Criou-se desta orelha qual ungiste:
recordações em mim que – mal passadas –
tomaram vida, decolando aladas
de inconsciência rude que brandiste.
E alado um tempo, uma paixão, um chiste,
uma razão de ser, voando, aladas
trouxeram-me de volta, ruminadas
reminiscências da paixão mais triste!
E criou-se, desta orelha, fomentando,
a mais excelsa e suave cantoria
que possa o amor furtar da cotovia!
Criou-se!... E em mim o amor, criou-se, quando
levaste, das orelhas, tuas mãos
e sotrancaste nelas tua canção!
"Quando nasce o amor, em si,
renasce, pois, nas coisas
e as cores são cirandas..."
Osvaldo Fernandes
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
O Larápio
Arrancava de mim todos os quandos:
a base era buraco, o teto era asa
e tudo em brasas se me convergia
líquidos, como lavas, derramando
dentro às veias do corpo em todo quando.
Arrancava de mim toda energia:
do trabalho; da essência, até do sono
como se fosse o dono desta casa
erguida de imatura alvenaria
duma assaz construção desta energia.
Arrancava de mim toda atenção:
os pássaros; a cor – era o gatuno,
um sentimento uno de magia;
uma alquimia para o coração
que convergia em si, toda atenção...
Arranca, pois, Larápio, tudo é teu!
os devaneios; pensamentos, risos
a loucura, o juízo, a poesia!...
E faze acreditar que não morreu
o eu que havia em mim, quando fui teu...
a base era buraco, o teto era asa
e tudo em brasas se me convergia
líquidos, como lavas, derramando
dentro às veias do corpo em todo quando.
Arrancava de mim toda energia:
do trabalho; da essência, até do sono
como se fosse o dono desta casa
erguida de imatura alvenaria
duma assaz construção desta energia.
Arrancava de mim toda atenção:
os pássaros; a cor – era o gatuno,
um sentimento uno de magia;
uma alquimia para o coração
que convergia em si, toda atenção...
Arranca, pois, Larápio, tudo é teu!
os devaneios; pensamentos, risos
a loucura, o juízo, a poesia!...
E faze acreditar que não morreu
o eu que havia em mim, quando fui teu...
Entre Sonho
Sonhava dizer-te adeus neste dia:
O sol despontava fulvo lá fora
De luz e calor tua graça se ungia,
– Que linda, perfeita, a minha senhora!
Não pude mentir-te enquanto bem via
Descendo as escadas, naquela hora,
Tomada de sol, vestida de aurora
Meu peito pulava e amor eu sentia.
E o quanto eu sentia! E quanto te olhava!
Sentia e olhava. Olhava e sentia
A dor que causava quando eu dizia:
“– Estou indo embora. Adeus, ó Senhora
Tomada de sol, vestida de aurora!”
E enquanto eu partia, o peito pulava...
E então despertava. E a aurora nascia!...
Parida em teu rosto; untando os cabelos:
“– Se adeus te dissesse, Ó minha senhora
Serias tu, sonho, e eu só... pesadelo!...”
O sol despontava fulvo lá fora
De luz e calor tua graça se ungia,
– Que linda, perfeita, a minha senhora!
Não pude mentir-te enquanto bem via
Descendo as escadas, naquela hora,
Tomada de sol, vestida de aurora
Meu peito pulava e amor eu sentia.
E o quanto eu sentia! E quanto te olhava!
Sentia e olhava. Olhava e sentia
A dor que causava quando eu dizia:
“– Estou indo embora. Adeus, ó Senhora
Tomada de sol, vestida de aurora!”
E enquanto eu partia, o peito pulava...
E então despertava. E a aurora nascia!...
Parida em teu rosto; untando os cabelos:
“– Se adeus te dissesse, Ó minha senhora
Serias tu, sonho, e eu só... pesadelo!...”
