Il fut un temps
au beau milieu de l'Amour.
Et au milieu de l'amour
il fut un temps.
J'ai perdu du temps
aimer l'amour...
et l'amour;
aimer le temps!...
"Quando nasce o amor, em si,
renasce, pois, nas coisas
e as cores são cirandas..."
Osvaldo Fernandes
quinta-feira, 10 de março de 2011
terça-feira, 8 de março de 2011
Soçobro
Soçobro
porque sobro e não me espalho.
Como espantalho dobro minha inércia
que cobra a beça à vida o sofrimento.
Soçobra o nauta
transformado em pedra.
Se pauta uma certeza é porque quebra
e cada febra emerge à maré alta:
é todo o nada negro num momento;
é mar inteiro, essência... e movimento..
porque sobro e não me espalho.
Como espantalho dobro minha inércia
que cobra a beça à vida o sofrimento.
Soçobra o nauta
transformado em pedra.
Se pauta uma certeza é porque quebra
e cada febra emerge à maré alta:
é todo o nada negro num momento;
é mar inteiro, essência... e movimento..
Relógio
Discuto com o relógio os tiques – brados:
que giro tão fugaz? Quantos invernos,
passariam por mim, se confiado,
dos gélidos, o gelo mais superno?
Mensuras meu calor quando eu hiberno!...
servindo-se dos mares mais pesados
ardores, que jamais, em mil infernos,
teria um tsunami de pecados!
Se todo o calor vivo é um lucivéu
postando-se supremo pelo céu,
que queres mensurar do sol, instância?
Tentas medir-me se estou acordado,
porém, do tempo quente ou do gelado,
só quem pode medir é minha ânsia!
que giro tão fugaz? Quantos invernos,
passariam por mim, se confiado,
dos gélidos, o gelo mais superno?
Mensuras meu calor quando eu hiberno!...
servindo-se dos mares mais pesados
ardores, que jamais, em mil infernos,
teria um tsunami de pecados!
Se todo o calor vivo é um lucivéu
postando-se supremo pelo céu,
que queres mensurar do sol, instância?
Tentas medir-me se estou acordado,
porém, do tempo quente ou do gelado,
só quem pode medir é minha ânsia!
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Liquefeita
Ela é assim,
imponente e líquida.
Vem vindo, vem vindo...
E tudo quanto a ela quero findo;
e quando quero muito nosso fim,
empurro o que há em mim com tanta força
e vejo que sou só cólera lassa...
pois quanto mais a empurro
mais ela transpassa...
imponente e líquida.
Vem vindo, vem vindo...
E tudo quanto a ela quero findo;
e quando quero muito nosso fim,
empurro o que há em mim com tanta força
e vejo que sou só cólera lassa...
pois quanto mais a empurro
mais ela transpassa...
Partiu-se-me
Partiu.
Não sei que idade eu tinha.
Se 18 ou mais.
Partiu. Deixou-me atrás
das tortuosas linhas.
Da senda que partiu
eu não vivi;
sequer andei,
mas inda ouço suas pegadas;
inda vejo-o misturar-se,
às flores dos atalhos.
Não sabe dos espinhos.
Não sei bem seus caminhos,
por onde andou, não sei
ou mesmo o quanto andado.
Mas sei quando partiu:
se para, eu sobrevivo;
se vive... estou parado...
Não sei que idade eu tinha.
Se 18 ou mais.
Partiu. Deixou-me atrás
das tortuosas linhas.
Da senda que partiu
eu não vivi;
sequer andei,
mas inda ouço suas pegadas;
inda vejo-o misturar-se,
às flores dos atalhos.
Não sabe dos espinhos.
Não sei bem seus caminhos,
por onde andou, não sei
ou mesmo o quanto andado.
Mas sei quando partiu:
se para, eu sobrevivo;
se vive... estou parado...
