Uma poeira presa
à quina da parede.
Passeia distraído
um cachorro ao seu lado.
O acaso é este cachorro
de poeira se enchendo.
É a transformação
de um destino ocorrendo.
Modifica-o com o tempo,
e o tira a origem, cor,
é o que o acaso faz!
(pro estímulo ou langor)
A poeira – o destino;
Nasceu sem liberdade!
O acaso torna fado
outras mil realidades.
E se eu fosse liberto
veria os seus sinais
sutis, que modificam
a minha vida inteira?
Não sei. Sou desligado
ao que vem na dianteira.
Não nasci pra cachorro,
mas sei: serei poeira...
"Quando nasce o amor, em si,
renasce, pois, nas coisas
e as cores são cirandas..."
Osvaldo Fernandes
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Corpo Lançado
E lá se vai bailando pelo ar
com seu vestido prateado, a moça
do morro, da cidade, da favela,
bailando, cintilante, lá vai ela,
avista um morenão alto, simpático,
de cabeça lhe alveja o coração,
perfura-lhe o amor, queima, mutila
e pousa, úmida e rubra, pelo chão...
com seu vestido prateado, a moça
do morro, da cidade, da favela,
bailando, cintilante, lá vai ela,
avista um morenão alto, simpático,
de cabeça lhe alveja o coração,
perfura-lhe o amor, queima, mutila
e pousa, úmida e rubra, pelo chão...
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Mãos
Quando o teu corpo
eu encontrar, tateá-lo-ei
com as línguas das minhas mãos.
Com elas contarei
todos os meus sonhos!
Explanarei, suavemente,
sobre o meu amor por ti.
E quando, de mim, tudo
tiveres sabido
deixarei que as tuas
sejam meu ouvido
a desbravar teus segredos...
eu encontrar, tateá-lo-ei
com as línguas das minhas mãos.
Com elas contarei
todos os meus sonhos!
Explanarei, suavemente,
sobre o meu amor por ti.
E quando, de mim, tudo
tiveres sabido
deixarei que as tuas
sejam meu ouvido
a desbravar teus segredos...
Papel em Branco
Em um papel também renasce a vida.
Saem sons que de sonâncias evoluem
mediante emoções que afora fluem
ora no branco e ora cintilando...
A natureza é um poço de mudança.
Ora está noite, ora está luzida.
Assim que sou, enquanto estou versando.
Em branco só o que fica é a esperança
de mostrar emoção, fazê-los tê-la,
pois que em mim passa o dia, e tudo fora
também passa emoção, sentir, beleza:
tudo onde é branco nasce uma mensagem
como nascesse em nós, mil paisagens
como não vendo eu pudesse revê-la,
e se pintasse em nós, a Natureza!
Disso só soube ao espiar o céu:
A noite escreve imagens nas estrelas
enquanto escrevo letras no papel...
Saem sons que de sonâncias evoluem
mediante emoções que afora fluem
ora no branco e ora cintilando...
A natureza é um poço de mudança.
Ora está noite, ora está luzida.
Assim que sou, enquanto estou versando.
Em branco só o que fica é a esperança
de mostrar emoção, fazê-los tê-la,
pois que em mim passa o dia, e tudo fora
também passa emoção, sentir, beleza:
tudo onde é branco nasce uma mensagem
como nascesse em nós, mil paisagens
como não vendo eu pudesse revê-la,
e se pintasse em nós, a Natureza!
Disso só soube ao espiar o céu:
A noite escreve imagens nas estrelas
enquanto escrevo letras no papel...
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Angústia
Uma ânsia, um enjôo, falta de ar!
Vejo a Terra diagonando em novo grau
Deglutindo a festa ao lado, lhe empoando,
e emanando um pútrido instante mortal!
Eu acordo: “- Ufa! Graças! Pesadelo!”
Não me agüento: chego às claras da janela
E tremendo inda lhe dou uma olhadela,
Há falanges e uma mão, ensangüentadas(!),
da vizinha! Morreu, ei-la esquartejada...
Um enjôo, um desmaio e estou no chão.
