Puseste a fantasia da tristeza
(porque a felicidade, sabes(!), és-te!)
Debruns para ludibriar puseste
mas não ludibriaste com destreza
pois um riso sublime e oculto vestes,
brilhando à frente a fronte em escureza,
bem como lantejoulas da beleza
te desfantasiando as sobrevestes!
Vieste amuada te querendo triste
mas nunca fostes, nem em solidão,
nem quando o desgosto te foi folião!
Vieste em fantasia; um rico chiste!...
Porém, num riso nu, o Coração
enfeitado, de tristeza, despiste!
"Quando nasce o amor, em si,
renasce, pois, nas coisas
e as cores são cirandas..."
Osvaldo Fernandes
quinta-feira, 22 de abril de 2010
As Emoções
-----------------------------------------------
“Se todo às emoções terás surgido
e se, Poeta, versas do vazio
ainda assim, sou mais que as emoções
ainda assim és nada em teus escritos...”
(Osvaldo Fernandes)
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Como tudo que existe nasce e morre,
pleitear às emoções o direito de crescimento e reprodução
faz parte, unicamente, de ti.
Aliás, contigo, tudo podes!
Elas não te comandam, não te machucam ou bajulam.
Elas não te ferem.
As emoções
apenas emoções são.
Tu, não as és!
Tu és o espaço no qual as emoções nascem.
Tu és o recipiente que as agregam, e as transformam e as surgem.
Tu és o que transfaz o nada em tudo.
Tu és o peito, a essência, o cerne e a consciência.
Maior que pensas, tu és...
e maior que sentes;
e muitíssimo maior
que és.
Tu és o espaço no qual as emoções nascem.
Tu és o recipiente que as agregam, e as transformam e as surgem.
Tu és o que transfaz o nada em tudo.
Tu és o peito, a essência, o cerne e a consciência.
Maior que pensas, tu és...
e maior que sentes;
e muitíssimo maior
que és.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
O Mito
I-
Perguntaste e desejaste, quem sou,
ditado, e nos versos dou-me empenhado:
Um forte! O val da fraqueza do homem
que na mitologia d'arte manda!
Um corpo adiamantado de cesuras
que fulge e que ao mesmo instante penetra
em toda sânie bolhada no Olimpo:
um penedo de carne semideus!
II-
A divindade cárcere do arbítrio!
O rorejante glóbulo vermelho
da ponta das três puas, dos três dentes
pungente e vil do justo Poseidon!
III-
Quem sou? o ar! Já poluído e inerte
que só nos dentes venenosos tem-se
zéfiro! vindo do ofídico escalpo
(este uivo sibilante) da Medusa!
Eu hei de sê-lo, e hei no mito está-lo!
Pois quer onipresente estar meu nume
como estivesse na Grécia antiquada
como, em Gaia, total viração fosse(!),
como inspirando-me pedra virasses!
IV-
Perguntaste quem sou!... Meia blasfêmia!
O que te empedernir, será quem sou!
Pois na mão tenho Zeus, e então te juro
pelo trovão, pelas gris nuvens súcias
e todo o poderio dos Titãs
que serei no teu pedregoso cerne
tão violenta e irascivelmente
uma escritura rubra de mil versos
que por blasfêmia, em sanha, te esculpi!
Perguntaste e desejaste, quem sou,
ditado, e nos versos dou-me empenhado:
Um forte! O val da fraqueza do homem
que na mitologia d'arte manda!
Um corpo adiamantado de cesuras
que fulge e que ao mesmo instante penetra
em toda sânie bolhada no Olimpo:
um penedo de carne semideus!
II-
A divindade cárcere do arbítrio!
O rorejante glóbulo vermelho
da ponta das três puas, dos três dentes
pungente e vil do justo Poseidon!
III-
Quem sou? o ar! Já poluído e inerte
que só nos dentes venenosos tem-se
zéfiro! vindo do ofídico escalpo
(este uivo sibilante) da Medusa!
Eu hei de sê-lo, e hei no mito está-lo!
Pois quer onipresente estar meu nume
como estivesse na Grécia antiquada
como, em Gaia, total viração fosse(!),
como inspirando-me pedra virasses!
IV-
Perguntaste quem sou!... Meia blasfêmia!
O que te empedernir, será quem sou!
Pois na mão tenho Zeus, e então te juro
pelo trovão, pelas gris nuvens súcias
e todo o poderio dos Titãs
que serei no teu pedregoso cerne
tão violenta e irascivelmente
uma escritura rubra de mil versos
que por blasfêmia, em sanha, te esculpi!