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Retirante da Alma

Os Retirantes - Cândido Portinari
Quando não calco os ossos da penúria,
E não ouço louvarem nas alturas
Os urubus à minha carne, em prece.
Não quero este sertão, nem me apetece,
Sentir deste temor, da vida dura,
Porque destas imagens de pintura
Nada mais que pintura se oferece.
Os seres cadavéricos que fito
Num tom meio sombrio – são só cores
mescladas por uma alma angustiante...
Que nem mesmo – confesso – fico aflito...
É que, por sorte, a todos os horrores
desta alma em que nasci, fui retirante!
Baú de Despejos
(a Reinaldo Luciano)
Fui saciar, no sebo, um dos meus vícios:
de ler, e me aprazer – me traz alento.
Achei perdido e rofo, no interstício,
um papiro amassado e poeirento...
Rutilava! Minh'alma o refletia.
Mal sabia: era a luz da sapiência.
Quão belo o manuscrito em poesia
feita em versos de mera competência!
Tirei-o do baú onde o encontrei
Li cada verso! Como os degustei
tal Rei da poesia a olhos nus:
A lira dum espírito doirado
qual parecia o Nume despejado
ou talvez fosse o próprio, no Baú!...
Fui saciar, no sebo, um dos meus vícios:
de ler, e me aprazer – me traz alento.
Achei perdido e rofo, no interstício,
um papiro amassado e poeirento...
Rutilava! Minh'alma o refletia.
Mal sabia: era a luz da sapiência.
Quão belo o manuscrito em poesia
feita em versos de mera competência!
Tirei-o do baú onde o encontrei
Li cada verso! Como os degustei
tal Rei da poesia a olhos nus:
A lira dum espírito doirado
qual parecia o Nume despejado
ou talvez fosse o próprio, no Baú!...
Ânsia de Amar
Numa ânsia de se amar sem limiar
o ser humano perde sua visão.
De mãos cheias na pá da piração
enterra a vida, cego e tumular!
Os olhos vão-se em ânsia e dispersão,
como se vão as mãos d'alma a apalpar
por vezes, o que nunca estará lá:
o grão do amor lavrado em solo são!
A ânsia de se amar nasce do Ego:
patrão dos olhos, iludidos, cegos;
nascente das suas gotas mais salgadas!
Mas se, caso ansiando o amor, me pego
choro o choro mais doce se o não nego;
lavro a melhor semente já plantada!...
o ser humano perde sua visão.
De mãos cheias na pá da piração
enterra a vida, cego e tumular!
Os olhos vão-se em ânsia e dispersão,
como se vão as mãos d'alma a apalpar
por vezes, o que nunca estará lá:
o grão do amor lavrado em solo são!
A ânsia de se amar nasce do Ego:
patrão dos olhos, iludidos, cegos;
nascente das suas gotas mais salgadas!
Mas se, caso ansiando o amor, me pego
choro o choro mais doce se o não nego;
lavro a melhor semente já plantada!...
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Teu Homem Perfeito
Um homem que te ame, que te adore
Que a sirva numa louça de Veneza
Um homem que enalteça tua beleza
Que por ti ria, grite, e também chore!
Um homem que não há na Natureza;
que mais pareça conto de folclore!...
que só por lhe sorrires comemore;
se vanglorie em ter uma princesa!...
Amar um homem, tê-lo por inteiro!
É o que mulher deseja em tempo infindo;
Charmoso, inteligente, rico... lindo!
Terá do amor supremo e verdadeiro
tal homem que há de amar-te. Todavia
se nunca o amares... tu? Nem por um dia!
Que a sirva numa louça de Veneza
Um homem que enalteça tua beleza
Que por ti ria, grite, e também chore!
Um homem que não há na Natureza;
que mais pareça conto de folclore!...
que só por lhe sorrires comemore;
se vanglorie em ter uma princesa!...
Amar um homem, tê-lo por inteiro!