Todo horror que se me envolve, não quis tê-lo;
todo pesadelo é sério, e sonho, vão...
Vejo a Terra diagonando em novo grau
Deglutindo a festa ao lado, lhe empoando,
e emanando um pútrido instante mortal!
Eu acordo: “- Ufa! Graças! Pesadelo!”
Não me agüento: chego às claras da janela
E tremendo inda lhe dou uma olhadela,
Há falanges e uma mão, ensangüentadas(!),
da vizinha! Morreu, ei-la esquartejada...
Um enjôo, um desmaio e estou no chão.
Todo horror que se me envolve, não quis tê-lo;
todo pesadelo é sério, e sonho, vão...
terça-feira, 9 de novembro de 2010
O Outro
Se minh'alma em meu espírito transfundo;
no profundo faz nascer um novo eu,
quem sou eu se dois em um vivo no mundo
oriundo junto a outro que nasceu?
Um é muito! Dois é quando me confundo
E se não difundo o meu de todo o seu
Sei que se desvaneceu por um segundo
pra fecundo lhe saber – me aconteceu!
Ponho em frente sempre quando me aparece
o meu ser único, de instintos chacais,
que no entanto é racional, vívido e douto.
Desfraldar-lhe tento, enfim, faço até prece!
Pois melhor sempre quis ser, que este ser, mas
como posso ser mais eu se sou o outro?
no profundo faz nascer um novo eu,
quem sou eu se dois em um vivo no mundo
oriundo junto a outro que nasceu?
Um é muito! Dois é quando me confundo
E se não difundo o meu de todo o seu
Sei que se desvaneceu por um segundo
pra fecundo lhe saber – me aconteceu!
Ponho em frente sempre quando me aparece
o meu ser único, de instintos chacais,
que no entanto é racional, vívido e douto.
Desfraldar-lhe tento, enfim, faço até prece!
Pois melhor sempre quis ser, que este ser, mas
como posso ser mais eu se sou o outro?
domingo, 7 de novembro de 2010
Solitário Negro
À noite, quando todos adormecem
e hei ínfimo e único em mim mesmo,
um astro como trespassasse a esmo
num eterno vazio, me estremece.
A Morte se me punge o pensamento
– o mesmo, no silêncio das respostas,
lhe tem como afeição – e é pressuposta
a cessação dos meus questionamentos.
Alvejo os céus, enquanto inerte às mãos
um revólver, o ardil, se refestela
dum solitário negro que me irrompe...
À cabeça o dirijo – à escuridão! –
no céu, brilha um cometa e me congela;
um telefone toca e me interrompe...
e hei ínfimo e único em mim mesmo,
um astro como trespassasse a esmo
num eterno vazio, me estremece.
A Morte se me punge o pensamento
– o mesmo, no silêncio das respostas,
lhe tem como afeição – e é pressuposta
a cessação dos meus questionamentos.
Alvejo os céus, enquanto inerte às mãos
um revólver, o ardil, se refestela
dum solitário negro que me irrompe...
À cabeça o dirijo – à escuridão! –
no céu, brilha um cometa e me congela;
um telefone toca e me interrompe...
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Se Te Espantas
Se algo te espanta na mudez
que resolvi por ter, num ponto
em que d’amor fui o mais tonto,
perdoa minha insensatez...
Se algo te espanta nesta ausência
afora a carne, ausência viva;
torna a saudade em ti, ativa,
conserva viva minha presença.
Que nem percebo; houvera em mim!
Moço da inércia, antes tão leino;
Castelo ocluso, de onde o reino
em trono amor, senta-se o fim.
Se algo te move e se agiganta
em devir triste, em desventuras,
revive e lembra da ternura
presente enfim, se algo te espanta...
que resolvi por ter, num ponto
em que d’amor fui o mais tonto,
perdoa minha insensatez...
Se algo te espanta nesta ausência
afora a carne, ausência viva;
torna a saudade em ti, ativa,
conserva viva minha presença.
Que nem percebo; houvera em mim!
Moço da inércia, antes tão leino;
Castelo ocluso, de onde o reino
em trono amor, senta-se o fim.
