domingo, 11 de dezembro de 2011

O Natal

Ah! O Natal.
Não o Natal dos jingles;
dos judeus, dos muçulmanos...
Não o Natal do nascimento de Jesus, de Javé,
João, Josias, Josué, Juca;
dos esfomeados, dos fartos, dos fatos,
dos amedrontados perus.

Aliás, sempre odiei peru.

O meu Natal!...
Onde as meias são rogos e qualquer barulho é de intruso...
— única época em que intrusos são bem-vindos.
Onde carrinhos vermelhos viraram sinônimos de azar.
Onde as mentiras fazem realmente bem.

(Ou não:
"— Papai Noel tá pobre este ano, meu filho..."
"— Mas ele nem joga no bicho como você, papai.")


Teve esta vez, nesta rua outrora repleta de crianças, onde um cometa passou em pleno Natal.
Rodopiava pelo céu o júbilo maior daqueles que creem:
o barbudo vermelho, autenticado aos nossos olhos.
Meu irmão, eterno esmagador de sonhos, dissera: “— É só um cometa.”
Mas inda assim, ignorando-o como se ignora um presságio de traição, continuei a viajar junto a outras crianças. Diziam: “é ele!” e tão logo estávamos especulando sobre sonho e realidade; trenós brilhantes e renas...
Uns mostrando o quão sensacionais eram seus brinquedos,
outros invejando os presentes alheios.

Ah! Meu Natal!
Pisca-pisca das lembranças do irreal.
Tem um cheiro de rabanada (e de avó);
um gosto adocicado de infância,
e esta pitada salgada de desilusão:

Ah, meu irmão... se cometas existem
é por este Natal que tudo se revela:
pode ser que não...


Osvaldo Fernandes

Um comentário:

Por favor, viaje comigo.