Mistério de Ser
Já fui Terra desbravada.
Cruzada de mil Colombos
Quadra pirata hasteada
Riqueza branca roubada
Segredos livres – ribombos!
Já fui desmatada selva.
Cachimbo de mamelucos.
Fui brumas em ar, charutos
negros dos verdes das relvas.
Segredos tristes – de luto!
Já fui oásis – Deserto –
racionado em dromedários
Fui corcova, lombos vários
Fui mesmo oásis deserto.
Segredos tão solitários!
Já fui o Centro da Terra.
Ao meu umbigo, devoto
Fui Pangéia, terremoto
Fui-me natureza em guerra
Nos segredos que denoto!
Hoje sou só pó, só chão
charco, lama, morte e fedo
esculpindo passos tredos
defuntado no meão
de tudo que fui: segredos...
Cruzada de mil Colombos
Quadra pirata hasteada
Riqueza branca roubada
Segredos livres – ribombos!
Já fui desmatada selva.
Cachimbo de mamelucos.
Fui brumas em ar, charutos
negros dos verdes das relvas.
Segredos tristes – de luto!
Já fui oásis – Deserto –
racionado em dromedários
Fui corcova, lombos vários
Fui mesmo oásis deserto.
Segredos tão solitários!
Já fui o Centro da Terra.
Ao meu umbigo, devoto
Fui Pangéia, terremoto
Fui-me natureza em guerra
Nos segredos que denoto!
Hoje sou só pó, só chão
charco, lama, morte e fedo
esculpindo passos tredos
defuntado no meão
de tudo que fui: segredos...
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Vocabulário
O meu vocabulário é Porcaria
alguns leitores – muitos deles laxos
(Não posso esta palavra, mas relaxo
pois preferem ‘preguiça’ em poesia
talvez porque na própria eles se acham!)
– não têm um dicionário à serventia
e nem sequer o leem, não há valia
as palavras velhuscas que eu encaixo...
Mal sabem que antiquado é tão mais novo
do que estes fabordões feitos do povo;
que até o mesmo léxico malogra...
Mas minhas porcarias, levo adiante
a fim de reviver relíquias dantes
que mortas pelo tempo aqui se logra!
alguns leitores – muitos deles laxos
(Não posso esta palavra, mas relaxo
pois preferem ‘preguiça’ em poesia
talvez porque na própria eles se acham!)
– não têm um dicionário à serventia
e nem sequer o leem, não há valia
as palavras velhuscas que eu encaixo...
Mal sabem que antiquado é tão mais novo
do que estes fabordões feitos do povo;
que até o mesmo léxico malogra...
Mas minhas porcarias, levo adiante
a fim de reviver relíquias dantes
que mortas pelo tempo aqui se logra!
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Preguiça
Machuca o cerne este animal dantesco:
um réptil quelônio que te habitas!
Um retentor de teu ideal fresco:
a escuridão; o estorvo – um parasita!
Segura os passos, põe-te medo e foge
pra mais profundo em ti, e lá se oculta.
Tu erras, quando o fazes metagoge
nos carmes que o compões, eis que resulta
O altíssono poeta modernista
de escritos que parecem de Pangeia
proferindo de si prosopopeias!
És tu que lhe dás vida! És tu o artista
carcomido por dentro. És tu que aquentas
as garras desta preguiça agourenta!
um réptil quelônio que te habitas!
Um retentor de teu ideal fresco:
a escuridão; o estorvo – um parasita!
Segura os passos, põe-te medo e foge
pra mais profundo em ti, e lá se oculta.
Tu erras, quando o fazes metagoge
nos carmes que o compões, eis que resulta
O altíssono poeta modernista
de escritos que parecem de Pangeia
proferindo de si prosopopeias!
És tu que lhe dás vida! És tu o artista
carcomido por dentro. És tu que aquentas
as garras desta preguiça agourenta!
terça-feira, 30 de março de 2010
Realidade Utópica
Ó sonho jamais visto! Se ao lado
orvalhos dos jardins do meu vizinho
como espelhos de um desejo esperado
refletisses o teu brando caminho!
Sonho espargido, pó de poesia,
és todo meu futuro carcomido!
Se não de languidez por ti puído
jamais cego e estacado então seria!
Por que em palavras, ó Sonho, timbrá-lo
na régia eternidade – eu te consigo,
como consigo o sol sendo-me amigo
mas não consigo enfim, sê-lo, tocá-lo!?...