Se algo te move e se agiganta
em devir triste, em desventuras,
revive e lembra da ternura
presente enfim, se algo te espanta...
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Ofídica Virgem
Deleita o toque e às pálpebras deleita
Ver-te e sentir-te às retinas focadas.
Em seda grossa, a carne enviesada
Dos sorrisos, volúpias liquefeitas.
Acertas todo prumo ainda deitada
À graça, extenuada e satisfeita.
Tornas da pele, a mais fatal, eleita
Na areia de lençóis, colubreada.
Devolves-me o olhar, sibila, e chama.
Um chocalho perfura a minha mente,
retumba algo de amor e caio exangue,
sentindo, em teu deserto – a nossa cama –
ofídicas picadas, vorazmente,
fazer pulsar veneno onde era sangue...
Ver-te e sentir-te às retinas focadas.
Em seda grossa, a carne enviesada
Dos sorrisos, volúpias liquefeitas.
Acertas todo prumo ainda deitada
À graça, extenuada e satisfeita.
Tornas da pele, a mais fatal, eleita
Na areia de lençóis, colubreada.
Devolves-me o olhar, sibila, e chama.
Um chocalho perfura a minha mente,
retumba algo de amor e caio exangue,
sentindo, em teu deserto – a nossa cama –
ofídicas picadas, vorazmente,
fazer pulsar veneno onde era sangue...
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Grande Viagem
Busquei no mundo em passos sáfios a viagem.
Busquei nos gritos duma aragem, meios, fins.
Busquei sozinho e nunca tive uma mensagem
Que então pudesse me fulgir se fui ou vim.
Segui ganhando as ruas rudes; das paisagens
Pensei fugir; pensei morrer. Sair de mim.
Cansei buscar! Tentei enfim numa chantagem,
Ter, coagindo a natureza, o meu jardim.
Jardim sublime em que germino-me entre as flores
para existência do meu ser, minh’alma exposta:
motivo o qual os pés caminham sobre as dores
que fortalecem quando entendo então que a esmo
ganhar o mundo é ilusão. Tenho a resposta:
destas viagens, a maior, fora em mim mesmo!...
Busquei nos gritos duma aragem, meios, fins.
Busquei sozinho e nunca tive uma mensagem
Que então pudesse me fulgir se fui ou vim.
Segui ganhando as ruas rudes; das paisagens
Pensei fugir; pensei morrer. Sair de mim.
Cansei buscar! Tentei enfim numa chantagem,
Ter, coagindo a natureza, o meu jardim.
Jardim sublime em que germino-me entre as flores
para existência do meu ser, minh’alma exposta:
motivo o qual os pés caminham sobre as dores
que fortalecem quando entendo então que a esmo
ganhar o mundo é ilusão. Tenho a resposta:
destas viagens, a maior, fora em mim mesmo!...
domingo, 17 de outubro de 2010
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Aprisionado
Ao trono da obra eu sento.
Soltarei do abstrato o que se quer real.
Tento uma estrofe.
Ponho-me afastado.
Contesto cada milímetro.
E soam-me milímetros, apenas.
Não me acredito e me questiono.
Esta prisão desaventurada!
Pra ser feliz... só se fosse completo em preto e branco...
...em timbre suave e bem ouvido.
Tímido e carmim. Ah! Eu seria.
Faria falecidos todos os fantasmas em horas de riso;
mas ponho-me afastado,
e me carece um gênio...
Soltarei do abstrato o que se quer real.
Tento uma estrofe.
Ponho-me afastado.
Contesto cada milímetro.
E soam-me milímetros, apenas.
Não me acredito e me questiono.
Esta prisão desaventurada!
Pra ser feliz... só se fosse completo em preto e branco...
...em timbre suave e bem ouvido.
Tímido e carmim. Ah! Eu seria.
Faria falecidos todos os fantasmas em horas de riso;
mas ponho-me afastado,
e me carece um gênio...
Dos Brilhos e Ecos
Quando a última luz
cingir-lhes a escuridão
os povos solitários
longínquos, céleres – aos brados
terão da solidão
o eco que a produz.
