz louca
no coração sadio, que ora pulsa
embevece minh’alma n’ora outra...

Sinto-ma inspirar um fausto carme
um misto de minh’alma, e de desejo
Desmedido por teu jeito; teu charme...

Casquejo o imo, e as mãos em sacolejo
escrevem-te do amor de impulsonar-me
e salutar-me a vida com teus beijos!...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ao Coração de Euterpe


Vis Poesias, ao seio de Euterpe
A folha embaraçai: frade impressões!
Não mais ouvireis vossos corações
pulsados dum lirismo torpe, serpe!...

Vis Poesias, liras de ilusões
externai-vos dos seios - inda inertes -
esboços de creions não tão solertes
que finarão, sem comiserações!

Poeta, o Rubro-Oco, traze na frente!...
A pulsação dum canto divergente;
bem tenta neste músculo flautar!

E traze atadas, tuas poesias!
E toca Euterpe em tua anagogia
no angelical solfejo de criar...

domingo, 18 de outubro de 2009

Olhares


Olhares que se encontram; duas fagulhas
Eu encantado... Ela sentada... e queimam
Sensações pela espinha; e se borbulha
desejo; o caldeirão das guloseimas...

O Doce pronto, é o fitar que marulha
o mar de amor fervente. E ela requeima
Co’olhos já interessados se debulha
nos meus, e nada sou mais que guleima...

Olhares que se encontram num momento
E apetecem os sonhos absortos
Se tornam comestíveis sentimentos...

Se num olhar, nós dois, temos conforto
unido à fagulha do afeiçoamento;
já sinto vivo, o amor que estava morto...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Às Almas Presas Nas Cascas


Fomos, eu e o escritor, passar a limpo
uma alma rabiscada, um parvo esboço.
Fiquei, das qualidades, no garimpo,
da crítica, o escritor foi-lhe um acosso!

Acossamento pobre, um tanto ímpio
lascando a casca d’alma, até o caroço.
Eu redigindo o belo, a pego e chimpo
nesta alma, então transfaço-a ao meu remoço...

Tal alma rufla livre, liberal!
Bem emplumada como a de um pardal
co’a casca aveludada dum arminho!

Dantes presa ao escritor: seu vil gaiolo
Refiz-lhe arte final, dum esboço tolo
E desta casca... voou um Passarinho!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Aquele Olhar Pausado


Ah! Aquele olhar pausado, cruciante
como espada troiana, excelso e rico
invade e prende, como paro e fico
esperando que rasgue, lacerante...

Todo arcabouço d’alma, em béis salpicos!
Soltam-se, qual cavalaria errante
e vão, teimosos, vão! Não obstante
se estacam nas ramas dos namoricos...

Horto, donde se pastam; piqueniques,
donde se bebem sangue borrifado
do cerne de minh’alma, a ti, fitado...

Ah! Aquele olhar pausado e de chilique:
Histérico é o prazer de entrá-lo, sê-lo!
E nunca mais sair, cego por tê-lo!

Nas Asas da Saudade


Setembro voou
levando nas asas da saudade,
o amor...

Outubro, ainda permanece
num pouso nostálgico
à lembrança do amor
n’emplumado Setembro...

E Novembro, já caloroso
gorjeia aos céus - tal como a cotovia -
a canção de juntá-los
em qualquer de seus dias...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Desbravador


O poeta é desbravador
percorre veemente
o ândito das dores
e dos amores silentes
nas estradas calmas;

É quando se torna
vária lira desenhada
de quase todas as almas...

Desmemória


Narrei custoso em verso os meus anais
Quando a dificuldade? E a nitidez?
Só fiz, pois, em palavras cambiais
não as quais encaixotam duma vez...

Os meus anais se foram, e os meus ais
são-me as memórias em embriaguez
Um mar se volve por dentre os meus cais
Onde esqueci, poeta, o que me fez?

Palavra voga ao mar de esquecimento
Ondas tépidas vêm-me em desalento
E o eu poeta baldo implora à Lua:

Que venha! Venha logo, maré cheia!
Ó Lua! Energiza e titubeia
O mar do esquecimento que me amua!

O Som Que Tu Não Falas


Que venha a mim o som que tu não falas
como catarse imane, ferozmente...
Que me venhas! E o coração tremente
falar-te-á na boca o que me calas...

Que me venhas, e venhas sem remorso
pulsar-te-me, num candente semblante
bailar-te a alma nos lábios, balbuciantes!
Traze na voz o som do sonho nosso!

Que me venha, per ti, versos jucundos
E se calares como d’outra vez
abrasarás nos pampas de tua tez
o falatório de teu eu profundo...

Que berra imaculado do teu leito
e tu, que o ignoras, se atraiçoas
mas nos suspiros dados, se reboa
o amor por mim, ferino no teu peito!

Canta-me! Quero tanto a melodia
pra despejar a poesia tua
e descrever, na face alva da lua
toda impressão da tua gritaria

no ínfimo dos olhos, a te ouvir!
E ouvindo versarei, iluminado
sentado à lua, qual fosse ao teu lado
vendo-te muda, o Amor me proferir...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Impulso Perene


Amar: desejo que não se desfaz
Em toda vida, é o impulso perene
O viso de energias fulgurais
que brilha, ri: de escuridão não teme...

Amar: um prato de emoções plurais
que se degustam os d’alma solene
e levam às estradas guturais
o coração, em pulsação infrene...

Amar: é o que tentei, mas já não ouso
amar pouquíssimo. Lauto amaria
deveras, sinto, enlouqueceria...

Por viciar no alimento que pouso
o paladar: pois que sabor superno!
Amar: a prova que me torno eterno...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Arquitetando


Nas sombras das manhãs
me pus a arquitetar
a imperfeita aresta...

A lembrança é um corcel
que galopa agarrado à sombra
de um frescor passado...

Um mar bravio
alomba
sobre seus passos:
Os passos passados
esfumeiam.

Esquadrinhando
sua própria sombra,
ia-se o cavalo da floresta
perdido na areia...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Preço da Liberdade


Que desejo impetuoso
degustar o vento,
forte e airoso.
Voar, com força total
antecipar o tempo, correr, acelerar
esfumaçar o caminho; furial!...
Ver o borrão num monumento!...

Convergir todo prado
num uníssono verde-cré;
ouvir o motor gritar ferocidade.
Rasgar arado,
pisar com sede o pé
à passageira liberdade!...

Ah! Como é bom, não ter que frear
e apressado, dirigir
saber que não tem pr’onde fugir;
fugir sem saber onde ficar;
fincar-se infindo na estrada.

