quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Revelação


Ah! Como amar a poesia, o carme
que não sou eu! Que não aceito a dor
de versos maculados dum pavor?
Como, de fato, posso revelar-me
poeta, de lirismo ocre, amador?

E como amar os versos que eu não fiz?
Ou se fiz, não se parecem meu verso?
Como, dentro de um espírito disperso
e imerso na poesia que eu não quis,
poder fazer-me parte do Universo?

Serei somente mais um ser que, em parte
Sente e escreve, reprime e cria... NADA?
Ou tudo que se cria é uma nonada
que se engendra do vazio da arte
e se desfaz, na folha, estatelada?

O que eu quero mesmo é coisa nenhuma!
Ser-me flocos fátuos, brilhando todo!...
com sentimento, diluído em lodo,
cativo a cavalgar por entre as brumas;
câncer oculto, tufo em linfonodos!...

Quem sabe um andarilho da poesia,
daqueles que com uma vil caneta,
aperta a tinta, faz chover cometas
no céu vil, tumular do dia-a-dia
fazendo a alma queimar todo planeta!...

Quem sabe, um nada bem cheio de tudo!
Um doudo, amalucado, o desvario!
Que cinge em verso quente e verso frio;
Que na ponta do lápis, assim, mudo,
muda o nada pro tudo, do vazio!

Quem sabe, seja só linha fadada,
A percorrer os olhos dos leitores,
E rutilar imagens d’alma, amores,
Pintadas no papel, bruxuleadas
em versos que aparentam-se indolores!?

Quem sabe? Eu não sei! Só quero estar,
nas mensagens que fiz, de modo errado,
vislumbrando um poeta mal formado
que não existe em mim, mas que se há
no carme, em versos, todo entrelinhado!

Ah! No dia que amar poesia,
o carme me dirá do que não li!
Assim como os pedaços que verti
na folha, esquartejados, saberiam:
no ponto final só eu quem morri!

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