Terão, nas vagas da luz,
um deslize de existência.
Se afastarão da sapiência,
e ter-se-ão, solitários
perante a cruz,
em rezas de ermitério.
Louvarão pelo mistério,
e por todos os outros,
aparentemente felizes
povos lindeiros:
serão chamados loucos,
desgraçados, aprendizes
andadeiros!...
Do tempo furtarão
a dificuldade das horas
que se transfazem em martírios
irrelevantes à solidão.
E surgirá o delírio,
dum vazio em que o eco de solidão
completava outrora...
E assim, sozinhos,
(em seus corações)
os reféns do atemporal,
caminharão sem tropeço,
por toda escuridão.
Terão carinho e apreço
pelos que em outro caminho,
- o da luz racional –
são moucos, tarecos
fechados aos ecos,
de incertos clarões:
os mais solitários,
perdidos,
ermitões...
cingir-lhes a escuridão
os povos solitários
longínquos, céleres – aos brados
terão da solidão
o eco que a produz.
Terão, nas vagas da luz,
um deslize de existência.
Se afastarão da sapiência,
e ter-se-ão, solitários
perante a cruz,
em rezas de ermitério.
Louvarão pelo mistério,
e por todos os outros,
aparentemente felizes
povos lindeiros:
serão chamados loucos,
desgraçados, aprendizes
andadeiros!...
Do tempo furtarão
a dificuldade das horas
que se transfazem em martírios
irrelevantes à solidão.
E surgirá o delírio,
dum vazio em que o eco de solidão
completava outrora...
E assim, sozinhos,
(em seus corações)
os reféns do atemporal,
caminharão sem tropeço,
por toda escuridão.
Terão carinho e apreço
pelos que em outro caminho,
- o da luz racional –
são moucos, tarecos
fechados aos ecos,
de incertos clarões:
os mais solitários,
perdidos,
ermitões...
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Do Compromisso
Compromisso em minha vida é anacrônico.
Planejado numa agenda desfolhada:
Não tem data, nem destino ou dia certo.
A segunda pode ser domingo ou sexta.
Pode estar fazendo frio absoluto
No solstício de verão.
Planejado numa agenda desfolhada:
Não tem data, nem destino ou dia certo.
A segunda pode ser domingo ou sexta.
Pode estar fazendo frio absoluto
No solstício de verão.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
A Casa Mal Assombrada
Por entre as entranhas
da Casa Assombrada
vivia, calada
minh’alma tacanha...
Na pele – a fachada
em que rugas pendem
no disforme alpendre –
ela está trancada...
O corpo a rejeita
(qual casa que expulsa
tristezas, repulsas
dum'alma imperfeita...)
Mas inda se habita
na casa – o meu corpo.
Um abalo torto
Treme-lhe e palpita.
Minh’alma se esconde.
Meu corpo estremece.
Nem a melhor prece
que há, me responde
Do escuro que dura,
do alarde indevoto!
Mais um terremoto!
A alma se fratura.
Em cacos e exangue
Roga por viver.
Serpeia sem ver.
Levanta-se: há sangue.
Enquanto adoece
E um choro lhe aperta
No sal se liberta!
Da casa esvanece...
No corpo – que é a mesma
tal “Casa Assombrada” –
não vive mais nada,
só resta avantesmas...
da Casa Assombrada
vivia, calada
minh’alma tacanha...
Na pele – a fachada
em que rugas pendem
no disforme alpendre –
ela está trancada...
O corpo a rejeita
(qual casa que expulsa
tristezas, repulsas
dum'alma imperfeita...)
Mas inda se habita
na casa – o meu corpo.
Um abalo torto
Treme-lhe e palpita.
Minh’alma se esconde.
Meu corpo estremece.
Nem a melhor prece
que há, me responde
Do escuro que dura,
do alarde indevoto!
Mais um terremoto!
A alma se fratura.
Em cacos e exangue
Roga por viver.
Serpeia sem ver.
Levanta-se: há sangue.
Enquanto adoece
E um choro lhe aperta
No sal se liberta!