E na máxima velocidade
sentir a derrapada,
e toda felicidade
flébil
e saber-se ébrio
e atropelar,
e mutilar!...

sábado, 12 de setembro de 2009

Arrebol


Vinde-me n’alma: É o amor louco, imane,
No crepúsculo do arrebol radioso
Que imprime seu brilhar? Trazei-me ansioso
Lume queimoso em todo meu pelame.

Esvaí-me da treva torpe, infame!
Nívea fagulha. Rubro suntuoso.
Chuviscai no meu torso, pois que o gozo
É o lambiscado vosso, ó Brilho ufane!

Mostrareis vosso imenso e insano amor
Na fomentada e esfaimada alvorada
Que toca a carne e a gusta num fervor?

Vinde a fúria de luz amoriscada!
Vinde-me n’alma todo vosso alvor!
Deitai-me à pele então; fazei morada!...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O Meu Encanto


É ela a Flor que tanto me fascina!
A sina dum encanto (em devaneio)
Que eu fosse venturoso num sorteio
Do que ser sorteado a essa menina

Menina tão mulher, tudo que eu quero!
Palpita quando a sinto me ir perto
E faz tremente o passo já incerto
Atenta-me ao pio dos quero-queros...

Que libram caçoando o meu semblante
Pipilam como se me chasqueassem
Achando brega “- Aprume-se, e cace!”
Qual fosse tão simples voar rasante...

Àquela Flor, tomar todo seu pólen
E despalhar por todo o abrigadoiro
Que arquitetei num dos meus sonhos d’oiro
Suplicando o enlace: “- Ah! Por mim, orem!”

Invoco-nos as núpcias deste sonho
E mal me sinto que estou absorto
Acordo entregue à realdade, morto
Envergonhado por ser tão bisonho!

É quando ela me fita, e o mundo explode
Num estrondo, quando me diz “- Bom dia.”
As pernas tomam vida, e fugidias
me morrem num embatucar de bode...

Já morto, o que fazer? Eu não sabia!
E os quero-queros a escanir-me, loucos
Refletia a resposta: “- O moço é mouco!”
Mais alto do que eu a murmuraria:

“- Tu vais ser minha, este é o meu fado!”
Na esperança que não caísse escombros
Caíram, quando ela me deu de ombros
Desentendendo (ou tendo-me um tarado?)

Com rosto cauto – assim eu lhe senti -
Como se palavrão tivesse dito
Talvez não saiba que lhe faço um mito
- “O que você falou que não ouvi?

Eu bleso, perplexo pra articular
Emudeci num torpor indistinto
E a cabeça falando o que não sinto
Mostrara-lhe um desdém num denegar

Ela partiu, amuada, para o alheio
E eu com minha atitude bizantina
Deixei que o meu encanto que era sina
Ser só tina de pranto, um devaneio....

domingo, 6 de setembro de 2009

Passagem Para o Mundo Lírico


Poucas coisas estimulam
a Passagem.
Uma paisagem;
Uma noite, um açoite;
Os ventos que ululam!...

A ventania é onírica.
Inda mais crassa e de pernoite.
Um passo para o mundo lírico.
Remexe os cantos do mundo
que se convergem em toda vizinhança
do pelame.

Os dermátomos se incendem!
Põem-se a retumbar sensações apoteóticas!
A impressão é imane!
E assim, sentem-se, de dentro pra fora
os uivos do lirismo de outrora.
(e não somente sensações).

O vento leva-me à inferência:
somente numa casca de poeta
se podem sensações, repletas
de profunda magnificência.

E magnífico é sentir,
em cada rajada,
[a vera poesia
a pacatez etérea
que precede a saraiva
trazida em ventania...

Lá fora, o Universo
sendo - como um liquidificador -
pelo vento... limpo.
E quem não o sente:
cada esmerado verso
torna-se impo...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Tirania


Como quem prende e laça a caixa craniana,
Tão presos na corrente, estão meus pensamentos
como um presidiário, detido em julgamento
deixando livre e solto, o ritmo da gana...

Que faz descontrolar de si o discernimento
perdido na loucura, já em mim, circadiana
Focar - na que repete sempre diluviana -
imagem, que me enfinca num luzir constante

Minh’alma se estremece e prende energizante
neste bom sentimento, esta lembrança bel
que me imbuiu a mente, e lhe tornou insana...

Parece estas argolas, me prenderem ante
a um pensamento só. Refletindo meu céu:
é a alma de amor inteiro, que se faz tirana!...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Eu Quero



Eu quero tua vontade; a mais escandalosa.
No teu sorriso, o infinito
mais vasto e bonito:
um lago donde não haja margens.
Quero gargalhada polvorosa!
Degustar todas tuas imagens!

Eu quero tua careta mais estranha.
Aquarelada de sulcos de manha!
Por toda lindíssima manhã!
Quero a loucura em teu elã!

Quero, e quero muitíssimo,
de um orvalho mais lídimo,
a tua boca, mais molhada;
mais tremente de luxúria;
mais falante de saudade!
Quero dela o beijo em fúria!
Quero beijar-te em eternidade!...

Eu quero o teu coração
descontrolado em demasia!
Quero teu arfar
mais infinitamente perdido,
de alegria!
Quero pulsá-lo poesia!
Quero cantado, ouvido
ressoado em melodia!

Quero andar junto ao teu andar..
e não tropeçar pela nossa diferença.
Quero amoldar
numa sinfonia, os passos;
da nossa presença!
Quero, dos teus pés, um largo abraço.
Quero-te até na infinda ausência!...
No caminho mais lasso!
Quero calos de benquerença!

Quero estar sob o polvilhar brilhante
de quando vir mexerem teus ombros.
Quero estar ali, dentre os escombros
de meu Abrigo-Luz, de minha Fortaleza!
Quero ser livre pra te morar!
Sem ter, nem mesmo, certeza!

Quero poder entrar, sem sermões
insolitamente, aos teus olhos
Ser, por eles, sugado
e nunca mais poder sair!
Quero pintá-los constelações!
Quero, amada, te sentir
em minhas lágrimas como etéreos clarões!

Quero-me toda alma te impelir!
Quero teu corpo; meu calabouço.
Ser detido, cativo, aprisionado...
Quero-me em ti,
completamente impregnado!