Fosse no orvalho e ensejo, tu surgido
entre os jardins e toda esta avifauna
te encontraria fora de minh’alma
te perderia enfim, sem ter perdido!
________________________________________________
Engraçado. Eu fiz este poema para um vizinho.
Na verdade foi o complemento de um texto...
...onde falo sobre o vizinho, que nada mais é que meu sonho...
...como se meu sonho fosse um vizinho que nunca conheci.
Ele esta lá. Eu encho os olhos em seu jardim...
...mas não vicei com ele, ainda.
Talvez precisasse desligar-me dele para, enfim...
...tê-lo na realdade.
O texto encontra-se em meu outro blog.
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orvalhos dos jardins do meu vizinho
como espelhos de um desejo esperado
refletisses o teu brando caminho!
Sonho espargido, pó de poesia,
és todo meu futuro carcomido!
Se não de languidez por ti puído
jamais cego e estacado então seria!
Por que em palavras, ó Sonho, timbrá-lo
na régia eternidade – eu te consigo,
como consigo o sol sendo-me amigo
mas não consigo enfim, sê-lo, tocá-lo!?...
Fosse no orvalho e ensejo, tu surgido
entre os jardins e toda esta avifauna
te encontraria fora de minh’alma
te perderia enfim, sem ter perdido!
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Engraçado. Eu fiz este poema para um vizinho.
Na verdade foi o complemento de um texto...
...onde falo sobre o vizinho, que nada mais é que meu sonho...
...como se meu sonho fosse um vizinho que nunca conheci.
Ele esta lá. Eu encho os olhos em seu jardim...
...mas não vicei com ele, ainda.
Talvez precisasse desligar-me dele para, enfim...
...tê-lo na realdade.
O texto encontra-se em meu outro blog.
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domingo, 28 de março de 2010
Ao Nugget
Que me importa a vida
se não te puder,
Nugget,
mordiscar!
Se não te puder
liquefazer
na salivação que se faz infinda;
na salpicação que na língua
borbulham volúpias do sabor!
Se não te puder
que me importará!
Ó Nugget! Vinde à taberna da arcada!
Vinde! Derramai vossa gordura
em nossa fádica e corrupta boca!
Vinde! E tragais junto
em vossa mordida,
a nossa vida,
salivando...
se não te puder,
Nugget,
mordiscar!
Se não te puder
liquefazer
na salivação que se faz infinda;
na salpicação que na língua
borbulham volúpias do sabor!
Se não te puder
que me importará!
Ó Nugget! Vinde à taberna da arcada!
Vinde! Derramai vossa gordura
em nossa fádica e corrupta boca!
Vinde! E tragais junto
em vossa mordida,
a nossa vida,
salivando...
Vedes no Verde
"Ora vereis as belas musas - onde:"
procuradas nos galhos mais altivos;
sentadas e esperando-vos mais vivos,
em voo e pouso suave pelas frondes...
Das musas, vós tereis aquisitivos:
Beijai-as! – As mãos, nas copagens, ponde!
Tirareis os verdes véus que as esconde,
trareis convosco o belo completivo!
"Ora vereis as musas belas, certas"
alando as almas a terdes com o cume,
avante às galhas, verticais andanças!
Finalmente tereis musas corretas
Sim! Por terdes no verde todo alume
que não vedes, senão nas altas franças!
procuradas nos galhos mais altivos;
sentadas e esperando-vos mais vivos,
em voo e pouso suave pelas frondes...
Das musas, vós tereis aquisitivos:
Beijai-as! – As mãos, nas copagens, ponde!
Tirareis os verdes véus que as esconde,
trareis convosco o belo completivo!
"Ora vereis as musas belas, certas"
alando as almas a terdes com o cume,
avante às galhas, verticais andanças!
Finalmente tereis musas corretas
Sim! Por terdes no verde todo alume
que não vedes, senão nas altas franças!
sexta-feira, 26 de março de 2010
Nuvem e Torrente
No céu
uma nuvem
em forma de musa
sopra um coração.
Vejo esvoaçar sonhos
e todos me cabem!
De enleio, voejo-lhos,
num sobejo tê-los!
É quando um trovão
avisa-me a torrente de amor!
Embaixo disso tudo
me deixo, de braços abertos,
nas gotas de chuva
padecer!...
uma nuvem
em forma de musa
sopra um coração.
