terça-feira, 30 de março de 2010

Realidade Utópica

Ó sonho jamais visto! Se ao lado
orvalhos dos jardins do meu vizinho
como espelhos de um desejo esperado
refletisses o teu brando caminho!

Sonho espargido, pó de poesia,
és todo meu futuro carcomido!
Se não de languidez por ti puído
jamais cego e estacado então seria!

Por que em palavras, ó Sonho, timbrá-lo
na régia eternidade – eu te consigo,
como consigo o sol sendo-me amigo
mas não consigo enfim, sê-lo, tocá-lo!?...

Fosse no orvalho e ensejo, tu surgido
entre os jardins e toda esta avifauna
te encontraria fora de minh’alma
te perderia enfim, sem ter perdido!
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Engraçado. Eu fiz este poema para um vizinho.
Na verdade foi o complemento de um texto...
...onde falo sobre o vizinho, que nada mais é que meu sonho...
...como se meu sonho fosse um vizinho que nunca conheci.

Ele esta lá. Eu encho os olhos em seu jardim...
...mas não vicei com ele, ainda.
Talvez precisasse desligar-me dele para, enfim...
...tê-lo na realdade.

O texto encontra-se em meu outro blog.
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domingo, 28 de março de 2010

Ao Nugget

Que me importa a vida
se não te puder,
Nugget,
mordiscar!

Se não te puder
liquefazer
na salivação que se faz infinda;
na salpicação que na língua
borbulham volúpias do sabor!

Se não te puder
que me importará!

Ó Nugget! Vinde à taberna da arcada!
Vinde! Derramai vossa gordura
em nossa fádica e corrupta boca!

Vinde! E tragais junto
em vossa mordida,
a nossa vida,
salivando...

Vedes no Verde

"Ora vereis as belas musas - onde:"
procuradas nos galhos mais altivos;
sentadas e esperando-vos mais vivos,
em voo e pouso suave pelas frondes...

Das musas, vós tereis aquisitivos:
Beijai-as! – As mãos, nas copagens, ponde!
Tirareis os verdes véus que as esconde,
trareis convosco o belo completivo!

"Ora vereis as musas belas, certas"
alando as almas a terdes com o cume,
avante às galhas, verticais andanças!

Finalmente tereis musas corretas
Sim! Por terdes no verde todo alume
que não vedes, senão nas altas franças!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Nuvem e Torrente

No céu
uma nuvem
em forma de musa
sopra um coração.

Vejo esvoaçar sonhos
e todos me cabem!
De enleio, voejo-lhos,
num sobejo tê-los!

É quando um trovão
avisa-me a torrente de amor!
Embaixo disso tudo
me deixo, de braços abertos,
nas gotas de chuva
padecer!...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Velhice

Não vi a velhice chegar!
Não a vi espreitando
na decepção que se fez forte;
no desamor que pareceu morte
num coração amando
e logo deixando de amar...

Não vi a velhice chegar!
Não a vi no branquejo
dos meus cabelos
porque o único espelho
era o branco desejo
de não tropeçar...

Não vi a velhice chegar!
A velhice d'alma!
Hoje sinto esta descalma
me imbuir fortemente,
e eu triste, tristemente,
torno grisalhos os sonhos
e negra a realidade:

A velhice d'alma chegou!
E nos sonhos envelhecidos;
e naquelas memórias vis,
a realidade se fez nada;
a existência se fez laxa;
e o novo que eu quis
inda não desabrochou.

E não desabrochará
enquanto de espinhos
a flor for demasiadamente cheia;
a essência, de mente reprimida,
ainda que erroneamente repleta!...

A velhice chegou
e esta alma de poeta,
se revelando, bramou:

- Quando fui ouvida,
fiz dos teus sonhos,
meus versos:
novo universo
onde as quimeras
são reais
e a realidade
o maior sonho já vivido!

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Poema

Quem dera, ter na vida, escrito fácil
O poema mais vivo, mais marcante
Vestido em smoking rútilo e grácil
Na passarela, em estofa exuberante!

Quem dera, as minhas mãos, na Flor do Lácio
Dedilhando Bilac, inebriante...
Quem dera, uma vez só, não ser pascácio
Colecionando pua - um coadjuvante!...

Quem dera o metro, a poesia exímia;
e fazer do meu nome metonímia
nas classes que se gozam do lirismo!

Quem dera-me poeta! E sem algema!
Co'alma nos dedos: divino poema
por vosso globo produzindo sismos!

terça-feira, 9 de março de 2010

Feição

Fitar na pele a poesia bela
quando em meus olhos tornarem flagrantes
sublimes traços vivos no semblante:
Entrar em transe no sorriso dela...

Deixar-me os olhos fitos, meliantes
roubarem as feições que se revelam
como arco-íris invadindo janelas
dos olhos que ora fitam, coruscantes!

Ver-se perdido – num instante infindo
nos traços fortes. E à bochecha vê-se
uma trincheira lírica formando...

Ter dela os traços: os versos mais lindos!
E ao rosto a poesia de onde lê-se
um Deus Poeta, sublime, versando...