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Espumas II
Qual fonte da amplidão e brota de friagem;
Da alvura luxuosa e alegre sendo a fronte
Vê-se parir na areia, advindas do horizonte,
As vagas, suas crianças, mães da paisagem:
Atônitos, honrando-a, as lapas mais os montes
de almiscarado brilho, esplende esta miragem:
Na falda um verde-cré alvíssimo interage
Mesmo antes que alvorada ao píncaro desponte...
E lá se vêm felizes, doudas, a mancheias,
trazendo a maresia, estando uma por uma,
dispersas pela vaga; estendidas na areia.
Sentado, da colina, escrevendo das frondes
Um colossal sorriso eu largo a olhar espumas:
as crianças do mar brincando um pique-esconde...
Da alvura luxuosa e alegre sendo a fronte
Vê-se parir na areia, advindas do horizonte,
As vagas, suas crianças, mães da paisagem:
Atônitos, honrando-a, as lapas mais os montes
de almiscarado brilho, esplende esta miragem:
Na falda um verde-cré alvíssimo interage
Mesmo antes que alvorada ao píncaro desponte...
E lá se vêm felizes, doudas, a mancheias,
trazendo a maresia, estando uma por uma,
dispersas pela vaga; estendidas na areia.
Sentado, da colina, escrevendo das frondes
Um colossal sorriso eu largo a olhar espumas:
as crianças do mar brincando um pique-esconde...
domingo, 16 de janeiro de 2011
Entre Chuvas e Ninos
Lá fora a chuva tenra nos ninava.
Em nosso leito, mais de ti sentia
O teu sorriso, a tua alegria!
Adormecias. Teu sonho eu sonhava.
Sonhava! E em teu cabelo agrisalhava
O negro jovial que amei um dia,
Lembrava que fitando-te eu sorria,
E quanto mais sorrindo, eu te lembrava...
Tudo passou! Mas quando a chuva canta
Mesmo que solitário no meu leito
Uma lembrança indene se agiganta:
O meu sorriso mágico e um nino;
A alvura das madeixas no meu peito;
O dia cinza. O amor. Tu... e um menino...
Em nosso leito, mais de ti sentia
O teu sorriso, a tua alegria!
Adormecias. Teu sonho eu sonhava.
Sonhava! E em teu cabelo agrisalhava
O negro jovial que amei um dia,
Lembrava que fitando-te eu sorria,
E quanto mais sorrindo, eu te lembrava...
Tudo passou! Mas quando a chuva canta
Mesmo que solitário no meu leito
Uma lembrança indene se agiganta:
O meu sorriso mágico e um nino;
A alvura das madeixas no meu peito;
O dia cinza. O amor. Tu... e um menino...
Som dos Sinos
Por mil caminhos vadiando torto,
de calejado passo, o pé franzino
se doravante, mais parece morto;
se preso à senda que passou, mofino...
Mas eis que ao solto andejo, só e absorto,
junto ao meu passo, tilintando sinos,
ouço do amor e dos seus sons, conforto,
no interior como brincasse um nino...
Vi-a sentada. Seu olhar fincado
no meu olhar, cá dentro ouvi bramindo
esta algazarra angelical benquista!
– Qual é seu nome, ó Carrilhão soado?
Interroguei-lhe adentro, já sorrindo:
– Chamam-me amor... quando à primeira vista!
de calejado passo, o pé franzino
se doravante, mais parece morto;
se preso à senda que passou, mofino...
Mas eis que ao solto andejo, só e absorto,
junto ao meu passo, tilintando sinos,
ouço do amor e dos seus sons, conforto,
no interior como brincasse um nino...
Vi-a sentada. Seu olhar fincado
no meu olhar, cá dentro ouvi bramindo
esta algazarra angelical benquista!
– Qual é seu nome, ó Carrilhão soado?
Interroguei-lhe adentro, já sorrindo:
– Chamam-me amor... quando à primeira vista!
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