É o que mulher deseja em tempo infindo;
Charmoso, inteligente, rico... lindo!
Terá do amor supremo e verdadeiro
tal homem que há de amar-te. Todavia
se nunca o amares... tu? Nem por um dia!
Longe, Longe...
Vives fora, longe...
longe...
onde um monge não medita;
onde o sol lhe traz mais cor
onde o toque se acredita
longe, longe!
Vives fora! Ó minha Flor.
Lá as flores não tremulam
cada nuvem se há pausada!
Mas a tua voz airada,
diamantes, quando ululas
sinto e vejo
longe, longe,
minha Flor.
Acolá, tão longe...
longe...
Há meu céu, o novo tempo;
há, por entre ventos, Vento,
que barganho com a aurora
pois lá fora,
longe, longe,
a distância é mais que a hora,
e o presente
é minha Flor.
Mais presente é ter o Vento,
“– Ó meu Vento ide longe,
longe, longe!
Guiai-me no céu, no lume:
esta Flor; e justaponde
teu perfume em meu perfume!
Transportai-me teus pedaços!”
pois que ter de ti o abraço,
longe, longe
só no tempo
em que o Vento
for o Amor...
longe...
onde um monge não medita;
onde o sol lhe traz mais cor
onde o toque se acredita
longe, longe!
Vives fora! Ó minha Flor.
Lá as flores não tremulam
cada nuvem se há pausada!
Mas a tua voz airada,
diamantes, quando ululas
sinto e vejo
longe, longe,
minha Flor.
Acolá, tão longe...
longe...
Há meu céu, o novo tempo;
há, por entre ventos, Vento,
que barganho com a aurora
pois lá fora,
longe, longe,
a distância é mais que a hora,
e o presente
é minha Flor.
Mais presente é ter o Vento,
“– Ó meu Vento ide longe,
longe, longe!
Guiai-me no céu, no lume:
esta Flor; e justaponde
teu perfume em meu perfume!
Transportai-me teus pedaços!”
pois que ter de ti o abraço,
longe, longe
só no tempo
em que o Vento
for o Amor...
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Fomentação
Criou-se desta orelha qual ungiste:
recordações em mim que – mal passadas –
tomaram vida, decolando aladas
de inconsciência rude que brandiste.
E alado um tempo, uma paixão, um chiste,
uma razão de ser, voando, aladas
trouxeram-me de volta, ruminadas
reminiscências da paixão mais triste!
E criou-se, desta orelha, fomentando,
a mais excelsa e suave cantoria
que possa o amor furtar da cotovia!
Criou-se!... E em mim o amor, criou-se, quando
levaste, das orelhas, tuas mãos
e sotrancaste nelas tua canção!
recordações em mim que – mal passadas –
tomaram vida, decolando aladas
de inconsciência rude que brandiste.
E alado um tempo, uma paixão, um chiste,
uma razão de ser, voando, aladas
trouxeram-me de volta, ruminadas
reminiscências da paixão mais triste!
E criou-se, desta orelha, fomentando,
a mais excelsa e suave cantoria
que possa o amor furtar da cotovia!
Criou-se!... E em mim o amor, criou-se, quando
levaste, das orelhas, tuas mãos
e sotrancaste nelas tua canção!
O Larápio
Arrancava de mim todos os quandos:
a base era buraco, o teto era asa
e tudo em brasas se me convergia
líquidos, como lavas, derramando
dentro às veias do corpo em todo quando.
Arrancava de mim toda energia:
do trabalho; da essência, até do sono
como se fosse o dono desta casa
erguida de imatura alvenaria
duma assaz construção desta energia.
Arrancava de mim toda atenção:
os pássaros; a cor – era o gatuno,
um sentimento uno de magia;
uma alquimia para o coração
que convergia em si, toda atenção...
Arranca, pois, Larápio, tudo é teu!
os devaneios; pensamentos, risos
a loucura, o juízo, a poesia!...