Quero, em tua alma, meu Sonho de Paraíso;
meu eu mais liberto, mais genuíno, mais liso!
Quero me ver quando te chamo!
Quero toda impressão
que nem como poeta teria.
Quero comichar teu coração!
Quero dizer o quanto te amo
e o tanto que amaria!
Quero gritar que tu existes!
Quero chorar porque tu insistes
infiltrar-se em mim.

Quero, sem estacar de querer!
Quero da fruta mais doce; a inveja azeda!
Amagurada! Treda
pela tua existência!...
Pelo teu sabor!
Quero-te tanto, Prima-Flor!
Quero saber-te, em fereza,
teu inestimável olor
o mais perfumado da Natureza!

Quero estar menos ontem,
muito hoje e mais amanhã;
Quero todo o atemporal de meu afã!

E que o mundo inexista
com toda complicação contida nele
quando em contigo!
Que não haja mais luz!
E que em toda imensidão escura
eu possa ver o pleno amar
a brilhar, sereno
nas constelações do teu olhar...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Ciclo


Assim eu quero o último suspiro:
Soprar fúria; raiva de amor tremente
Como quem solta ao ar, e apanha ausente
De escuridão, a luz que lhe confiro...

Assim quero explodir tudo que inspiro:
Forçar-me a boca morta e ineloquente
Tossir de paixão louca e efervescente
Ouvir o amor no som que vier dos cílios

Piscar, quando os abrir na sua frente
E assim lhe eternizar; fotografia!...
Prendê-la à mente num último flash

E quando vir o meu cílio palente
Saber que lhe fui, d’olhos, poesia
Que no meu ciclo a amei... e agora o fecho...

Pular


Pular! Pular incrivelmente alto!
Cair no asfalto, então, ser aplaudido
Produzir sismo, ou simples alarido
Tivera amor?
- Amar sem dar um salto?

Cair sem pretender nenhum ressalto.
Avante, sem sentir ter-se caído
Cair, sem nem mesmo ter-se instruído
E quando em dor?
- Ser-me dor a ser falto...

Pular, saltar, direto para a vida
se ter enternecido na ribalta
Por que rapaz!?
- É o amor de mim, peralta...

E mesmo se cair, em meio ao povo
Morrer de rir, então saltar de novo
Por que se faz?
- Pular é divertido!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ir


Ir para se onde for, sem mesmo olhar
e quando olhar, saber por que está indo
sorrindo, sem nem mesmo se lembrar
andando, até sangrar, se haver sumindo...

Ir, e singrar sangrando sal ao mar
e ver todo seu sangue se extinguindo
espargindo nas Ondas do Amar
e se expiar da vida em se esvaindo...

Ir, e se aproveitar toda paisagem
se então lembrar-se da ausência de cor:
aquarelar avante a sua viagem...

S’inda vier à mente toda dor
sentir a vida branda agir na aragem
e ter-se ido, enfim, de encontro ao amor!...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Reunidos e eqüidistantes


É na lua
que sinto o toque
da tua existência.

Reflete-me a concomitância.
E por que não, tua essência?

Alumio-me dum sonho, contigo!
Faço-o engrenagem do porvir.
Tão tátil como o toque airoso
do seu ser em meu espírito.

Faço da alma uma pelugem de luz
que se emaranha por entre a tua.
Os céus inflamam de inveja desta criação:
haver-se-á luz!...
Como jamais houve!

Faço ter-me amoriscado
sem ter mesmo enamorado!
E indo, vou--
“- Vou ter contigo!”
Diz-me a lua.
Codificando sua rutilante presença
em amor lídimo.

Volto a fitar a lua,
sobre a pedra que sustenta meu corpo.
Volto a finar à lua,
o insólito voo de minh’alma.
E cá, presciente e sentado,
inda reflito nua
tu’alma
[nossa alma...
A reluzir, tautócrona.

sábado, 15 de agosto de 2009

Meu Sonho Perfeito


Sonhar! Sonhar muitíssimo perfeito!
E debruçar por sobre as suas pintas,
Meu Sonho... pintado co’a melhor tinta!
Sonhar com suas luzes no meu peito!

Sonhar e atar, apaixonadamente,
nos ombros apolínicos, que dentre
as perfeições das linhas do seu ventre
macio, repouso perdidamente...

Sonhar!... e como nunca sonhei antes!
Fazer do sonho de pureza infante
maduro e resistente como aço!

Ah! Sonhar! ...e acordar sem acordar!
E quando o mundo em volta nos chamar,
sonhar de novo em tê-la nos meus braços!...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sinfonia


Arpejam-se.
As notas luziluzem no interior das caixas.
Num instante; um silêncio puro.

O ouvir é tanso;
o sentir é tenso;
a arte é mansa,
como são mansas as notas
que se compõem na aragem:

O dó, é tão diminuto como a coragem;
o ré, avança esganiçado
esperando o sol fazer-se acorde;
e, aos ouvidos, o acordo canta,
os lábios mordem-se;
como se mordem os elogios que se encantam.

As sobejas notas outras
se guardam em segredo
como se lhes guardam as bocas.

E, quando libertas, se anseiam
e se contemplam numa plena melodia:
Nossa conversa; o bem-sonante
e mavioso acorde – concomitante –
duma bela sinfonia.

Preenchendo-me


E o vazio me impregnava
no transpirar
de cada eco
de minha escada...

E se bramava
pé ante pé;
a Solidão...

E como nos sonhos
cada passo
era desandar
à Besta, o abraço;

Correr, a acelerava.
E se parasse
ser-me-ia engolida...

É então que me acordo e percebo:

Nasce de mim
como se nascem anjos,
o alvedrio de tornar dum pesadelo
mais um ser
a preencher;
todo meu Sonho!...

Como meu dia-a-dia,
meu hoje, minha vida:
Ver na poesia
meu poeta;
minha própria companhia...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Aljôfar


Visto-te! Ó Musa!
Bordo meu fraque de versos
no melhor sonho; (tecido...)

E o paletó
é o sol maior
que plana do soneto
e se embruma em pequenos lumens..

Ó! Musa!
Desvisto-te-me à lira!
Que infindo deslumbre!

Tento encontrar
teu aljôfar
num Oceano...

Seria como achar
na imensidade de tu’alma,
um mim, timbrado...

É quando em arroubos,
meus olhos poéticos marejam.
Despeço-me do melhor floco de orvalho
que goteja no Oceano...

E no meio do imane salobro
sinto o átimo doce
a molhar toda minha roupa...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Agradecimento


Ao que parece, venho sido benquisto pelo bel mundo literário. Fito leitores de todo canto entranhando-se às poesias aqui postadas. Decerto que titubeiam nalguns versos, quando estão a bailá-los com olhos céleres, porém com uma dose de vigor e profundidade, não hesitarão terem-se tateado cada verso aqui composto.

