sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A Prostituta


Eu amo esta rameira! Eu a amo tanto!
É jarro onde toda dor deposita
Objeto adornado – de quebranto –
Souvenir para um lírico eremita!...

Coxas em vírgula, pulando o canto
Da volúpia: deitada, a bonequita
Pequenina; bebendo do meu pranto
E derramando-se ao lençol, catita!

Elegante sopra, freme e esfumaça
Os torvelins do cerne – me arregaça
Toque; ponto final – apoteose!

Eu amo esta rameira! A prostituta:
Aliciante verve que debuta;
Na lira se insinua e faz que goze...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Conjúgio


Casei com a poesia...
e fiz amor com os versos.
Hoje, uma estrofe me disse:

"- Há pedras no caminho..."

Pois então, pulo vírgulas...
no intuito de um amor perene...

sábado, 16 de janeiro de 2010

O Galho


O galho não é mais tão esponjoso.
Suas folhas vão caindo; caindo vão.
E o solo viça, em mato, seu perdão
Espalhando-se em barro pegajoso.

O galho quebra e um baque estrondoso
caminha pelas seivas, pelo vão
entre a casca e a falta de verão
como teu coração floral, queimoso.

E os gravetos tão já horrorizados
clamam a Deus, a glória, a sorte, a vida
por uma raiz amadurecida.

Na qual se podem béis e acomodados
como se acomodou o galho à morte
e à Fonte se voltou florido e forte!

Do Que Dentro Está Cheio


Do que dentro está cheio, tenho medo
pois, que serei lá fora, se na sombra
caminho, e todos os passos alombam
de encontro ao invisível nada ledo...

O que está dentro, grita-me, ribomba
e não ouço mais tarde, nem tão cedo
deveras nunca ouvi: ouvidos quedos!
Mas mãos-tímpanos libram como pombas...

Columbinas, papos-de-ventos, quais
destas aves voando pelas mãos
os demônios, de mim, mostrar-se-ão?

Cá dentro estou tão cheio destes ais
e nem sei se friamente sou capaz:
lavar as mãos, que os eus, revelarão!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Som dos Sinos


Por mil caminhos vadiando torto
meu passo calejado e tão franzino
não anda avante, mais parece morto
parado em porto, de chagas, ferino

Mas eis que no solto andejo, absorto,
ouvi junto ao meu passo ternos sinos
do amor, a tilintar sons de conforto
brincando o interior como um menino...

Vi-a sentada; seus olhos cravados
em mim e os meus nos dela. Repetindo
aquele estrondo das almas benquistas!

- Qual seu nome, ó Som Inusitado?
Questionei-o cá dentro, já sorrindo:
- Eu chamo-me Amor, à primeira vista!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um Céu Que Não Foi Céu


Olhando o céu, um astro-rei me irrompe:
Que céu poder-se-ia tais cometas
queimosos, tão vis, como baionetas
que a tudo punge; que a vida interrompe?

- Se podem! Como infames bombardetas
lançadas fortemente nos portais
das feridas; dos mais medonhos ais
trasmutando humanos em estatuetas!...

Eu questionando, já petrificado
quebrei, como num céu, fragmentado
de um coração, sangrando irresoluto!...

Olhando o céu... eu costumava vê-la!
Mas se quebrou, despenhou suas estrelas
n'alvorada de azuis cacos fajutos!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Orangeburg


Um professor de geografia uma vez me falou:
- Conhece Orangeburg?
E eu respondi:
- Sim! É o lugar onde
o hamburguer que nos alimenta
é tão laranja
como o alvorecer em cena
levando embora a noite...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Vejo

Vejo em teus pés
os cacos vermelhos
inda derramando...

Vejo ferida
vagar, sem saída
não cicatrizando...

Junto-me à morte.
Esquartejo a sorte
que nunca goteja!...

Perco minha vida
escureço minh'alma
e não mais me resto...

Universo Incomum


Tempo parado ante um novo Universo:
cada minuto passa de hora em hora
É como estou - vogando tão disperso,
tão pando, como o tempo está agora...

Um novo céu, de feiúme absterso:
Onde as estrelas do teu rosto, coram
E os teus buracos negros são reversos
Expelindo teus brilhos como auroras!

Teus olhos: vermelhíssimo arrebol!
Tua tez compõe a quentura do sol
- Ó Altíssimo Universo incomum!

E eu numa Lua longínqua, sentado
Pensei em ser teu astro - um namorado! -
mas brilhando em teu céu, fui só mais um!...

Duas Vidas


Eu vivo em mim, de fato, duas vidas
Uma, de sonhos, lauta e esperançosa
que se tornam poemas lindos, prosas
N’abstração e em letras, concebidas...

Outra de realidade pustulosa
que cria estrofes vis e fementidas
gerando poesia genocida
como fosse inferno em apoteose!

Eu quero é viver na desesperança
e fazer com o Agora uma aliança
exterminando o que, de sonho, existe!

Eu não vou esperar nenhuma sorte!
Pois morrerei, antes que venha a morte
Da esperança que última se insiste!

Efêmero


Tempo que passa o tempo e nunca passa
realmente, se alquebrado no Agora...
Tempos que contam horas tão já escassas
e engolem toda cor que houvera outrora...

Tempo sem tempo: velho ou tão menino
percorrendo os playgrounds da memória.
Tempo que esvai, que é como desatino
desvairado em conjecturas de glórias...

Tempo que pinta o céu todos os dias
do azul dulcíssimo, de branco ou gris
ou preto – à negritude do infeliz...

No sol a despontar no dia-a-dia:
O efêmero, se reflete, fulgente;
amareleza em manhãs do presente...

Sem Vida


Vejo em teus pés
os cacos vermelhos
inda derramando...

Vejo ferida
vagar, sem saída
não cicatrizando...

Junto-me à morte.
Esquartejo a sorte
que nunca goteja!...

Perco minha vida
escureço minh'alma
e não mais me resto...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sr. Certeza


Como juiz que adocica tiranos
com sua uvada velhusca, inda úvida:
levemente umedece toda dúvida
que emudecia a vida em longos anos!

Bate o martelo, e o vinho de sua mesa
Parece se liquefazer nos crânios
e explode ao ar: se fulgem novos planos
como jamais fulgiram na incerteza!

E a ré – eis a Dúvida - em frente ao júri
diz-se inocente enquanto assassinava
porventura uma ideia incerta algures...

E os cidadãos - os jurados - de avença,
(os mesmos que do vinho degustavam)
sem dúvida souberam sua sentença!...