quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O Beijo à Flor

Ó belo Beija-Flor, por que não voa
de volta à Flor, e espera teu ensejo?
Por que da Flor não conseguiste o beijo?
Ou bem, talvez, por que a deixaste à toa?

Mal sabes que há também, na Flor, o adejo
de quando suas folhas desgrilhoam
E assim, despetalada, se revoa
às nuvens pra buscar-te num voejo!

Mas levadas, as pétalas, no vento
voaram, Beija-Flor, pr’aquele sumo
deixado, dos teus beijos, ao relento!

Pairando cinzas, ao ar, como fumo:
o Beija-flor adejando tormento;
e a Flor, despetalada, sem ter rumo...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Quem Dera Poder

Quem dera poder
A vida dos cravos!
Viver mais, bastassem,
apenas, todos os cautos intuitos.

Quem dera poder
menos poder, tudo.
Quem dera, contudo,
poder sobre o poder...

Anonimato

Num cubículo abafadiço e claustro
Onde suas mãos dão vida a seu diploma:
As mesmas que engendram mil parnasos
As mesmas que são vãs – vivem de coma...

As doenças se vão! E ao que parece
Nos traços destas mãos são convolutas
Diminuem, subtraem seu metro
Vertendo-se nas fábulas minutas...

A vida passa, é lassa, descompassa.
Um diário se torna mais diário
E num piscar d’olhos, o acaso bel:

A morte chega – a luz me ultrapassa
Corta o carme – cacos de relicário:
Anjos de Luz me lendo lá do céu...