quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ultimogênito


Finda-se aqui o sentimento tristonho
De um sonhador, que já morto de fome
fez da esperança seu único nome
por achar comestível qualquer sonho!

Finda-se, pois, aqui, defronte a morte
Aquilo qual achava, em si, seu sismo;
E engrenagem da vida - seu lirismo:
tremor que deitaria contrafortes!

Findam-se aqui - em versos - os meus versos
E findam-se felizes, ternamente
Porque, de sonhos cheios, toda mente
Carece sintonia do Universo!

Finda-se aqui, meu poeta - o eu-lírico!
Com a lança duma falta de ensejo
fincada no arcabouço do desejo
fingido, inverossímil, tolo e empírico!...

Morro-me à poesia, nasço homem
e deixo o último verso pra saudade;
minh’alma voga inteira na vontade
de não ter mais quimeras que me domem!

Morro pra tudo! E renasço ordinário
Divorciado do lirismo culto.
Da realdade - a me tornar avulto -
versejo à boca, e não dum dicionário!...

Morro! Meu sentir não se desespera
Pois sei, não serve ao mundo em que eu existo
e sei saber, por isso é que desisto
e abraço forte a vida que me espera!...

Morri! Nem sinto-lhe a falta, poeta
pois caminhei de encontro ao que queria
deixei meu sonho, à folha, em revelia;
e minh’alma, de vãs quimeras, quieta!

Poeta! Pegue o poema, autografe-o
postumamente! E solte-se de mim!
Que o ultimogênito poema, enfim
findou, publicado em seu epitáfio!...

Morto, Poeta, eu sei já o que fazer
- não mais em versos, ou sonhos d’outrora -
Vou conjugar os verbos cá de fora
sendo o sujeito que não pude ser!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, viaje comigo.