E faze acreditar que não morreu
o eu que havia em mim, quando fui teu...
a base era buraco, o teto era asa
e tudo em brasas se me convergia
líquidos, como lavas, derramando
dentro às veias do corpo em todo quando.
Arrancava de mim toda energia:
do trabalho; da essência, até do sono
como se fosse o dono desta casa
erguida de imatura alvenaria
duma assaz construção desta energia.
Arrancava de mim toda atenção:
os pássaros; a cor – era o gatuno,
um sentimento uno de magia;
uma alquimia para o coração
que convergia em si, toda atenção...
Arranca, pois, Larápio, tudo é teu!
os devaneios; pensamentos, risos
a loucura, o juízo, a poesia!...
E faze acreditar que não morreu
o eu que havia em mim, quando fui teu...
Entre Sonho
Sonhava dizer-te adeus neste dia:
O sol despontava fulvo lá fora
De luz e calor tua graça se ungia,
– Que linda, perfeita, a minha senhora!
Não pude mentir-te enquanto bem via
Descendo as escadas, naquela hora,
Tomada de sol, vestida de aurora
Meu peito pulava e amor eu sentia.
E o quanto eu sentia! E quanto te olhava!
Sentia e olhava. Olhava e sentia
A dor que causava quando eu dizia:
“– Estou indo embora. Adeus, ó Senhora
Tomada de sol, vestida de aurora!”
E enquanto eu partia, o peito pulava...
E então despertava. E a aurora nascia!...
Parida em teu rosto; untando os cabelos:
“– Se adeus te dissesse, Ó minha senhora
Serias tu, sonho, e eu só... pesadelo!...”
O sol despontava fulvo lá fora
De luz e calor tua graça se ungia,
– Que linda, perfeita, a minha senhora!
Não pude mentir-te enquanto bem via
Descendo as escadas, naquela hora,
Tomada de sol, vestida de aurora
Meu peito pulava e amor eu sentia.
E o quanto eu sentia! E quanto te olhava!
Sentia e olhava. Olhava e sentia
A dor que causava quando eu dizia:
“– Estou indo embora. Adeus, ó Senhora
Tomada de sol, vestida de aurora!”
E enquanto eu partia, o peito pulava...
E então despertava. E a aurora nascia!...
Parida em teu rosto; untando os cabelos:
“– Se adeus te dissesse, Ó minha senhora
Serias tu, sonho, e eu só... pesadelo!...”
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Espumas II
Qual fonte da amplidão e brota de friagem;
Da alvura luxuosa e alegre sendo a fronte
Vê-se parir na areia, advindas do horizonte,
As vagas, suas crianças, mães da paisagem:
Atônitos, honrando-a, as lapas mais os montes
de almiscarado brilho, esplende esta miragem:
Na falda um verde-cré alvíssimo interage
Mesmo antes que alvorada ao píncaro desponte...
E lá se vêm felizes, doudas, a mancheias,
trazendo a maresia, estando uma por uma,
dispersas pela vaga; estendidas na areia.
Sentado, da colina, escrevendo das frondes
Um colossal sorriso eu largo a olhar espumas:
as crianças do mar brincando um pique-esconde...
Da alvura luxuosa e alegre sendo a fronte
Vê-se parir na areia, advindas do horizonte,
As vagas, suas crianças, mães da paisagem:
Atônitos, honrando-a, as lapas mais os montes
de almiscarado brilho, esplende esta miragem:
Na falda um verde-cré alvíssimo interage
Mesmo antes que alvorada ao píncaro desponte...
E lá se vêm felizes, doudas, a mancheias,
trazendo a maresia, estando uma por uma,
dispersas pela vaga; estendidas na areia.
Sentado, da colina, escrevendo das frondes
Um colossal sorriso eu largo a olhar espumas:
as crianças do mar brincando um pique-esconde...
domingo, 16 de janeiro de 2011
Entre Chuvas e Ninos
Lá fora a chuva tenra nos ninava.