Da casa esvanece...
No corpo – que é a mesma
tal “Casa Assombrada” –
não vive mais nada,
só resta avantesmas...
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Das Dores Que Bailam
Uma mulata! É como adentro sinto:
as dores vão sambando pelo corpo
e quando param de dançar pressinto
que no próximo mês estarei morto...
O samba vai tocando e então absorto
esqueço até da dor, (será que minto?)
Mas volta a ressoar um bumbo torto
que já volta a apagar com vinho tinto!
O álcool no salão embaça a dama
e as dores somem, mas acabo imundo,
Embriagado e sujo em minha cama...
— Quem tanta dor aguenta? Como pode?
Nem isto importa quando ouço lá fundo
setenta mil bandinhas de pagode...
as dores vão sambando pelo corpo
e quando param de dançar pressinto
que no próximo mês estarei morto...
O samba vai tocando e então absorto
esqueço até da dor, (será que minto?)
Mas volta a ressoar um bumbo torto
que já volta a apagar com vinho tinto!
O álcool no salão embaça a dama
e as dores somem, mas acabo imundo,
Embriagado e sujo em minha cama...
— Quem tanta dor aguenta? Como pode?
Nem isto importa quando ouço lá fundo
setenta mil bandinhas de pagode...
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
A Voz dos Calados
Quando o mundo retroceder de vez,
os mais fracos que estão,
os errantes, os sujos, reféns de monturo,
de vozes franzinas,
que ecoam no escuro,
voltarão à vida!
Trarão nos silêncios
a nova mensagem,
do amor e da paz, esquecida!
E a foice da morte, ainda a garimpo,
ainda atuante,
sibilará
nos becos, seus segredos;
plantará nos pseudolimpos,
a ferida, o medo,
a sânie constante...
Até quando o primeiro sol azul
se aquecer no horizonte!
E assim, os covardes ver-se-ão valentes
terão vozes, sem línguas nem dentes,
e sem pernas, pro coração andarão;
ribombarão
de seus pulsos plantados de tempo,
velhas canções, novíssimos ventos!
Ventos que lhes ressurjam, no entanto,
novos pulsos, batimentos!...
e em tempo, mil purezas adamitas!
E nova tarde, cairá,
em fervorosos ventos tantos
que de canções, palpitam...
E tudo será novo
bem trabalhado, nos ouvidos,
os destroços secarão – tudo esquecido!,
e a árvore nascerá pura de males!
Seus frutos, por todos comidos,
frescos e cheios de sementes de razões,
apagarão os gemidos
dos sobreviventes caules!
Cantarão em uníssono, portanto,
as emoções,
os frutos novos,
os novos povos,
e nos faremos voz!...
...que aqui, então e ainda morta e mansa
sob à escuridão da noite aflita,
perene e atroz, à folha se lança,
cantando pra esta Terra parasita...
os mais fracos que estão,
os errantes, os sujos, reféns de monturo,
de vozes franzinas,
que ecoam no escuro,
voltarão à vida!
Trarão nos silêncios
a nova mensagem,
do amor e da paz, esquecida!
E a foice da morte, ainda a garimpo,
ainda atuante,
sibilará
nos becos, seus segredos;
plantará nos pseudolimpos,
a ferida, o medo,
a sânie constante...
Até quando o primeiro sol azul
se aquecer no horizonte!
E assim, os covardes ver-se-ão valentes
terão vozes, sem línguas nem dentes,
e sem pernas, pro coração andarão;
ribombarão
de seus pulsos plantados de tempo,
velhas canções, novíssimos ventos!
Ventos que lhes ressurjam, no entanto,
novos pulsos, batimentos!...
e em tempo, mil purezas adamitas!
E nova tarde, cairá,
em fervorosos ventos tantos
que de canções, palpitam...
E tudo será novo
bem trabalhado, nos ouvidos,
os destroços secarão – tudo esquecido!,
e a árvore nascerá pura de males!
Seus frutos, por todos comidos,
frescos e cheios de sementes de razões,
apagarão os gemidos
dos sobreviventes caules!