Vejo esvoaçar sonhos
e todos me cabem!
De enleio, voejo-lhos,
num sobejo tê-los!
É quando um trovão
avisa-me a torrente de amor!
Embaixo disso tudo
me deixo, de braços abertos,
nas gotas de chuva
padecer!...
quinta-feira, 25 de março de 2010
Velhice
Não vi a velhice chegar!
Não a vi espreitando
na decepção que se fez forte;
no desamor que pareceu morte
num coração amando
e logo deixando de amar...
Não vi a velhice chegar!
Não a vi no branquejo
dos meus cabelos
porque o único espelho
era o branco desejo
de não tropeçar...
Não vi a velhice chegar!
A velhice d'alma!
Hoje sinto esta descalma
me imbuir fortemente,
e eu triste, tristemente,
torno grisalhos os sonhos
e negra a realidade:
A velhice d'alma chegou!
E nos sonhos envelhecidos;
e naquelas memórias vis,
a realidade se fez nada;
a existência se fez laxa;
e o novo que eu quis
inda não desabrochou.
E não desabrochará
enquanto de espinhos
a flor for demasiadamente cheia;
a essência, de mente reprimida,
ainda que erroneamente repleta!...
A velhice chegou
e esta alma de poeta,
se revelando, bramou:
- Quando fui ouvida,
fiz dos teus sonhos,
meus versos:
novo universo
onde as quimeras
são reais
e a realidade
o maior sonho já vivido!
Não a vi espreitando
na decepção que se fez forte;
no desamor que pareceu morte
num coração amando
e logo deixando de amar...
Não vi a velhice chegar!
Não a vi no branquejo
dos meus cabelos
porque o único espelho
era o branco desejo
de não tropeçar...
Não vi a velhice chegar!
A velhice d'alma!
Hoje sinto esta descalma
me imbuir fortemente,
e eu triste, tristemente,
torno grisalhos os sonhos
e negra a realidade:
A velhice d'alma chegou!
E nos sonhos envelhecidos;
e naquelas memórias vis,
a realidade se fez nada;
a existência se fez laxa;
e o novo que eu quis
inda não desabrochou.
E não desabrochará
enquanto de espinhos
a flor for demasiadamente cheia;
a essência, de mente reprimida,
ainda que erroneamente repleta!...
A velhice chegou
e esta alma de poeta,
se revelando, bramou:
- Quando fui ouvida,
fiz dos teus sonhos,
meus versos:
novo universo
onde as quimeras
são reais
e a realidade
o maior sonho já vivido!
quarta-feira, 10 de março de 2010
O Poema
Quem dera, ter na vida, escrito fácil
O poema mais vivo, mais marcante
Vestido em smoking rútilo e grácil
Na passarela, em estofa exuberante!
Quem dera, as minhas mãos, na Flor do Lácio
Dedilhando Bilac, inebriante...
Quem dera, uma vez só, não ser pascácio
Colecionando pua - um coadjuvante!...
Quem dera o metro, a poesia exímia;
e fazer do meu nome metonímia
nas classes que se gozam do lirismo!
Quem dera-me poeta! E sem algema!
Co'alma nos dedos: divino poema
por vosso globo produzindo sismos!
O poema mais vivo, mais marcante
Vestido em smoking rútilo e grácil
Na passarela, em estofa exuberante!
Quem dera, as minhas mãos, na Flor do Lácio
Dedilhando Bilac, inebriante...
Quem dera, uma vez só, não ser pascácio
Colecionando pua - um coadjuvante!...
Quem dera o metro, a poesia exímia;
e fazer do meu nome metonímia
nas classes que se gozam do lirismo!
Quem dera-me poeta! E sem algema!
Co'alma nos dedos: divino poema
por vosso globo produzindo sismos!
terça-feira, 9 de março de 2010
Feição
Fitar na pele a poesia bela
quando em meus olhos tornarem flagrantes
sublimes traços vivos no semblante:
Entrar em transe no sorriso dela...
Deixar-me os olhos fitos, meliantes
roubarem as feições que se revelam
como arco-íris invadindo janelas
dos olhos que ora fitam, coruscantes!
Ver-se perdido – num instante infindo
nos traços fortes. E à bochecha vê-se
uma trincheira lírica formando...
Ter dela os traços: os versos mais lindos!
E ao rosto a poesia de onde lê-se
um Deus Poeta, sublime, versando...
quando em meus olhos tornarem flagrantes
sublimes traços vivos no semblante:
Entrar em transe no sorriso dela...