Há algum tempo, escrevi "É Quando Fecho Os Olhos", uma prosa poética que aclararia a sensação que me faz escrever. Verazmente.
Esta sensação - um ouvir incessante - não tem forma, nem cor, nem sabor, odor ou som. Não está a capricho de quaisquer sensações cônscias que me pode ser descrita; e ainda está! Entretanto, é insciente, como um fremir informe que retumba até que eu estaque a descrever. Não a ponho em negação e, talvez, não a represente perfeitamente.

A propósito, como se consegue ouvir e descrever um silêncio folgaz? Ou um não-manifesto insípido, ainda que tão apetitoso?
Tenta-se, e tenta-se. É a arte do hiato interior que se representa! E é o que apetece!

Portanto, peço desculpas pela infixidez dos versos compostos e, enternecido, venho agradecer a todos os leitores que por aqui passam e femençam 2 minutos de seu encarecido tempo para sentir quaisquer poemas aqui postados.

E que fique na mensagem supracitada, ao menos, o singelo sinal do meu prazente carinho por todos os leitores. Afinal, o que seria do vazio, não fosse sua busca pela completude!?
Assim, lido, me completo.
Obrigado.

Osvaldo Fernandes

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A Cimitarra



Suplicando ser investida:
avançar, pura e cortante
e talhar, insanamente
a linha berrante
duma carne incandescente,
de, metal, desprotegida;

Ceifar-lhe em densos sulcos
e se lhe haver embebida
do sepulcro;
Regozijar o exangue ardente...
e espraiar das vísceras pampas,
o sangue, per se tanto encovar...

E na cor que se renovar;
brilhar a champa,
em carmins raios de sol!
Farfalhar, tornando escol
quem em anos tantos, lhe empunha
e com esmero lhe acabrunha...

Duelar com a fronte,
doutra luzida em guarda-mão;
ser brilhosa, soltar-se em clarão
quando aos trapes e fagulhas!
Despontada ao horizonte,
refletir-se no pombo, que fita e arrulha
um purpúreo pranto de revolta;

Se embotar, posta de volta
relembrar, já embainhada
que investida puramente,
perfurando, faiscando n’outra espada;
viu-se em carne desalmada,
viu-se brilho de rubim!...
encovilando e, foscamente,
maculando seu talim!...

domingo, 9 de agosto de 2009

À poetisa dos olhos verdes


Ó! Poetisa, amante da poesia!...
a nós, esplende os olhos e recamas
este sarau, assim como qual amas;
inspira, em versejar; belezaria...

Não há poeta que, sequer, não faça:
deixar-se inspirar pela tua presença,
deixar-se-lhe imbuir todo em querença;
não dedicar um verso à tua Graça!

Como se estrelas fossem esmeraldas
são teus olhos, assim, tão verdejantes
que Deus, p'ra todo Universo, agrinalda...

Medito aos céus; enlevado ao Universo!
Um cometa irrompe a verde calda;
é a tua beleza que me balda em versos...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ser Poeta


Ser poeta é descrever
o indescritível
é saber sem mesmo
saber!
É dedilhar o esmo!

Ser poeta, é sentir;
despir-se dos sonhos
deixando nua a alma...

Ser poeta é engrinaldar a calma!

E de todo sabor desconhecido
que se não mostra nem salgado,
azedo ou amargo;
saborear...

Como algodões-doces
que gusta à língua
dos olhos!...

Como atufar íngua
que entorpece
e explode à folha
que, com tinta, tolho,
toda alma...

Ah! Se poeta não fosse!
Sobrar-me-ia à míngua...

Vida: O salto pra morte



Invisto à gravidade, pelo prédio
e a cada andar que vejo, me é tão rápido
não dá tempo pra que algo seja sápido
e isto me seca à boca um voraz tédio...

Tombo em profundidade para a morte
Se ao me empoar no chão, terei pensado
se os braços, adejei, determinado?
Ou desejei que voar fosse sorte?

Mas quem, de fato, consegue voar?
Implume? Como não poder cair?
Se à vida não conseguimos fugir;
se o tombo, independente, haver-se-á?

E a vida arquitetada no edifício
o qual me salto, com asas de chumbo
na certeza total que, ao ar, sucumbo
mas não mi’a energia para o ofício...

que é viver para a morte, assim, saltante
sentindo o vento forte como aragem
admirando todas paisagens
e assim fazer meu fim, bem mais distante

Por se saber mais sápida mi’a vida!
E por tocar, o vento, no meu peito
esta energia, eu sinto, porque aceito
a morte, a me esperar; não mais temida...

E o tempo já não passa como outrora!
É tudo tão mais belo e colorido
em cada andar que fito, enternecido
reflete o etéreo lume de mi’a aurora...

Que dura o tempo que eu chegar ao chão
e enquanto não chegar, vou poetando
cada segundo, até que, em me empoando;
morrer não afetará meu coração...

sábado, 1 de agosto de 2009

Solidão


Como filhote de olhos rutilantes
que afago com amor e lhes desejo
o lume que me alumbra (de sobejo)
é a solitude que se faz atuante

Viceja em minhas eras, sem limites
meu vácuo quebrantado em amiúde
transforma parco, sem mais atitude
meu ser, que em solitude, se admite

Filhote meu que ladra ineloquente
e se és tão racional quanto as carícias
- desvelo... mais parece excrementícia! -
que comporias o ânimo abducente?

Que me gatunarias meu furor
deixando-me impotente em todas eras?
A sarna do amor, também alteras
em vil vazio, a coçar cabal dor?

Mil vazios de completa pelagem
é assim que a solitude se alumia
e faz varrer, de mim, como um cão guia
meu eu, em me tirando a alunissagem...

E não mais brilho em mim; nem como lua!
Nem como estrelas... me torno penumbra
não mais viajo e toda vida é úmbria
debruada em minha solidão crua...

E ao me iludir e se ter afagada
mi'alma se fez canil, assim tão só
e até meu fim... até que eu vire pó
levar-te-ei, de mim, minha cachorrada...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mais uma dose


Mastigo as doses de morte
e bebo o enfermar de hemoglobinas
aspiro a fotocópia ruim do gen
e deixo para a vida só a sorte
como se a morte não fosse ninguém...

A sorte de viver
na morte, sem sofrer
e morro do correto
o que parece esperto
até, enfim, chegar...