Em nosso leito, mais de ti sentia
O teu sorriso, a tua alegria!
Adormecias. Teu sonho eu sonhava.
Sonhava! E em teu cabelo agrisalhava
O negro jovial que amei um dia,
Lembrava que fitando-te eu sorria,
E quanto mais sorrindo, eu te lembrava...
Tudo passou! Mas quando a chuva canta
Mesmo que solitário no meu leito
Uma lembrança indene se agiganta:
O meu sorriso mágico e um nino;
A alvura das madeixas no meu peito;
O dia cinza. O amor. Tu... e um menino...
Em nosso leito, mais de ti sentia
O teu sorriso, a tua alegria!
Adormecias. Teu sonho eu sonhava.
Sonhava! E em teu cabelo agrisalhava
O negro jovial que amei um dia,
Lembrava que fitando-te eu sorria,
E quanto mais sorrindo, eu te lembrava...
Tudo passou! Mas quando a chuva canta
Mesmo que solitário no meu leito
Uma lembrança indene se agiganta:
O meu sorriso mágico e um nino;
A alvura das madeixas no meu peito;
O dia cinza. O amor. Tu... e um menino...
Som dos Sinos
Por mil caminhos vadiando torto,
de calejado passo, o pé franzino
se doravante, mais parece morto;
se preso à senda que passou, mofino...
Mas eis que ao solto andejo, só e absorto,
junto ao meu passo, tilintando sinos,
ouço do amor e dos seus sons, conforto,
no interior como brincasse um nino...
Vi-a sentada. Seu olhar fincado
no meu olhar, cá dentro ouvi bramindo
esta algazarra angelical benquista!
– Qual é seu nome, ó Carrilhão soado?
Interroguei-lhe adentro, já sorrindo:
– Chamam-me amor... quando à primeira vista!
de calejado passo, o pé franzino
se doravante, mais parece morto;
se preso à senda que passou, mofino...
Mas eis que ao solto andejo, só e absorto,
junto ao meu passo, tilintando sinos,
ouço do amor e dos seus sons, conforto,
no interior como brincasse um nino...
Vi-a sentada. Seu olhar fincado
no meu olhar, cá dentro ouvi bramindo
esta algazarra angelical benquista!
– Qual é seu nome, ó Carrilhão soado?
Interroguei-lhe adentro, já sorrindo:
– Chamam-me amor... quando à primeira vista!
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Do Lábaro Azul

Por sob olhar queimoso do astro-rei
coser todo suor que toma a leira,
dos que da terra adoram, na bandeira,
tal como um povo unido fosse lei.
Tingir, seja o plebeu ou seja o rei,
rainha ou tal a simples costureira
assim como atingisse a cor certeira,
num pano, todo orgulho de uma grei.
Fazer estremecer da haste a certeza
que as brisas trazem sonhos agoureiros
e tempos alvos nesta amareleza...
Contar vinte uma estrelas por aí
E ter certeza, todo brasileiro,
que há céu desde Oiapoque até o Chuí!
Cirurgia
Deitado nesta cama de doentes
um medo me resvala impetuoso.
Quisera eu ser de um mundo mais ditoso,
Pacífico, impoluto e quiescente!
Agora, em meio a tanto entorpecente,
profiro um credo, um rogo desejoso
de quando, como agora, desgostoso
sombrio eu era, ainda adolescente:
"– Venha buscar-me, ó Morte! Venha logo!"
Um choramingo eu ouço quando a rogo
deitado no meu leito, exausto e laxo.
Empunha um bisturi, começa o corte:
numa explosão de brilhos sinto a morte,
como gota escorrendo foice abaixo...
um medo me resvala impetuoso.
Quisera eu ser de um mundo mais ditoso,
Pacífico, impoluto e quiescente!