Deixar-me os olhos fitos, meliantes
roubarem as feições que se revelam
como arco-íris invadindo janelas
dos olhos que ora fitam, coruscantes!
Ver-se perdido – num instante infindo
nos traços fortes. E à bochecha vê-se
uma trincheira lírica formando...
Ter dela os traços: os versos mais lindos!
E ao rosto a poesia de onde lê-se
um Deus Poeta, sublime, versando...
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
O Beijo à Flor
Ó belo Beija-Flor, por que não voa
de volta à Flor, e espera teu ensejo?
Por que da Flor não conseguiste o beijo?
Ou bem, talvez, por que a deixaste à toa?
Mal sabes que há também, na Flor, o adejo
de quando suas folhas desgrilhoam
E assim, despetalada, se revoa
às nuvens pra buscar-te num voejo!
Mas levadas, as pétalas, no vento
voaram, Beija-Flor, pr’aquele sumo
deixado, dos teus beijos, ao relento!
Pairando cinzas, ao ar, como fumo:
o Beija-flor adejando tormento;
e a Flor, despetalada, sem ter rumo...
de volta à Flor, e espera teu ensejo?
Por que da Flor não conseguiste o beijo?
Ou bem, talvez, por que a deixaste à toa?
Mal sabes que há também, na Flor, o adejo
de quando suas folhas desgrilhoam
E assim, despetalada, se revoa
às nuvens pra buscar-te num voejo!
Mas levadas, as pétalas, no vento
voaram, Beija-Flor, pr’aquele sumo
deixado, dos teus beijos, ao relento!
Pairando cinzas, ao ar, como fumo:
o Beija-flor adejando tormento;
e a Flor, despetalada, sem ter rumo...
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Quem Dera Poder
Quem dera poder
A vida dos cravos!
Viver mais, bastassem,
apenas, todos os cautos intuitos.
Quem dera poder
menos poder, tudo.
Quem dera, contudo,
poder sobre o poder...
A vida dos cravos!
Viver mais, bastassem,
apenas, todos os cautos intuitos.
Quem dera poder
menos poder, tudo.
Quem dera, contudo,
poder sobre o poder...
Anonimato
Num cubículo abafadiço e claustro
Onde suas mãos dão vida a seu diploma:
As mesmas que engendram mil parnasos
As mesmas que são vãs – vivem de coma...
As doenças se vão! E ao que parece
Nos traços destas mãos são convolutas
Diminuem, subtraem seu metro
Vertendo-se nas fábulas minutas...
A vida passa, é lassa, descompassa.
Um diário se torna mais diário
E num piscar d’olhos, o acaso bel:
A morte chega – a luz me ultrapassa
Corta o carme – cacos de relicário:
Anjos de Luz me lendo lá do céu...
Onde suas mãos dão vida a seu diploma:
As mesmas que engendram mil parnasos
As mesmas que são vãs – vivem de coma...
As doenças se vão! E ao que parece
Nos traços destas mãos são convolutas
Diminuem, subtraem seu metro
Vertendo-se nas fábulas minutas...
A vida passa, é lassa, descompassa.
Um diário se torna mais diário
E num piscar d’olhos, o acaso bel:
A morte chega – a luz me ultrapassa
Corta o carme – cacos de relicário:
Anjos de Luz me lendo lá do céu...
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
A Prostituta
Eu amo esta rameira! Eu a amo tanto!
É jarro onde toda dor deposita
Objeto adornado – de quebranto –
Souvenir para um lírico eremita!...
Coxas em vírgula, pulando o canto
Da volúpia: deitada, a bonequita
Pequenina; bebendo do meu pranto
E derramando-se ao lençol, catita!
Elegante sopra, freme e esfumaça
Os torvelins do cerne – me arregaça
Toque; ponto final – apoteose!
Eu amo esta rameira! A prostituta:
Aliciante verve que debuta;
Na lira se insinua e faz que goze...
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
sábado, 16 de janeiro de 2010
O Galho
O galho não é mais tão esponjoso.
Suas folhas vão caindo; caindo vão.
E o solo viça, em mato, seu perdão
Espalhando-se em barro pegajoso.
O galho quebra e um baque estrondoso
caminha pelas seivas, pelo vão
entre a casca e a falta de verão
como teu coração floral, queimoso.
E os gravetos tão já horrorizados
clamam a Deus, a glória, a sorte, a vida
por uma raiz amadurecida.