E enquanto não me chega
e não adoeço de minha zoonose,
o que me vive,
e me aconchega
é ter mais uma dose...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Soneto do Amor Amigo


Por toda vez que me senti tão só
por todo seu se estar do dia-a-dia:
ter lhe feito, quisera, sua alegria
de ver-lhe, às poesias, a melhor

De ver o amor que mais apetecia
que era poesia, (e nunca dor)
da amizade, que se houvesse, qual for
que com candor, perfeita, engendraria...

E apetecia porque era tão vero!
Como se fosse, em ser, mais um abrigo
os amigos quais choro em ombro e esmero...

E choro por tê-los, pois lhes bendigo:
- Louvados são aqueles quais venero! -
Que pungem em minh’alma o amor amigo...

sábado, 18 de julho de 2009

Cachorrinhar


É vendaval
dum vai-e-vem que não pára
e se pára, é por entre as taras
de ir-se vindo
e provocar

É ventania
ritmada, parada... ritmada...
constante e inconstante
é cheiro alucinante
e poesia pulmonar.

É fazer arfar
flocos de dormência
adentro aos sensores
de buracos moucos
é respirar, inspirar e expirar
por seu apetite-acorde...
a um inaudível som
deveras louco...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Do curandeiro falecido


E viu tal mundo lindo se formar
onde o talento canta-se em inglês
onde o sentir do mundo - em egra tez -
é grosso de candura e afeiçoar...

Sentiu: todo negrume é muito pouco!
Pois na criança viu que a cura mora
cantando ao mundo su'alma canora
Talvez sonhasse com ideal louco...

Ou não! Talvez se fosse a realidade!
Ou sim... seu pueril conto de fadas;
real, por aspirar vera bondade...

No céu, consonou junto ao lindo sol
foi quando então viu que tudo se acaba
até o mundo vil, com demerol...

domingo, 5 de julho de 2009

Da morte completa do poeta


E quando em pó lembrar como foi seu passado
Quando se foi poeta o tanto de amargura
qual, nas folhas, rasou - e toda sua candura
pensando que foi cura os versos mal amados

E quando inexistir, se ainda houver cesura,
se foi mal feita a cura - assim como o versado;
também o versejado, impuro e malcriado -
que achou que era candor (não era, porventura)...

Não era nem amor! Também não houve sorte...
criou meras sandices, criou pra si a morte
em escolher os motes para seu criar:

Amar o indelinquente - e lhe julgar ainda!
Beber ineloquente a sua vida finda
Morrer inteiramente, sem sequer amar...

sábado, 4 de julho de 2009

Folheando


Vivalmas! Escrevo
lendo-lhes as almas que folheio
com os dedos de poesia

Cada estrofe, uma catarse
que volve brilhos
e salpicos de humor...

Cada letra baila etérea
e se harmoniza
numa frase angelical

Cada vida é um best-seller
Leio-a em simpleza
ainda qu'em esmero
como um enamorado
que lê o céu
tão infindável...

Fico somente alma
e a impressão de cada essência
fica no ar, que inspiro,
ao folhear...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Da pureza inata do poeta



Lê e aprende atentamente! Sim?
Vês o tsunami tão frequente?
Lês o verso fel tão complacente?
És-te a casa, és-te um; sem ser fim...

Menta e vê e sente! Absurdamente...
Quartos já borrados de carmim
trovejando em todos os jardins
aviltando o ser inteiramente

Versa e verte e chora teu candor!
Pinga tuas faces! - tais em bruma -
Cede ao mundo sujo um expiar!

Esparge gotículas de amor!
Fecha tua janela!... e te esfuma!
Defuma o mundo vil com teu amar!...

terça-feira, 30 de junho de 2009

Bailar-te-me



Danço-te: - Os pés cambaleantes:
seu trejeito é prazer da memória;
passo a passo, meu sorrir d'outrora;
na canção que se toca constante...

E me toca, de fato, oscilante
tal acorde que adentro me chora
e me verte em coréia, embora
perdido é teu passo marcante

E nostálgico, como na infância
onde bailei sereno e amigo
o velado amor que se fez dança!

Qual agora sei-te-me no abrigo
a meu lado, te mento em pujança,
a dançar esta dança comigo...


segunda-feira, 29 de junho de 2009

Do amor que se passou



Pois quando me chamou pra ser amigo
deixei que enfim pudesse me explicar,
há muito se olvidou, pois já não ligo
percebe esta clareza em meu versar?

Se não, peço desculpa a ti por ora
Saiba, que até mesm'ante a explicação
como talvez pulsasse em mim, outrora
não pulsa mais por ti, meu coração

Então procure abrigo em outro ser
Tenha-me como amigo meramente
Espere outro rapaz lhe apetecer

Pois se já não me esquece facilmente
Saiba: é tudo graças a você
que fez-me eterno em ti, completamente.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Paráfrase em Pessoa


Quis dizer num saino verso
todos os meus ais
eis que não me fui capaz
de, como tal, lê-lo...

E o inverso
foi sentido;
não o escrito com zelo
da razão!
Mas um novo
qual não se pode tangê-lo,
senão com o coração...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Voo espalhado



Doravante!
Adejo-me ao paraíso anil
Espalho meu voo
por sob o sentido da vida!

Um pardal me acompanha e, presente, ri.
Vejo-me implume
e percebo-me haver!

É quando o astro-rei,
de forma vil,
liquefaz a realidade
com seus chifres queimosos!

Despenco,
tornado às minhas quimeras.
Nelas, me cubro de anil
e sou paraíso.

(Imagem de Bianca Muzillo)

sábado, 13 de junho de 2009

Embora de mim...


Se porventura quiser ir agora
deixe à memória, imagens de candura
viagens de brandura qu’em outrora
fazia a aurora incender minha cura
em suas juras de amor que desarvora
e chora, por não ter sido mais pura
e ri de minh’amargura que aflora
por ora, enquanto prendo-me em agrura
que dura tanto!.. Um pranto que deplora...