Cantarão em uníssono, portanto,
as emoções,
os frutos novos,
os novos povos,
e nos faremos voz!...
...que aqui, então e ainda morta e mansa
sob à escuridão da noite aflita,
perene e atroz, à folha se lança,
cantando pra esta Terra parasita...
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Se Me Basto
Prometo pela inércia do meu corpo
e por toda inquietude de minh’alma,
que pra extorquir, da paz, rubis de calma
farei da Solitude um raro escopo!
Prometo e, num protesto, a ardor, contrário
a voz da Solitude me desdenha.
Diz da preciosa paz: – Pra que a obtenha
não bastará polí-la solitário...
– Eu só quero viver! Passar! Morrer!
E, só, ó paz! amá-la inteiramente!
– brados d’alma plangente de viver...
No seio, pois, se voz outra afastasse
a ideia de eremita e amar somente
a mim, talvez, só a mim não me bastasse!
e por toda inquietude de minh’alma,
que pra extorquir, da paz, rubis de calma
farei da Solitude um raro escopo!
Prometo e, num protesto, a ardor, contrário
a voz da Solitude me desdenha.
Diz da preciosa paz: – Pra que a obtenha
não bastará polí-la solitário...
– Eu só quero viver! Passar! Morrer!
E, só, ó paz! amá-la inteiramente!
– brados d’alma plangente de viver...
No seio, pois, se voz outra afastasse
a ideia de eremita e amar somente
a mim, talvez, só a mim não me bastasse!
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Ponho-me a Chorar
Ponho-me a chorar!
E estas gotas doces
verteriam rios
que se de amor fossem,
minha correnteza
a frio e certeza
encheria o globo
que seco e salobro,
se faria mar!
E inerte nas docas
como alma a afogar
então lembraria:
“Do amor fui-me um dia,
também, pororoca;
correntes de amar!"
(E se hoje sufoca
me ponho a chorar!)
E estas gotas doces
verteriam rios
que se de amor fossem,
minha correnteza
a frio e certeza
encheria o globo
que seco e salobro,
se faria mar!
E inerte nas docas
como alma a afogar
então lembraria:
“Do amor fui-me um dia,
também, pororoca;
correntes de amar!"
(E se hoje sufoca
me ponho a chorar!)
Tergiversante
Se entre a audácia e a timidez
estou sentado:
pro lado eu sorrio, cortês;
e corro de vez pr'outro lado..
estou sentado:
pro lado eu sorrio, cortês;
e corro de vez pr'outro lado..
No Tempo, No Vento
O alento que monta esta chuva.
A chuva montada no vento:
um cheiro de dor faz a curva;
um som virginal traz alento.
Um cheiro, um chio, um esgar:
a chuva no vento a montar,
molhando e levando o cinzento
início de dia: um momento
que nasce do vento, primeiro
e invade, e fareja, e certeiro
do peito se faz inspirar...
A chuva montada no vento:
um cheiro de dor faz a curva;
um som virginal traz alento.
Um cheiro, um chio, um esgar:
a chuva no vento a montar,
molhando e levando o cinzento
início de dia: um momento
que nasce do vento, primeiro
e invade, e fareja, e certeiro
do peito se faz inspirar...
A Passagem
A luz da Lua açoita, chicoteia
Meu torso com inacabáveis gumes
Sorvendo-me da carne todo o lume
que o espírito tremeluz,
bruxuleia...
Sua gravidade é vil, traciona forte
E saudosista arranca-me do chão
os pés da essência, à consecução
de luz clamando célere
mi’a morte!
Várias estrelas sentem e me rogam
— parecem tão vazias e franzinas —
ao espírito, longínquo,
vão e absorto.
Querem-me a luz! Encimadas se jogam:
— como pueris ribaltas tão meninas! —
mil purpurinas no ar;
e eu no chão... morto...
Meu torso com inacabáveis gumes
Sorvendo-me da carne todo o lume
que o espírito tremeluz,
bruxuleia...
Sua gravidade é vil, traciona forte
E saudosista arranca-me do chão
os pés da essência, à consecução
de luz clamando célere
mi’a morte!