Agora, em meio a tanto entorpecente,
profiro um credo, um rogo desejoso
de quando, como agora, desgostoso
sombrio eu era, ainda adolescente:
"– Venha buscar-me, ó Morte! Venha logo!"
Um choramingo eu ouço quando a rogo
deitado no meu leito, exausto e laxo.
Empunha um bisturi, começa o corte:
numa explosão de brilhos sinto a morte,
como gota escorrendo foice abaixo...
Para Sempre
Fiquemos sós, querida.
Eu menos tu. Só de ti, só de nós.
Fiquemos livres, vivos! Fiquemos contidos nas nossas almas.
Deixemos que o corpo – templo da ignorância e da farta burriquice – aprenda, sozinho, como se morto inda existisse.
Fiquemos soltos e alados;
sossegados, perdidos ao hálito do vento,
que um torvelinho, no templo, se nos lembrará.
Fiquemos sós, querida.
E num próximo encontro, menos terno
o gozo que teu corpo me herdas,
num gemido silente, terás por eterno.
Nossas almas, completas de nós, serão a Natureza.
E do corpo, a torvelinhos, se ouvirão os uivos, se ficarmos sós.
Fiquemos sós, querida.
Para sempre.
Eu menos tu. Só de ti, só de nós.
Fiquemos livres, vivos! Fiquemos contidos nas nossas almas.
Deixemos que o corpo – templo da ignorância e da farta burriquice – aprenda, sozinho, como se morto inda existisse.
Fiquemos soltos e alados;
sossegados, perdidos ao hálito do vento,
que um torvelinho, no templo, se nos lembrará.
Fiquemos sós, querida.
E num próximo encontro, menos terno
o gozo que teu corpo me herdas,
num gemido silente, terás por eterno.
Nossas almas, completas de nós, serão a Natureza.
E do corpo, a torvelinhos, se ouvirão os uivos, se ficarmos sós.
Fiquemos sós, querida.
Para sempre.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Dos Peixes
Furtam meus olhos pelos seus trejeitos
O Olhudo, O Aquarela e O Nemo-velho.
Planam pelo aquário me chamando,
pousam suas barbatanas no escafandro
que lhes renova todo oxigênio.
Admirado, levo as mãos ao vidro,
(assim minha alma é, quando mostrada?)
não fogem, não se movem, ficam lindos!
E eu lembro a velha solidão que me enche
quando digo um olá e ouço três nadas...
O Olhudo, O Aquarela e O Nemo-velho.
Planam pelo aquário me chamando,
pousam suas barbatanas no escafandro
que lhes renova todo oxigênio.
Admirado, levo as mãos ao vidro,
(assim minha alma é, quando mostrada?)
não fogem, não se movem, ficam lindos!
E eu lembro a velha solidão que me enche
quando digo um olá e ouço três nadas...
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
O Acaso
Uma poeira presa
à quina da parede.
Passeia distraído
um cachorro ao seu lado.
O acaso é este cachorro
de poeira se enchendo.
É a transformação
de um destino ocorrendo.
Modifica-o com o tempo,
e o tira a origem, cor,
é o que o acaso faz!
(pro estímulo ou langor)
A poeira – o destino;
Nasceu sem liberdade!
O acaso torna fado
outras mil realidades.
E se eu fosse liberto
veria os seus sinais
sutis, que modificam
a minha vida inteira?
Não sei. Sou desligado
ao que vem na dianteira.
Não nasci pra cachorro,
mas sei: serei poeira...
à quina da parede.
Passeia distraído
um cachorro ao seu lado.
O acaso é este cachorro
de poeira se enchendo.
É a transformação
de um destino ocorrendo.
Modifica-o com o tempo,
e o tira a origem, cor,
é o que o acaso faz!
(pro estímulo ou langor)
A poeira – o destino;
Nasceu sem liberdade!
O acaso torna fado
outras mil realidades.