E decora-me a face com brochura
e fura cada linha dela, embora
o que apavora é uma imagem dura
que apura minha ferida e colabora
a entrar outra senhora - que me acura -
qual minha augura almeja e comemora
e quebranta pra fora da cesura
a armadura que dentro você mora

A tora sem seiva da nora impura
da mãe-cultura que me imbui e colora
de linda vida que agora é alvura
que lhe censura em mim; desincorpora
e então cá fora, traz minha brandura
que a essa altura, lhe esquece por ora
e adora tê-la longe e lhe conjura:
À aviltada clausura;
à seiva que dessora;
a minha andadura
que me faz ir embora
tal qual a desventura
que me impeliu outrora!...

domingo, 7 de junho de 2009

Naufrágio



Ah! Tanto que lubrifiquei minh’alma
Velejei na palma a vida andarilha
Que perdid’em amor, cedeu sua quilha
Descontrolada ao passo que o terror
Que roga, impele, afoga, e tira a calma
Desalma o amor e me naufraga em dor

Ah! Tanta dor que ao futuro me tolhe
Pois inda me desejo o amor que acolhe
Dum rés passado vil, de temporais
que num pingo colheu todos meus ais,
e n’outro me escondeu no meu convés
confesso, é este por ora meu revés

E o barco da vida prossegue mal
De fato, sem amor, porém com paz
Que faz, duma tormenta, evadir ágil
Trincado, pois, audaz, segue-me a Nau
Que tão irreal, se reputa incapaz
De vir à superfície pós naufrágio...
Pois acha-se Nau frágil e se endura
E abissal lembra: é ao-mar que traz a cura!...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Meu Eu Pardal


Deixo-te acompanhares
qual revoada que me apanhares
voando, à Pasárgada nossa
para que voar, também possas

Deixo-te minha vivacidade
qual espalha o sentimento
por sobre esta distante cidade
que se estreita, ao sentir-te num adejar ao vento..

Dou-te o alento
que necessitas
debruo-te, e palpitas
no meu batimento...

Dou-te-me todo
e todo meu engodo;
meu chilro elegante!!
Dou-me, a ti, ao vento
num céu
doravante...

Dou teu sonho de céu
deserdado de tormento...

Simples assim


Assim
em meus lábios
macia, cheirosa e gustada

Assim
em meu nariz
molhada, quente e passada

É ela:
vontade desvairada.

Tarde demais


Quando a manhã grita
em resposta ao espreguiçar,
os olhos fortuitos que a fita
também fita o desejar

O sonho se prolonga
em salpicos de euforia
e sem mais delonga
cobre a alma,
com o véu da alforria.

Em si, toda essência arde.
Num fritar de paz
e de luz, põe-se à tarde...
Tarde demais!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Guerra; Paz

 
A guerra do meu ser então poeta
é ter a paz, senão obra completa
mesmo com verso vil que foi vertido
nos sons rasos do obus então subido
que ao cair na folha explode a verve
e toma o anonimato que não serve
àquela guerra que me foi imbuída
ao ter-me sabido só, um cavaleiro...

Primeiro e bem ferido, pois, melhor
que o vilão que verseja o lisonjeiro
sempre me procurado em toda vida
e ao guerrear por minha paz já tida
bolino a guerra que se faz pior...

E a inspiração se posta por algures
quando em frente à guerra posta o vilão
na estrofe garrida sob abajures
que brilham um emanar; decepção...

É quando o cavaleiro melancólico
bruxuleia incessante sua lira
não há, pois, anonimato que o fira
quando os seus versos saem diabólicos

N'outrem su'obra punge mais e mais
é quando a guerra acaba, e temos paz.

sábado, 30 de maio de 2009

A Beleza De Todas As Eras

 
Contemplo aos meus,
os olhos teus,
e são estes que violentamente
penetram-me n’alma clemente,
como doces punhais,
e exauram-me os ais.

Adentram pomposamente aos dantes fechados
sulcos feridos e até então inflamados!...

E é quando a minudente cova visitas,
e a mesma inflamas
de tua pulcra chama;
Os cristalinos, então salientes
e admirados pela beleza pungente
que de ti emana,
casquejam-me em ver-te
e verter-te
na mais salutar lira
de brilhosa safira...

E me faz saber-te
a mais quista intrusa
da mais confusa
viagem insólita de mim.
A graça do meu pulsar carmim.

E enfim
Por ti, enterneço
E logo, estupefato, me pergunto
quão fui do olhar, defunto!...
Quão fui do belo acaso, sem apreço!

Meu terno olhar que já te venera,
sabe-te fruto do exotismo
há-te minha quimera:
meu incólume abismo;
minha nova era!
 

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Tens


Tens a idade qual quiseres;
a beleza, por Deus -
em imanente abundância -
esmerada.

Tens o olhar que convieres;
o sol, quando nos olhos embarcam
e refletem-te, em nós -
tempero e pura - temperatura

Tens os tons do olhar de cura;
o ozônio que o lar falta;
a camada malta
por dentre toda.
Inda és altiva candura

Tens a boca que almejares;
os sonhos comestíveis
orvalhados tão em quaisquer
mais aveludados beijares.

Tens o mote abstrato
do poeta; substrato intocável
das mais incônscias
sinestesias

Tens em mãos a fantasia
tens-me toda poesia.

Expresso de Suas Cores

 
Vejo-a em vermelho e rosa
O vermelho é poética prosa
Em seda leve de poesia
O rosa; tem cheiro de fogo
em ventania
que se eleva
e me enleva
por toda espinha; meu engodo!...

Espinalmente
afere
Eis qu’então eferente fere
ansiosamente
o filho carente;
que a sentir é grato ao Grand Père!...

Cores que abrilhantam a tez de você
Fortes como amônia
Leves como azuis-bebê!
Sabor intangível; macedônia!

E, a toda íris se purpureja
Arquiteta o céu
Pondo o arco por sob o véu
Este, que nunca dantes fora parco
em qualquer menestrel
que somente a bordeja
inundado em seu próprio charco...

Errônea Beleza

 
A vós
que me lerdes
apenas em beleza

São sóis
que incineram
minha incerteza

Arrebóis
que brilham meu ego
e cegos
contruirdes como em lego
cada trecho piegas
do torto caminho do poeta

E mudos
com a voraz autocrítica,
arquitetardes na poesia
uma fantasia:

A lindeza carmim
de versos
por vós lidos
como surdos arlequins!

Desvenerai vossas visões!
Que somenos é o meu atraente!
Vultoso são-me apenas versos vertentes
manifestados
em plurais corações.
 

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Poesia na foto


Ao ver-te
retalho-me em cacos de aurora
minh'alma: tão reluzente em ter-te;
tal como em outrora
donde vertia a lira
em pergaminhos doirados
de versos-safira
aos teus fios encaracolados.

Seu sorriso confina
seu rosto de moça
sua pele tão fina
su'alma menina

A vejo, poetisa
daqui deste lado
sinto-lhe os olores
e fico encantado
com toda fereza
que me magnetiza
em todas as cores
de sua beleza.