Várias estrelas sentem e me rogam
— parecem tão vazias e franzinas —
ao espírito, longínquo,
vão e absorto.
Querem-me a luz! Encimadas se jogam:
— como pueris ribaltas tão meninas! —
mil purpurinas no ar;
e eu no chão... morto...
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Castiçais (Ao Meu Velório)
Do mais cálido ser, queimei de frio
como queimou minh'alma em toda lida
por todas estações, até o estio,
não triunfou d'invernos em minha vida...
Um vento frio é nada mais que vento
que o mais cálido ser soprou pra mim
para que então gelificado e enfim,
não fosse eu, pelo menos, num momento.
O talante inexiste neste corpo
como inexiste e é tão peremptório
o motivo no qual, ao meu velório,
lembrar-me-ão tão vivo (entanto morto)...
Confesso: tão mais vivos que inorgânicos
a animação, o desejo, e as vontades
inexistiram em mim, se babilônico,
e existiram sim! Se só em saudades...
Não sei por quê! Defesa, sim, talvez!
De não alquimiar dentro da pele
o que de amor produz só cardiocele,
o que achamos sentir com lucidez(!):
Os fogos corpulentos do desejo
só há nestas pessoas indefesas(!...),
pois quando enxergam fogaréus, eu vejo
apenas castiçais por sobre a mesa...
como queimou minh'alma em toda lida
por todas estações, até o estio,
não triunfou d'invernos em minha vida...
Um vento frio é nada mais que vento
que o mais cálido ser soprou pra mim
para que então gelificado e enfim,
não fosse eu, pelo menos, num momento.
O talante inexiste neste corpo
como inexiste e é tão peremptório
o motivo no qual, ao meu velório,
lembrar-me-ão tão vivo (entanto morto)...
Confesso: tão mais vivos que inorgânicos
a animação, o desejo, e as vontades
inexistiram em mim, se babilônico,
e existiram sim! Se só em saudades...
Não sei por quê! Defesa, sim, talvez!
De não alquimiar dentro da pele
o que de amor produz só cardiocele,
o que achamos sentir com lucidez(!):
Os fogos corpulentos do desejo
só há nestas pessoas indefesas(!...),
pois quando enxergam fogaréus, eu vejo
apenas castiçais por sobre a mesa...
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Poema Espelhado
Poema, feio és tu
possui sequer mensagem
fonema fraco qual és bem cru
apenas espelhado
flui, porém sem forma sua...
desconexo, é o poema, todavia
reflexo-poesia...
possui sequer mensagem
fonema fraco qual és bem cru
apenas espelhado
flui, porém sem forma sua...
desconexo, é o poema, todavia
reflexo-poesia...
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Há Sempre o Gosto
Um pouco de ti
eu era doce,
Um muito, salgado.
Um nada de ti
insípido. No tudo:
sabores
dum trago de amores!...
Minha língua
a mais agridoce que já tive,
ainda te lambisca,
ainda te escreve,
e teu gosto sempre ocorre:
da boca corre;
na mão escorre,
e pra folha vive...
eu era doce,
Um muito, salgado.
Um nada de ti
insípido. No tudo:
sabores
dum trago de amores!...
Minha língua
a mais agridoce que já tive,
ainda te lambisca,
ainda te escreve,
e teu gosto sempre ocorre:
da boca corre;
na mão escorre,
e pra folha vive...
Na Madrugada das Almas
Na madrugada das almas
não há sereno.
Senhoras, senhores
e baús acorrentados:
na madrugada de poeta,
sereno não há, tão frio.
Um timbre inaudível
não canta ou encanta.
Planta-se! E espantos
incrivelmente desfraldam...
Já me aceitei poeta
quando todos recolheram
dos olhos, suas almas...
não há sereno.
Senhoras, senhores
e baús acorrentados:
na madrugada de poeta,
sereno não há, tão frio.
Um timbre inaudível
não canta ou encanta.
Planta-se! E espantos
incrivelmente desfraldam...
Já me aceitei poeta
quando todos recolheram
dos olhos, suas almas...
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