E se eu fosse liberto
veria os seus sinais
sutis, que modificam
a minha vida inteira?
Não sei. Sou desligado
ao que vem na dianteira.
Não nasci pra cachorro,
mas sei: serei poeira...
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Corpo Lançado
E lá se vai bailando pelo ar
com seu vestido prateado, a moça
do morro, da cidade, da favela,
bailando, cintilante, lá vai ela,
avista um morenão alto, simpático,
de cabeça lhe alveja o coração,
perfura-lhe o amor, queima, mutila
e pousa, úmida e rubra, pelo chão...
com seu vestido prateado, a moça
do morro, da cidade, da favela,
bailando, cintilante, lá vai ela,
avista um morenão alto, simpático,
de cabeça lhe alveja o coração,
perfura-lhe o amor, queima, mutila
e pousa, úmida e rubra, pelo chão...
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Mãos
Quando o teu corpo
eu encontrar, tateá-lo-ei
com as línguas das minhas mãos.
Com elas contarei
todos os meus sonhos!
Explanarei, suavemente,
sobre o meu amor por ti.
E quando, de mim, tudo
tiveres sabido
deixarei que as tuas
sejam meu ouvido
a desbravar teus segredos...
eu encontrar, tateá-lo-ei
com as línguas das minhas mãos.
Com elas contarei
todos os meus sonhos!
Explanarei, suavemente,
sobre o meu amor por ti.
E quando, de mim, tudo
tiveres sabido
deixarei que as tuas
sejam meu ouvido
a desbravar teus segredos...
Papel em Branco
Em um papel também renasce a vida.
Saem sons que de sonâncias evoluem
mediante emoções que afora fluem
ora no branco e ora cintilando...
A natureza é um poço de mudança.
Ora está noite, ora está luzida.
Assim que sou, enquanto estou versando.
Em branco só o que fica é a esperança
de mostrar emoção, fazê-los tê-la,
pois que em mim passa o dia, e tudo fora
também passa emoção, sentir, beleza:
tudo onde é branco nasce uma mensagem
como nascesse em nós, mil paisagens
como não vendo eu pudesse revê-la,
e se pintasse em nós, a Natureza!
Disso só soube ao espiar o céu:
A noite escreve imagens nas estrelas
enquanto escrevo letras no papel...
Saem sons que de sonâncias evoluem
mediante emoções que afora fluem
ora no branco e ora cintilando...
A natureza é um poço de mudança.
Ora está noite, ora está luzida.
Assim que sou, enquanto estou versando.
Em branco só o que fica é a esperança
de mostrar emoção, fazê-los tê-la,
pois que em mim passa o dia, e tudo fora
também passa emoção, sentir, beleza:
tudo onde é branco nasce uma mensagem
como nascesse em nós, mil paisagens
como não vendo eu pudesse revê-la,
e se pintasse em nós, a Natureza!
Disso só soube ao espiar o céu:
A noite escreve imagens nas estrelas
enquanto escrevo letras no papel...
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Angústia
Uma ânsia, um enjôo, falta de ar!
Vejo a Terra diagonando em novo grau
Deglutindo a festa ao lado, lhe empoando,
e emanando um pútrido instante mortal!
Eu acordo: “- Ufa! Graças! Pesadelo!”
Não me agüento: chego às claras da janela
E tremendo inda lhe dou uma olhadela,
Há falanges e uma mão, ensangüentadas(!),
da vizinha! Morreu, ei-la esquartejada...
Um enjôo, um desmaio e estou no chão.
Todo horror que se me envolve, não quis tê-lo;
todo pesadelo é sério, e sonho, vão...
Vejo a Terra diagonando em novo grau
Deglutindo a festa ao lado, lhe empoando,
e emanando um pútrido instante mortal!
Eu acordo: “- Ufa! Graças! Pesadelo!”
