sábado, 1 de agosto de 2009

Solidão


Como filhote de olhos rutilantes
que afago com amor e lhes desejo
o lume que me alumbra (de sobejo)
é a solitude que se faz atuante

Viceja em minhas eras, sem limites
meu vácuo quebrantado em amiúde
transforma parco, sem mais atitude
meu ser, que em solitude, se admite

Filhote meu que ladra ineloquente
e se és tão racional quanto as carícias
- desvelo... mais parece excrementícia! -
que comporias o ânimo abducente?

Que me gatunarias meu furor
deixando-me impotente em todas eras?
A sarna do amor, também alteras
em vil vazio, a coçar cabal dor?

Mil vazios de completa pelagem
é assim que a solitude se alumia
e faz varrer, de mim, como um cão guia
meu eu, em me tirando a alunissagem...

E não mais brilho em mim; nem como lua!
Nem como estrelas... me torno penumbra
não mais viajo e toda vida é úmbria
debruada em minha solidão crua...

E ao me iludir e se ter afagada
mi'alma se fez canil, assim tão só
e até meu fim... até que eu vire pó
levar-te-ei, de mim, minha cachorrada...

Um comentário:

  1. Gostei muito do jeito que falou da solidão no texto, uma visão que nunca tinha tido antes do sentimento (ou, carência de).

    Maravilhoso como todos os outros que li aqui
    Beijos

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