"Quando nasce o amor, em si,
renasce, pois, nas coisas
e as cores são cirandas..."
Osvaldo Fernandes
sábado, 30 de maio de 2009
A Beleza De Todas As Eras
Contemplo aos meus,
os olhos teus,
e são estes que violentamente
penetram-me n’alma clemente,
como doces punhais,
e exauram-me os ais.
Adentram pomposamente aos dantes fechados
sulcos feridos e até então inflamados!...
E é quando a minudente cova visitas,
e a mesma inflamas
de tua pulcra chama;
Os cristalinos, então salientes
e admirados pela beleza pungente
que de ti emana,
casquejam-me em ver-te
e verter-te
na mais salutar lira
de brilhosa safira...
E me faz saber-te
a mais quista intrusa
da mais confusa
viagem insólita de mim.
A graça do meu pulsar carmim.
E enfim
Por ti, enterneço
E logo, estupefato, me pergunto
quão fui do olhar, defunto!...
Quão fui do belo acaso, sem apreço!
Meu terno olhar que já te venera,
sabe-te fruto do exotismo
há-te minha quimera:
meu incólume abismo;
minha nova era!
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Tens
Tens a idade qual quiseres;
a beleza, por Deus -
em imanente abundância -
esmerada.
Tens o olhar que convieres;
o sol, quando nos olhos embarcam
e refletem-te, em nós -
tempero e pura - temperatura
Tens os tons do olhar de cura;
o ozônio que o lar falta;
a camada malta
por dentre toda.
Inda és altiva candura
Tens a boca que almejares;
os sonhos comestíveis
orvalhados tão em quaisquer
mais aveludados beijares.
Tens o mote abstrato
do poeta; substrato intocável
das mais incônscias
sinestesias
Tens em mãos a fantasia
tens-me toda poesia.
Expresso de Suas Cores
Vejo-a em vermelho e rosa
O vermelho é poética prosa
Em seda leve de poesia
O rosa; tem cheiro de fogo
em ventania
que se eleva
e me enleva
por toda espinha; meu engodo!...
Espinalmente
afere
Eis qu’então eferente fere
ansiosamente
o filho carente;
que a sentir é grato ao Grand Père!...
Cores que abrilhantam a tez de você
Fortes como amônia
Leves como azuis-bebê!
Sabor intangível; macedônia!
E, a toda íris se purpureja
Arquiteta o céu
Pondo o arco por sob o véu
Este, que nunca dantes fora parco
em qualquer menestrel
que somente a bordeja
inundado em seu próprio charco...
Errônea Beleza
A vós
que me lerdes
apenas em beleza
São sóis
que incineram
minha incerteza
Arrebóis
que brilham meu ego
e cegos
contruirdes como em lego
cada trecho piegas
do torto caminho do poeta
E mudos
com a voraz autocrítica,
arquitetardes na poesia
uma fantasia:
A lindeza carmim
de versos
por vós lidos
como surdos arlequins!
Desvenerai vossas visões!
Que somenos é o meu atraente!
Vultoso são-me apenas versos vertentes
manifestados
em plurais corações.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Poesia na foto
Ao ver-te
retalho-me em cacos de aurora
minh'alma: tão reluzente em ter-te;
tal como em outrora
donde vertia a lira
em pergaminhos doirados
de versos-safira
aos teus fios encaracolados.
Seu sorriso confina
seu rosto de moça
sua pele tão fina
su'alma menina
A vejo, poetisa
daqui deste lado
sinto-lhe os olores
e fico encantado
com toda fereza
que me magnetiza
em todas as cores
de sua beleza.
Já muito me importo
ainda que aprecie
somente uma foto.
Do Soneto Que Voa Liberto
Não se prenda a estes vis invejosos
Com fereza, fruste toda ética
Das es-me-ra-das li-cen-ças poé-ti-cas
Dos e-neas-sí-la-bos po-de-ro-sos
Use toda forma de nenhures
Todas as métricas dissonantes
Torne-se fraudes em meliantes
Aprisionando versos algures
Viva! Voeje, rouxinol-rima!
Bata as asas, doravante e acima!
Encare o papel tão sobranceiro!
E quando o canto se espalhar, pouse
E neste soneto anarquista; ouse!
Sinta su’alma enlevar primeiro...
terça-feira, 19 de maio de 2009
Nunca mais
Não! Nunca mais
não quero ofegar com o ar
nem afogar com o mar;
não quero andanças
sequer lembranças;
não quero, à espreita, paz;
nem ânsia, nem 'ais'.
Não quero bolinar o esqueleto
a ponto de animar
o já inanimado
esquema eleito;
não quero feito,
desfeito ou defeito
Não quero mente;
verdades, mentiras,
dor de dente,
amor de crente,
solidão, saudade
Não quero tudo
e nem nada;
não quero sorrir
nem palhaçada,
circo, Shakespeare, sarcasmo;
não quero o vil do senil marasmo
Não quero inteligentes
nem dementes
sequer o saber!