Não me agüento: chego às claras da janela
E tremendo inda lhe dou uma olhadela,
Há falanges e uma mão, ensangüentadas(!),
da vizinha! Morreu, ei-la esquartejada...
Um enjôo, um desmaio e estou no chão.
Todo horror que se me envolve, não quis tê-lo;
todo pesadelo é sério, e sonho, vão...
terça-feira, 9 de novembro de 2010
O Outro
Se minh'alma em meu espírito transfundo;
no profundo faz nascer um novo eu,
quem sou eu se dois em um vivo no mundo
oriundo junto a outro que nasceu?
Um é muito! Dois é quando me confundo
E se não difundo o meu de todo o seu
Sei que se desvaneceu por um segundo
pra fecundo lhe saber – me aconteceu!
Ponho em frente sempre quando me aparece
o meu ser único, de instintos chacais,
que no entanto é racional, vívido e douto.
Desfraldar-lhe tento, enfim, faço até prece!
Pois melhor sempre quis ser, que este ser, mas
como posso ser mais eu se sou o outro?
no profundo faz nascer um novo eu,
quem sou eu se dois em um vivo no mundo
oriundo junto a outro que nasceu?
Um é muito! Dois é quando me confundo
E se não difundo o meu de todo o seu
Sei que se desvaneceu por um segundo
pra fecundo lhe saber – me aconteceu!
Ponho em frente sempre quando me aparece
o meu ser único, de instintos chacais,
que no entanto é racional, vívido e douto.
Desfraldar-lhe tento, enfim, faço até prece!
Pois melhor sempre quis ser, que este ser, mas
como posso ser mais eu se sou o outro?
domingo, 7 de novembro de 2010
Solitário Negro
À noite, quando todos adormecem
e hei ínfimo e único em mim mesmo,
um astro como trespassasse a esmo
num eterno vazio, me estremece.
A Morte se me punge o pensamento
– o mesmo, no silêncio das respostas,
lhe tem como afeição – e é pressuposta
a cessação dos meus questionamentos.
Alvejo os céus, enquanto inerte às mãos
um revólver, o ardil, se refestela
dum solitário negro que me irrompe...
À cabeça o dirijo – à escuridão! –
no céu, brilha um cometa e me congela;
um telefone toca e me interrompe...
e hei ínfimo e único em mim mesmo,
um astro como trespassasse a esmo
num eterno vazio, me estremece.
A Morte se me punge o pensamento
– o mesmo, no silêncio das respostas,
lhe tem como afeição – e é pressuposta
a cessação dos meus questionamentos.
Alvejo os céus, enquanto inerte às mãos
um revólver, o ardil, se refestela
dum solitário negro que me irrompe...
À cabeça o dirijo – à escuridão! –
no céu, brilha um cometa e me congela;
um telefone toca e me interrompe...
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Se Te Espantas
Se algo te espanta na mudez
que resolvi por ter, num ponto
em que d’amor fui o mais tonto,
perdoa minha insensatez...
Se algo te espanta nesta ausência
afora a carne, ausência viva;
torna a saudade em ti, ativa,
conserva viva minha presença.
Que nem percebo; houvera em mim!
Moço da inércia, antes tão leino;
Castelo ocluso, de onde o reino
em trono amor, senta-se o fim.
Se algo te move e se agiganta
em devir triste, em desventuras,
revive e lembra da ternura
presente enfim, se algo te espanta...
que resolvi por ter, num ponto
em que d’amor fui o mais tonto,
perdoa minha insensatez...
Se algo te espanta nesta ausência
afora a carne, ausência viva;
torna a saudade em ti, ativa,
conserva viva minha presença.
Que nem percebo; houvera em mim!
Moço da inércia, antes tão leino;
Castelo ocluso, de onde o reino
em trono amor, senta-se o fim.
Se algo te move e se agiganta
em devir triste, em desventuras,
revive e lembra da ternura
presente enfim, se algo te espanta...
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