Na qual se podem béis e acomodados
como se acomodou o galho à morte
e à Fonte se voltou florido e forte!
Do Que Dentro Está Cheio
Do que dentro está cheio, tenho medo
pois, que serei lá fora, se na sombra
caminho, e todos os passos alombam
de encontro ao invisível nada ledo...
O que está dentro, grita-me, ribomba
e não ouço mais tarde, nem tão cedo
deveras nunca ouvi: ouvidos quedos!
Mas mãos-tímpanos libram como pombas...
Columbinas, papos-de-ventos, quais
destas aves voando pelas mãos
os demônios, de mim, mostrar-se-ão?
Cá dentro estou tão cheio destes ais
e nem sei se friamente sou capaz:
lavar as mãos, que os eus, revelarão!
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Som dos Sinos
Por mil caminhos vadiando torto
meu passo calejado e tão franzino
não anda avante, mais parece morto
parado em porto, de chagas, ferino
Mas eis que no solto andejo, absorto,
ouvi junto ao meu passo ternos sinos
do amor, a tilintar sons de conforto
brincando o interior como um menino...
Vi-a sentada; seus olhos cravados
em mim e os meus nos dela. Repetindo
aquele estrondo das almas benquistas!
- Qual seu nome, ó Som Inusitado?
Questionei-o cá dentro, já sorrindo:
- Eu chamo-me Amor, à primeira vista!
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Um Céu Que Não Foi Céu
Olhando o céu, um astro-rei me irrompe:
Que céu poder-se-ia tais cometas
queimosos, tão vis, como baionetas
que a tudo punge; que a vida interrompe?
- Se podem! Como infames bombardetas
lançadas fortemente nos portais
das feridas; dos mais medonhos ais
trasmutando humanos em estatuetas!...
Eu questionando, já petrificado
quebrei, como num céu, fragmentado
de um coração, sangrando irresoluto!...
Olhando o céu... eu costumava vê-la!
Mas se quebrou, despenhou suas estrelas
n'alvorada de azuis cacos fajutos!
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Orangeburg
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Universo Incomum
Tempo parado ante um novo Universo:
cada minuto passa de hora em hora
É como estou - vogando tão disperso,
tão pando, como o tempo está agora...
Um novo céu, de feiúme absterso:
Onde as estrelas do teu rosto, coram
E os teus buracos negros são reversos
Expelindo teus brilhos como auroras!
Teus olhos: vermelhíssimo arrebol!
Tua tez compõe a quentura do sol
- Ó Altíssimo Universo incomum!
E eu numa Lua longínqua, sentado
Pensei em ser teu astro - um namorado! -
mas brilhando em teu céu, fui só mais um!...
Duas Vidas
Eu vivo em mim, de fato, duas vidas
Uma, de sonhos, lauta e esperançosa
que se tornam poemas lindos, prosas
N’abstração e em letras, concebidas...
Outra de realidade pustulosa
que cria estrofes vis e fementidas
gerando poesia genocida
como fosse inferno em apoteose!
Eu quero é viver na desesperança
e fazer com o Agora uma aliança
exterminando o que, de sonho, existe!
Eu não vou esperar nenhuma sorte!
Pois morrerei, antes que venha a morte
Da esperança que última se insiste!
Efêmero
Tempo que passa o tempo e nunca passa
realmente, se alquebrado no Agora...
Tempos que contam horas tão já escassas
e engolem toda cor que houvera outrora...
Tempo sem tempo: velho ou tão menino
percorrendo os playgrounds da memória.
Tempo que esvai, que é como desatino
desvairado em conjecturas de glórias...
Tempo que pinta o céu todos os dias
do azul dulcíssimo, de branco ou gris
ou preto – à negritude do infeliz...
No sol a despontar no dia-a-dia:
O efêmero, se reflete, fulgente;
amareleza em manhãs do presente...
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Sr. Certeza
Como juiz que adocica tiranos
com sua uvada velhusca, inda úvida:
levemente umedece toda dúvida
que emudecia a vida em longos anos!
Bate o martelo, e o vinho de sua mesa
Parece se liquefazer nos crânios
e explode ao ar: se fulgem novos planos
como jamais fulgiram na incerteza!
E a ré – eis a Dúvida - em frente ao júri
diz-se inocente enquanto assassinava
porventura uma ideia incerta algures...
E os cidadãos - os jurados - de avença,
(os mesmos que do vinho degustavam)
sem dúvida souberam sua sentença!...
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