Não quero nada seu
nem tu, eles, nós;
nem mesmo eu
Não quero estar incompleto
não quero teto
não quero neto
sequer afeto
Não quero morrer
e também
não quero viver
com ou sem
aquém ou além
Não quero ser
nem estar, ser
poeta, pateta
amar
Não quero matemática
química, nem fazer história
muito menos, nela, glória;
não quero geografia
nem ciência
não quero consciência
nem pensar;
descansar
Só quero apenas
reticências...
na paz
de nunca mais.
Sáturos
Perambula em meu lar
da relva rente de igapó
e vagueia o olhar
por sobre a floresta
rústica e aparente funesta
qual lhe fosse de cór
cada vida incesta
Os chifres sempre à frente
a reflorestar com o vil véu
que se mantém por sobre o mangue
onde o guaiamu clemente
roga aos céus
pelo seu sangue.
Assim, o sátiro com pernas de cabra
pulula os infestos de outrora
ao arboreto - que então chora
"- Que não abra
a caixa de Pandora!"
Copioso, pelos caules, berra -
Já ribombe embora,
a elétrica serra.
domingo, 17 de maio de 2009
Ofício: Conspirar.
Tudo conspira
em favor
do labor.
Tudo conspira
no labor
em favor
Do mesquinho,
Do gabarola pacato
da fofoca maciça
do puxa-saco
e da preguiça
Tudo conspira
e compila
o labor
ao ser sem valor
Na labuta,
mais me vale,
a prostituta.
Esta tem pudor,
Sr. Diretor!
Meu horrível Barcarola
É pra já
um jato
de cola
no meu 'barcarola'
É pra já
antes que me recolha:
colar a folha;
cortar o mar
e de novo versar
É pra já
seguir o Augusto
sei qu'é muito custo
igual versejar
(pretensão se comparar)
Mas é pra já
Dos Anjos, um obrigado!
Mergulho profundo
neste lírico mundo
e me hei afogado
em barcarolar.
As musas
Ó! Estes orvalhos d'alma
que ao meu riso, é geratriz
carvalho liso da floresta entusiasta
donde a belezaria se espalma
numa flórula locomotriz
que de encontro a nós nos basta!
Ah! Estes pingos de sonhos!
Estendei vosso verde olhar
por sobre nosso fascínio!
Divas de semblantes risonhos
que nos prendestes no flébil cortejar
e atraístes de nós, vosso domínio!
O beijo, qu’em vãos pensamentos,
abstraíra-nos das vis imagens
e nos impregnara o indubitável sentir
de etéreos alentos
conforme seus hálitos - trazidos em aragem -
no toque hidrato, fizeram-nos fruir...
Que é das cascas ilusórias?
que é dos estares incompletos?
Onde as ligações nunca feitas?
onde só o belo que se enfeita?
onde os gris semblantes? onde os coxos andares?
onde nossos, em tê-las, pesares?
Vós haveis!
Tal qual a inexistência
de vós
em nossa fádica consciência...
Vós sois, não somenos
fisionomia prazenteira exclusas
Mas sois assim, já de vossos estares
a nós, tão buenos
Tão lisonjeiras e completas musas!
De todos nossos amares!...
sexta-feira, 8 de maio de 2009
sábado, 2 de maio de 2009
Ser livre
Livro-me de ser preso
Prendo-me à minha liberdade
Sou sabiá mudo
Sou maestro surdo
Sou escravo da verdade
Ó! Liberdade!
Porque te acalantas
e não te espantas
ao deixares me tomar?
Digo-te incontinente:
Um amor morreu por outro
deixando-me imponente.
Não te espantes, sentes
tua ação perante sufoco.
Afugenta-te d'outrem
impregna-te no verso
E homenageio a ti, meu interior
meu poeta
livre e trovador.
Amar o amor
A distância rés
entre amar e amor
é sintaxe
O amor não acaba;
amar talvez
o amor, não tem furo
é substantivo;
amar, tem pretérito, tem futuro
é verbo ativo
Portanto
tanto amor
por amar tanto
e com ardor
é o próprio amor
Amar não pára o coração
Deixar de amar
é apenas opção
de nosso próprio amor
de nossa própria ação.
Efeito borboleta
O acaso
como sutis marolas
provocando efeitos
torrenciais
O descaso
como ondas gigantes
delatando defeitos
impessoais
O desígnio
desenredado
nas areias
duma ampulheta
O tempo
houve inexpedito
e sem nexo:
efeito borboleta.
À poetisa
De que me serve
rimar e versar
se não te houveres, Verve
a poetizar
na excentricidade?
Tais versos a alvejar
minha tenra altividade
faz-me espreitar
em embaraço
ou talvez,
poetisa-Verve,
fade-me realmente inspirar.
Ficar-me-ia possesso
e ter-me-ia em chatice
se te não versares
se me não rimares
se tu não existisses.
Saí de mim
Ao despertar
dormeci
era eu, sem me estar
Era eu, unicamente
procurando-me
entre o mundo e a mente
Era eu, lacônico
no real;
e difuso, no platônico
Era eu, e eu
me vi
e não me vim
eis que estava; e não estive
em mim.
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