Já muito me importo
ainda que aprecie
somente uma foto.

Do Soneto Que Voa Liberto


Não se prenda a estes vis invejosos
Com fereza, fruste toda ética
Das es-me-ra-das li-cen-ças poé-ti-cas
Dos e-neas-sí-la-bos po-de-ro-sos

Use toda forma de nenhures
Todas as métricas dissonantes
Torne-se fraudes em meliantes
Aprisionando versos algures

Viva! Voeje, rouxinol-rima!
Bata as asas, doravante e acima!
Encare o papel tão sobranceiro!

E quando o canto se espalhar, pouse
E neste soneto anarquista; ouse!
Sinta su’alma enlevar primeiro...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Nunca mais

 
Não! Nunca mais
não quero ofegar com o ar
nem afogar com o mar;
não quero andanças
sequer lembranças;
não quero, à espreita, paz;
nem ânsia, nem 'ais'.

Não quero bolinar o esqueleto
a ponto de animar
o já inanimado
esquema eleito;
não quero feito,
desfeito ou defeito

Não quero mente;
verdades, mentiras,
dor de dente,
amor de crente,
solidão, saudade

Não quero tudo
e nem nada;
não quero sorrir
nem palhaçada,
circo, Shakespeare, sarcasmo;
não quero o vil do senil marasmo

Não quero inteligentes
nem dementes
sequer o saber!
Não quero nada seu
nem tu, eles, nós;
nem mesmo eu

Não quero estar incompleto
não quero teto
não quero neto
sequer afeto

Não quero morrer
e também
não quero viver
com ou sem
aquém ou além

Não quero ser
nem estar, ser
poeta, pateta
amar

Não quero matemática
química, nem fazer história
muito menos, nela, glória;
não quero geografia
nem ciência
não quero consciência
nem pensar;
descansar

Só quero apenas
reticências...
na paz
de nunca mais.

Sáturos

 
Perambula em meu lar
da relva rente de igapó
e vagueia o olhar
por sobre a floresta
rústica e aparente funesta
qual lhe fosse de cór
cada vida incesta

Os chifres sempre à frente
a reflorestar com o vil véu
que se mantém por sobre o mangue
onde o guaiamu clemente
roga aos céus
pelo seu sangue.

Assim, o sátiro com pernas de cabra
pulula os infestos de outrora
ao arboreto - que então chora

"- Que não abra
a caixa de Pandora!"

Copioso, pelos caules, berra -
Já ribombe embora,
a elétrica serra.
 

domingo, 17 de maio de 2009

Ofício: Conspirar.


Tudo conspira
em favor
do labor.

Tudo conspira
no labor
em favor

Do mesquinho,
Do gabarola pacato
da fofoca maciça
do puxa-saco
e da preguiça

Tudo conspira
e compila
o labor
ao ser sem valor

Na labuta,
mais me vale,
a prostituta.

Esta tem pudor,
Sr. Diretor!

Meu horrível Barcarola

 
É pra já
um jato
de cola
no meu 'barcarola'

É pra já
antes que me recolha:
colar a folha;
cortar o mar
e de novo versar

É pra já
seguir o Augusto
sei qu'é muito custo
igual versejar

(pretensão se comparar)

Mas é pra já
Dos Anjos, um obrigado!
Mergulho profundo
neste lírico mundo
e me hei afogado
em barcarolar.

As musas


Ó! Estes orvalhos d'alma
que ao meu riso, é geratriz
carvalho liso da floresta entusiasta
donde a belezaria se espalma
numa flórula locomotriz
que de encontro a nós nos basta!

Ah! Estes pingos de sonhos!
Estendei vosso verde olhar
por sobre nosso fascínio!
Divas de semblantes risonhos
que nos prendestes no flébil cortejar
e atraístes de nós, vosso domínio!

O beijo, qu’em vãos pensamentos,
abstraíra-nos das vis imagens
e nos impregnara o indubitável sentir
de etéreos alentos
conforme seus hálitos - trazidos em aragem -
no toque hidrato, fizeram-nos fruir...

Que é das cascas ilusórias?
que é dos estares incompletos?

Onde as ligações nunca feitas?
onde só o belo que se enfeita?
onde os gris semblantes? onde os coxos andares?
onde nossos, em tê-las, pesares?
Vós haveis!
Tal qual a inexistência
de vós
em nossa fádica consciência...

Vós sois, não somenos
fisionomia prazenteira exclusas
Mas sois assim, já de vossos estares
a nós, tão buenos
Tão lisonjeiras e completas musas!
De todos nossos amares!...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sorry

 
Sorry,
nada sai
tudo se esvai

Nem mesmo uma rima
nada, nada mesmo
estou a esmo

Sorry,
estou branco
saltimbanco
da poesia

Sorry,
não sorria
sou eu
sem tema
nem fantasia
com poema
que já morreu.

sábado, 2 de maio de 2009

Ser livre

 
Livro-me de ser preso
Prendo-me à minha liberdade
Sou sabiá mudo
Sou maestro surdo
Sou escravo da verdade

Ó! Liberdade!
Porque te acalantas
e não te espantas
ao deixares me tomar?

Digo-te incontinente:
Um amor morreu por outro
deixando-me imponente.
Não te espantes, sentes
tua ação perante sufoco.

Afugenta-te d'outrem
impregna-te no verso
E homenageio a ti, meu interior
meu poeta
livre e trovador.

Amar o amor

 
A distância rés
entre amar e amor
é sintaxe

O amor não acaba;
amar talvez
o amor, não tem furo
é substantivo;
amar, tem pretérito, tem futuro
é verbo ativo

Portanto
tanto amor
por amar tanto
e com ardor
é o próprio amor

Amar não pára o coração
Deixar de amar
é apenas opção
de nosso próprio amor
de nossa própria ação.

Efeito borboleta

 
O acaso
como sutis marolas
provocando efeitos
torrenciais

O descaso
como ondas gigantes
delatando defeitos
impessoais

O desígnio
desenredado
nas areias
duma ampulheta

O tempo
houve inexpedito
e sem nexo:
efeito borboleta.

À poetisa

 
De que me serve
rimar e versar
se não te houveres, Verve
a poetizar
na excentricidade?

Tais versos a alvejar
minha tenra altividade
faz-me espreitar
em embaraço
ou talvez,
poetisa-Verve,
fade-me realmente inspirar.

Ficar-me-ia possesso
e ter-me-ia em chatice
se te não versares
se me não rimares
se tu não existisses.

Saí de mim

 
Ao despertar
dormeci
era eu, sem me estar

Era eu, unicamente
procurando-me
entre o mundo e a mente

Era eu, lacônico
no real;
e difuso, no platônico

Era eu, e eu
me vi
e não me vim
eis que estava; e não estive
em mim.

domingo, 12 de abril de 2009

Sol da noite

 
Desejo o Sol da noite
Que me importa se queima soberba?
Se os raios filtram-se alheios
enquanto esquenta multidões?
Mesmo que no frio
desejo o Sol da noite

O exemplo, o belo, o filho burguês, o vil mascarado.
Sentem-se donos do Sol da noite.
Afoitam-se e descobrem-se em açoite
na noite do Sol da noite.

Hiperemia, queimadura e prazer;
tudo é o Sol da noite.
Não há nuvens, nem brumas.
Na pele borbulha, despalha, impregna o desejo,
meu platônico Sol da noite.

Viajam-se constelações
Luas nuas. Não lhe ponha adornos, elogios, busca-beijos!
É o Sol da noite, dos incandescentes lábios.
Seu brilho encaracolado no veludo incinera impressões digitais.
Nenhuma luz pra mim.
Só porque QUERO o Sol da noite!

sábado, 11 de abril de 2009

Peregrinando no desconhecido

 
Assim, no desconhecido
um elogio singelo
talvez, algum elo
um carinho dividido

Assim, ainda n'alma desconhecida
uma mensagem despretensiosa
que se mostrou ao poeta; embevecida
e decidida, a sentí-la tão maravilhosa

Num verso, o real valor
Numa estrofe, a profunda vontade
Uma terna beleza; interior
E aos olhos; inefável beldade

Neste perfil, me enquadraria
que pintura agradável
és explosão de poesia,
inspiração... irrecusável.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Flor que almejo

 
Que queres de mim?
Por que rasgas meu coração
quando te mostras?
Por que me enches de medo
e destróis minha autoestima
só por existires?

Por que teu oi é deleite?
Por que cada sorriso te é enfeite?
Por que meu coração treme?
Por que minha coragem geme?

Que queres...por favor!
Não me aguento oculto a ti
Não me sustento em dor
não provar-te quem eu sou.

Não me vivo.
Não me enlevo.
Não me quero contentar.

Sejas meu céu!
Em meu varal
prendas tu'alma
tentes-me ao léu
busques-me
só assim devolver-me-ás
minha perdida calma.

sábado, 21 de março de 2009

Heroína ausente

 
Enquanto presença não havia
ainda assim, a ausência esvaía
Seria um magnetismo?

Que por vezes,
espertar-me-ia
saudosismo?

Vezes mais
esmorecer-me-ia
com minhas lembranças?

Ahh! Minh'alma, d'antes vazia
- sem saída -
Que sentia a falta que a falta fazia
e hoje, não faz,
pois na presença
de ti, ou da poesia,
é minha ilíada
É minha paz.

És minha ilíada.
És minha inteira e terna paz.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Faixa de pedestre


Desatenção!
Faixa de pedestre
Andar arcaico e silvestre.
O mundo não girou.

Nem o próprio pedestre.
À leste da faixa, que já não há!
Pôde compreender o apagão.

Decepção.
Entardeceu.
Mas não anoiteceu.

Só pra quem esperou.
E a sarjeta enfaixada.
Perdeu sua função.

Imaginação


Estrutura.
Que não se vê.
Não se sente.
Bela arquitetura.
Tudo que nos mente.

Holograma real.
Está e não está; é.
Não deixa de estar sendo.
Luz e sombra estrutural.

Tão arquitetônico
a produzir na penumbra
brilho débil, mas cômico
ao ver e não enxergar
quando deslumbra;
ainda que sentir
quando deveras vislumbra.

terça-feira, 17 de março de 2009

Pés atados

 
Os sabiás voam.
A meia esfrega os pêlos
O anil cai sobre a vida.
Entoa.
Sem garrida.
Um tosco ruído.
A comparar o tiquetaquear.

O pé e a meia marcham.
Pra todo lugar e lugar algum.
- "Pra lá. - Pé direito.
- "Pra cá." - Sinistro.
Cotidiano.
Caminho nenhum.
Apenas um.

Rumar o rumo.
Lentamente. Com o relógio.
- Toc, toc..tic...tac.
Sempre descompassado.
Ah! Boa aventurança!
E a meia.
Há anos no pé:
Esperança.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Teu corpo

 
Ah! O teu corpo!
Fogo deleitante.
Teu corpo, espuma delirante.
Teu corpo é a volúpia incrementada.
É vontade desvairada.

Teu corpo é imaginação.
Caleidoscópio de cheiros; sensação.
Sugo-lhe com beijos, tatos e mãos.
Sorvo-lhe em carinhos; tensão.

Teu corpo é rock pauleira!
Teu corpo é new wave.
Sempre me teve,
Grácil como a leve aterrissagem
Dos beija-flores nas amoreiras.

Teu corpo é tudo que desejo.
Um enlaço insano que almejo.
Que alvejo.
Toda noite nos lençóis.
Que me prendem.
Lambem-me.
Teu corpo, suculento e algoz.

Teu corpo é-me devaneio.
Quando o tenho em mim, assim
Sinto-me dormente.
Tesão sem fim!
Pede para que relaxe e por ti goze -
Enfim -
Teu corpo tornas o meu
Apoteose.

Rabiscos no coração


Desenhei meu coração
com a tinta de minh'alma
ao terminar: calo na mão;
Na tela pronta: uma vivalma!

Não entendi muito bem
Por que esta pintura?
Meu coração pulsara esta figura?
Daonde saíste, meu bem?

As linhas perfeitamente traçadas
A boca, tão etérea e suculenta
No semblante, a risada
Tão serena! Calorenta!

Logo entendi
O que pintei ali!
Não era meu coração
era apenas a ternura
da princesa
que com candura
tivera minh'alma à mão.

Alma do ser não rebelde


Esta praga revel radioativa
Ferem a todos os seres probantes
Perecem tão mortas as almas vivas
E os nimbíferos pássaros cantantes

Imbui toda raiva preocupante
O ser que d'antes sorria contente
Ao liberar desconforto irritante
Transforma-se em pedância imponente

Su'alma lhe corta abruptamente
Os venenos vorazes que lhe empurram
Ao vazio deste ódio fervente
Dos mouros mentecaptos que esmurram

O espírito se solta e se alegra
Quando a alma, triunfante, o reintegra